Alessandra F. Conde da Silva, Thiago Gabriel Machado dos Santos
{"title":"Deus da “transcendência desviada\"","authors":"Alessandra F. Conde da Silva, Thiago Gabriel Machado dos Santos","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44673","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44673","url":null,"abstract":"Desde a sua publicação, em 1959, a Crônica da casa assassinada (2008), de Lúcio Cardoso, configura-se como a obra mais estudada do romancista. Muitos foram os críticos literários que demarcaram a importância desse romance na obra de Cardoso, tais como Álvaro Lins (1963), Alfredo Bosi (2015), Temístocles Linhares (1971), Massaud Moisés (2019) e Manuel Bandeira (1960). Além deles, Wilson Martins (1959) e André Seffrin (2008), em críticas realizadas sobre o romance, expõem o recuo dramático a que são sujeitas as personagens femininas centrais, Ana e Nina, no último capítulo da obra. No “Pós-escrito numa carta de Padre Justino”, o capítulo que arremata os acontecimentos na chácara dos Meneses, Ana confessa que André, reconhecido inicialmente como filho de Nina, é, na verdade, seu filho. Os críticos em questão compreendem o recurso dramático de Lúcio Cardoso, no capítulo final do romance, como um pedido de desculpas por abordar tema tão espinhoso quanto o incesto. Martins (1959) e Seffrin (2008) atribuem, também, lugar ao catolicismo do autor e ao moralismo e convencionalismo a que ele cedeu. Este artigo tem por objetivo, então, observar de que maneira o “Pós-escrito numa carta de Padre Justino”, diferentemente do que apontam os dois críticos, confere unidade à Crônica da casa assassinad quando lido a partir das orientações feitas em Mentira romântica e verdade romanesca (2009), de René Girard. Para tanto, analisa, de modo detido, a trajetória de Ana e Nina ao longo da narrativa e busca compreender, no pós-escrito, como as explicações obsequiadas na voz de Padre Justino gestam uma atmosfera menos conflitiva e maniqueísta no entendimento mimético dessas duas personagens.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":"37 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-06","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"135351830","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"mediação da viola entremundos","authors":"Gustavo Falleiros, Florence Dravet","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44199","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44199","url":null,"abstract":"Na tradição, os violeiros sertanejos atuam como dizentes entremundos, apoiados no conhecimento técnico do instrumento e na sensibilidade analógica com que fazem uma leitura dos vários níveis da realidade. Buscamos flagrar essa dinâmica a partir dos achados poético-musicais de Esbrangente (2003), álbum que evidencia a relação discípulo-mestre estabelecida entre os violeiros Roberto Corrêa, Badia Medeiros, Paulo Freire e Manoel de Oliveira. Contribuem para essa proposta, noções oriundas do pensamento complexo de Edgar Morin e da antropologia pós-estrutural de Eduardo Viveiros de Castro, passando pela estética de Guimarães Rosa, exemplificada pelos contos Cara-de-Bronze e Meu tio Iauaretê. O estudo nos permite concluir que os achados poéticos de Esbrangente repousam em lampejos de pensamento analógico e técnica musical apurada e que os violeiros guardam os traços do poeta, cuja sabedoria permite atravessar os níveis da realidade do sertão.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":"48 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-10-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"134975929","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"Genocídios, epistemicídios, ecocídios e o pensamento moderno","authors":"Tatiana De Freitas Massuno","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44155","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44155","url":null,"abstract":"O presente artigo é um exercício especulativo que parte do seguinte pressuposto: a fundamentação epistemológica da modernidade propiciou a emergência do evento Antropoceno. Embora o termo adquira ares de neutralidade, tendo sido primeiramente utilizado no âmbito das ciências ditas duras para designar a entrada em uma nova era geológica, o conceito escamoteia a cadeia de relações que ele próprio coloca em cena. Afinal, quem são os humanos que estão no cerne do Antropoceno? Ademais, tendo sido fruto, acidental ou não, do processo de modernização global, faz parte de um fenômeno maior de homogeneização de padrões e culturas. O estabelecimento de um padrão único – o homem branco ocidental – está por trás dos genocídios, epistemicídios e ecocídios que caracterizam a modernidade. Pretende-se, assim, analisar a forma como tais fenômenos (genocídios, epistemicídios e ecocídios) se entrelaçam e se amplificam com o advento do Antropoceno. Para tal, um diálogo será travado com diferentes saberes, a fim de garantir a imaginação especulativa necessária para se vislumbrar perspectivas para além do já estabelecido. Dessa maneira, o romance Solar, de Ian McEwan, será trazido para a discussão, uma vez que não somente traz como pano de fundo os efeitos da ação humana no planeta, como também tem como protagonista um cientista. A visão do homem da ciência, branco, heterossexual, europeu será o ponto de partida de nossa discussão. Afinal, pode a ciência se manter neutra em tempos de catástrofes planetárias? O presente texto, então, inscreve-se no seio de entrelaçamentos, junturas, emaranhamentos tão caros ao pensamento contemporâneo preocupado com formas menos antropocêntricas de estar no mundo.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":"45 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-09-21","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136153214","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"Communication in the Oil and Gas Industry","authors":"Aline Pacheco","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44471","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44471","url":null,"abstract":"This article aims to describe some features of communication in the oil and gas industry considering contributions from applied linguistics and Aviation English. Fostered by the need to have a picture of communication dynamics taking place in the proposed scenario, studies were conducted within the HF2 Project and were organized in three stages. Stage 1 revised accident reports to find out communication factors that could be associated with safety and help build a tentative version of a taxonomy based on the Taxonomy of Communication and Language factors in Aviation used for language analysis in aviation. Stage 2 comprehended interviews with workers from two different offshore operations so to assess metalinguistic information regarding a possible standardized language training and use during the performance of activities. Stage 3 encompassed in-loco data collection and analysis of linguistic information. Corpus Linguistics, Conversational Analysis, The Cooperative Principle, and the Taxonomy of Communication and Language factors in Aviation were some of the theoretical references that guided the analysis. The results presented are preliminary, yet significant, and show that procedural factors are outstanding when contemplating the possibility of miscommunication and, because of that, could be considered the core of a taxonomy. Additionally, metalinguistic data from the interviews show that there seems to be a standardized communicative behavior in the operations given the strict technical training to which the workers are submitted to. However, the misuse or non-use of certain lexical-morphological structures and strategies, and procedures could impact safety. In this line, the article also addresses some suggestions for optimized communication practices.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":"12 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-09-21","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"136153779","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Antonio Rediver Guizzo, Maíra Soalheiro Grade, Florencia Paez
{"title":"Literaturas del fin del mundo","authors":"Antonio Rediver Guizzo, Maíra Soalheiro Grade, Florencia Paez","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44396","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44396","url":null,"abstract":"En este artículo, analizamos cómo O Deus das avencas (2021), de Daniel Galera, participa de un grupo de narrativas que convencionamos llamar literaturas del fin del mundo – caracterizadas por la composición de enredos distópicos o post apocalípticos que figuran la asunción de regímenes totalitarios al poder, la reducción de grupos económicamente desfavorecidos a la “vida desnuda”, el ahondamiento de la explotación de los recursos naturales y de las desigualdades sociales, la precarización del trabajo, la transformación de las tecnologías de comunicación en tecnologías de vigilancia, control y represión, y otros temores surgidos de las crisis democráticas y resurgimiento del capitalismo liberal. La obra O Deus das avencas (2021) está compuesta por tres cuentos que, aunque dispares, parecen constituir una gradación de las relaciones sociales y políticas del país hacia la ruptura de las formas de sociabilidad. El primer cuento, “O Deus das avencas”, presenta la agonía de una pareja que espera el nacimiento de su hijo ante la incertidumbre del rumbo político del país; la segunda, “Tokio”, narra una sociedad distópica en la que la severa devastación ambiental y la drástica reducción de las interacciones humanas se suman a la creencia en la posibilidad de trasladar la conciencia a dispositivos tecnológicos; la tercera, “Bugonia”, presenta un futuro postapocalíptico en el que la humanidad, en ausencia de tecnologías y bajo la amenaza de una patología contagiosa y letal, vuelve a formas tribales de sociabilidad y, para sobrevivir, establece una relación de mutualismo con abejas. En el análisis propuesto, dialogamos con investigadores que observan el crecimiento de la producción distópica en diferentes países y contextos sociopolíticos, como María Laura Pérez Gras (2017), Eirik Vassenden (2022), Tom Moylan (2018), Jill Lepore ( 2017), Gregory Claeys (2017), entre otros. \u0000 ","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-09-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"49487424","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"Marcas e funções do sobredestinatário em gêneros textuais diversos","authors":"D. Rocha, Denise Brasil A. Aguiar","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44064","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44064","url":null,"abstract":"O artigo tem por objetivo oferecer uma visão do estado da arte dos estudos centrados no conceito bakhtiniano de sobredestinatário, entendido como o terceiro que garante tanto a plena compreensão do que diz o locutor, como também a possibilidade de uma compreensão em outros tempos e espaços. Dito de outro modo, o papel que cumpre o sobredestinatário é o de suprir as insuficiências do destinatário, superando a condição daquilo que se denominou “tirania do presente”. É também proposta do artigo oferecer não um modelo, mas um caminho de análise que se revele produtivo para a identificação desse sobredestinatário, procedendo à sua captação nos gêneros literário (Lucíola e Torto Arado) e acadêmico (blog de Luis Carlos Freitas sobre avaliação educacional). Com efeito, o sobredestinatário tem-se mostrado um conceito inovador do quadro de participantes da interação verbal, porém tem sido pouco explorado em artigos produzidos na área. A explicitação de marcas linguísticas para a sua captação constitui um território ainda largamente inexplorado, razão pela qual escolhemos aprofundar os debates referentes à materialidade linguística em que se inscreve o sobredestinatário como aporte teórico central deste trabalho. Desse modo, baseado metodologicamente em procedimentos de análise documental de ordem linguístico-discursiva, o artigo avança na investigação de tal materialidade, contribuindo com a visualização de novas funções do sobredestinatário: para além da plena compreensão e da explicitação de grupos de pertencimento, revela-se, dentre outras, sua função enquanto processo de melhoramento do próprio destinatário, ou ainda como interlocutor crítico do que se expressa nos textos, situação na qual supera as expectativas criadas pelo próprio locutor.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-08-18","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"42284145","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"Entre narrações traumáticas e interpelações do Curinga","authors":"Airton Pott, Ivânia Campigotto Aquino","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44508","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44508","url":null,"abstract":"A literatura é o refúgio e o lugar de registro de muitas vivências resultantes da realidade de períodos históricos, principalmente os traumáticos, como a ditadura militar, que, no Brasil, perpetuou de 1964 a 1985, mas deixou marcas até na atualidade. Muitos são os escritores que escreveram obras literárias que guardam em seu enredo histórias representativas dos 21 anos de ditadura militar. Maria José Silveira, por exemplo, em seu livro Felizes poucos: onze contos e um curinga, publicado em 2016, expressa, em onze contos, diversificadas vivências experienciadas por militantes e seus familiares e amigos durante aquele período histórico. No começo e no final do livro, bem como no final de um conto e começo de outro, aparece um personagem inusitado – o Curinga – que exerce diversas funções enquanto conversa com o leitor e a própria autora, além de comentar as cenas narradas. Observando-se essas questões, objetiva-se, neste estudo, analisar a representação de realidades da história da ditadura militar na obra ficcional supracitada em meio às estratégias narrativas suscitadas pela autora para conseguir atingir seus propósitos. Para subsidiar tais assertivas, recorre-se à teoria do efeito estético de Wolfgang Iser (1999) e aos estudos de Walter Benjamin (1987), Jeanne Marie-Gagnebin (2006), Márcio Seligmann-Silva (2000, 2003) e Euridice Figueiredo (2017) sobre narrativa, história, memória e as possibilidades de representação de traumas históricos na literatura, considerando seu contexto ficcional. Diante disso, as análises propiciam destacar que a literatura, por ser ficcional e formada por diversas estratégias narrativas, possibilita a representação da realidade das personagens vítimas da ditadura militar e a resistência da memória destas na ficção, uma vez que esta abarca outros elementos que os da história.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-08-18","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"46930965","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"poesia do presente e a maquinaria realista","authors":"I. Magri, Natália Barcelos Natalino","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.44474","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44474","url":null,"abstract":"A partir de duas antologias de poesia publicadas recentemente no Brasil– As 29 poetas hoje (2021), organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, e É agora como nunca (2017), organizada por Adriana Calcanhotto – este artigo investiga o que Tamara Kamenszain, crítica e poeta argentina, chama de “maquinaria realista”, que estaria em funcionamento em certa produção poética desde a década de 1990. Essa maquinaria realista colocaria em cena uma poesia “profanada”, restituída ao uso, e que encena múltiplas vozes, performando um “pós-eu” que se deixa ver plenamente na poesia de Ana Guadalupe. Se em As 29 poetas hoje vemos em cena uma orquestração de vozes, um coro, pensando com Tamara Kamenszain, podemos dizer que essa pluralidade de vozes encontra um éthos comum, um eu que soma: um eu-tu-nós que apaga aquela voz unitária do eu lírico autocentrado. O artigo, assim, busca tornar visível na análise de alguns poemas de Ana Guadalupe que ali também está em cena uma espécie de eu que, na verdade, nunca é somente autoral ou autobiográfico: um eu que sabe e reconhece as marcas pelas quais passou; um eu provisório; um eu, por vezes, estrangeiro; um eu que se inaugura no instante-já do poema, no aqui-agora do poema; um eu que se retroalimenta numa possível releitura (do poema); um eu refém de outros eus. Esse coro de eus nos apresenta a tarefa de tentar entender os movimentos e as motivações que essa poesia profanada suscita, sendo ele mesmo uma boa amostra da poesia do presente que investe na captação de um real profanado. \u0000 ","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-08-18","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"48978888","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Josefa Felix do Nascimento, Cristine Gorski Severo
{"title":"Políticas linguísticas de uma comunidade cigana Calón em Sergipe","authors":"Josefa Felix do Nascimento, Cristine Gorski Severo","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.43500","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.43500","url":null,"abstract":"Neste texto, apresentamos e analisamos as políticas linguísticas de uma comunidade cigana Calón estabelecida no município de Itabaianinha-SE. Para tanto, nos apoiamos nas proposições teóricas de Spolsky (2004, 2016) e de Bonacina-Pugh (2012) sobre políticas linguísticas declaradas, políticas linguísticas percebidas e políticas linguísticas praticadas; nas reflexões sobre tradição inventada (HOBSBAWM; RANGER, 2008); e na abordagem sobre estigma (GOFFMAN; 1988). Nossa análise enfoca os seguintes elementos: o sentido de língua cigana e a relação da língua com a identidade e a tradição inventada; o papel do estigma e do segredo como dimensões valorativas; a transmissão da língua e o ensino da língua cigana; e o papel dos ritos na configuração de práticas linguísticas. Atentamos, também, tanto para as legislações e iniciativas jurídico-políticas, como para a dimensão das crenças/valores e costumes da comunidade sobre suas práticas de linguagem, especialmente sobre o papel da língua-segredo como reguladora das políticas linguísticas praticadas. A pesquisa inclui levantamento bibliográfico e pesquisa de campo realizada em 2020-2021, com a realização de entrevistas, observação e anotações em diário, enfocando o papel da pesquisa engajada na construção de conhecimento sobre as políticas linguísticas da comunidade. Defendemos que as políticas linguísticas devem considerar a perspectiva da experiência da comunidade – e seus costumes – como elementos orientadores sobre os sentidos de língua e de sua revitalização e valorização, contribuindo, assim, para a desconstrução de estereótipos envolvendo as comunidades ciganas e suas línguas no Brasil. Registramos a importância das políticas públicas e da mobilização da comunidade local para os processos de desconstrução de preconceitos e estereótipos.","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-04-18","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"43440205","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
Dayvesson Deleon Bezerra da Silva, Verônica Maria Brayner de Oliveira Lira, N. Azevedo
{"title":"João presente!","authors":"Dayvesson Deleon Bezerra da Silva, Verônica Maria Brayner de Oliveira Lira, N. Azevedo","doi":"10.15448/1984-7726.2023.1.43570","DOIUrl":"https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.43570","url":null,"abstract":"A Análise de Discurso de Linha Francesa (AD), com seu aporte teórico e metodológico, foi o instrumental que nos fez adentrar em possibilidades de significações do discurso de resistência do cantor e compositor Marcelo Mira, na música João. Elaborado há quase duas décadas, o processo discursivo analisado não só refletiu problemas históricos da pobreza no Brasil, mas favoreceu a discussão sobre o aprofundamento da crise nos dias atuais. O diálogo com a exterioridade trouxe para a atualidade modos de significar de dizeres estabilizados, institucionalizados. A criatividade artística, quando aplica metáforas, paráfrases, polissemia, estabelece novas possibilidades de significação. O objetivo principal deste trabalho consiste em analisar o discurso de resistência de um sujeito periférico e negro, que se desenvolveu no âmbito da arte musical e que faz enfrentamento ao discurso dominante atual, balizado pelo neoliberalismo. Para fundamentação da análise, embasamo-nos em Pêcheux e em autoras que são referências, no Brasil, dos estudos da AD, a exemplo de Eni Orlandi e Cristina Leandro Ferreira. Na perspectiva do movimento entre discurso e interdiscurso, contemporizamos as discussões com pressupostos de outras áreas de conhecimento, com ênfase na sociologia, que estão em pleno debate com o paradigma neoliberal. Também, realizamos pesquisa em meios digitais, sites oficiais para obtermos dados recentes e argumentos que circulam no meio virtual sobre questões aqui levantadas. Na materialidade discursiva da música está inscrita uma cronologia de dor e de luta na vida de João, enquanto personagem, que representa, ao mesmo tempo, o assujeitamento e o enfrentamento do discurso que lhe interpelou como sujeito. ","PeriodicalId":42440,"journal":{"name":"Letras de Hoje-Estudos e Debates em Linguistica Literatura e Lingua Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"2023-01-11","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"43943849","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}