{"title":"O CHÁ DE CEBOLA BRANCA E A RAINHA DO REISADO","authors":"Ribamar José de Oliveira Júnior","doi":"10.51359/2526-3781.2018.239139","DOIUrl":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.239139","url":null,"abstract":"Com peito branco e cabeça vermelha, ele mede aproximadamente 14 centímetros e meio. Nos galhos da Chapada do Araripe, região Nordeste do Brasil, a espécie também conhecida como lavadeira-da-mata, apresenta um dimorfismo sexual no que diz respeitos a plumagem. O Soldadinho do Araripe, mais vistoso do que a fêmea, possui um elmo na cabeça que o nomeou dessa forma. Ela possui um penacho mais reduzido. Distante de estabelecer uma relação entre misoginia e natureza, a materialidade sexual posta em uma primeira ordem entre o macho e a fêmea, acaba por condicionar duas verdades sobre os corpos: — tidos aqui tamanho de menos de um palmo — é obrigatório que o macho aja como macho e a fêmea aja como fêmea. Coube a espécie, encontrada apenas nas cidades de Barbalha, Araripe, Crato e Missão Velha, no Ceará, ser um dos referenciais do território da região do Cariri. Os municípios citados estão localizados na região metropolitana do Cariri, formada por nove municípios, surgida a partir da conurbação entre os municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. É nesse território em que o pássaro canta que brinca Tica. Durante um ano, de outubro de 2016 a outubro de 2017, conversei com a brincante Francisca da Silva do Reisado Santa Helena em Juazeiro do Norte. No período em que se iniciou a pesquisa, ela morava no bairro Mutirão, ao lado da sede do grupo e casa do Mestre Dedé, dono do boi — como assim chama quem conduz o Reisado — que carrega o legado do pai na cultura popular em homenagem a santa que o protegeu. Dentro do vestido branco que abre alas no Reisado de Mestre Dedé Tica não sabe se as pessoas a veem como um homem ou como uma mulher. Desafiando o binarismo de gênero, a brincante, que ocupa o figural de Rainha na manifestação tradicional, reinventa a cultura popular na região do Cariri cearense por meio da performance artística. Tica nasceu de papo para cima. A parteira quando viu que o menino da falecida Tereza havia vindo ao mundo assim, anunciou que ele ia ser mais mulher do que homem. É a sina que a Rainha diz ter. Na poética do cotidiano, ela desvenda o rito religioso e subverte o corpo atravessado por preces, desejos e amor.","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"57 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"124744932","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"GUARDA-CHUVA ETNOGRÁFICO","authors":"Elder Pereira Ribeiro","doi":"10.51359/2526-3781.2018.239196","DOIUrl":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.239196","url":null,"abstract":"SINOPSE:Trata-se de uma série de fotografias que possuem o intuito de registrar variáveis lugares de Santo Amaro no Recôncavo Baiano. Estas imagens foram fotografadas na aula de campo do componente de Fotografia do CECULT-UFRB.Santo Amaro é uma cidade rica culturalmente, religiosamente e turisticamente, ainda se encontra em Santo Amaro os lugares de resquícios da cana de açucar e dos cafezais, também, é uma cidade com maior índice de terreiros de Candomblé da Bahia. Cidade de Caetano, Bethânia, Zilda Paim, Besouro Mangangá, Draº Elvira Queiroz, Teodoro Sampaio, Nicinha do Samba, entre outros.O artista plástico Emanuel Araújo, entre outras personalidades que tornaram famosa a terra morena do valente mestre capoeirista Besouro Cordão de Ouro e do mestre do maculelê, Popó. A poetisa Mabel Velloso, outra ilustre santamarense, define Santo Amaro como “pedacinho mais antigo do Recôncavo Baiano. Do seu massapê nasceram as canas mais doces e as mais doces estórias.O Rio Subaé é alvo das catástrofres ambientais, o caso da poluição do chumbo em todo parte da cidade. Tempos sombrios, onde muitos foram mortos e outros ainda conseguem trabalhar para manter o seu sustento, isto é, sobreviver.O Bembé do Mercado é o único candomblé de rua do mundo que é realizado na cidade Santo Amaro-BA. Vai e volta à memória nunca será apagada! SINOPSIS:It is a series of photographs that intend to record variable places of Santo Amaro in the Recôncavo Baiano. These images were photographed in the field lesson of the Photography component of CECULT-UFRB.Santo Amaro is a culturally, religiously and touristically rich city. Santo Amaro is still home to the remnants of sugar cane and coffee plantations. It is also a city with the highest number of candomblé terreiros in Bahia. City of Caetano, Bethânia, Zilda Paim, Besouro Mangangá, Draº Elvira Queiroz, Teodoro Sampaio, Nicinha do Samba, among others.The plastic artist Emanuel Araújo, among other personalities who made famous the brown land of the brave capoeirista master Beet Cordão de Ouro and the master of the maculelê, Popó. The poet Mabel Velloso, another illustrious Santamarine, defines Santo Amaro as \"the oldest piece of the Recôncavo Baiano. From his massapé were born the sweetest reeds and the sweetest stories.The Subaé River is the target of environmental catastrophes, the case of lead pollution in all parts of the city. Dark times, where many were killed and others still manage to work to maintain their livelihood, that is, to survive.O Bembé do Mercado é o único candomblé de rua do mundo que é realizado na cidade Santo Amaro-BA. Vai e volta à memória nunca será apagada! Palabras-chave:santo amaro; cidade; cultura; comunidadeKey-words:holy amaro; City; culture; communit Ficha técnica:Autora:Elder Pereira RibeiroFotografias: Elder Pereira RibeiroDireção, Edição de Imagem e Texto: Elder Pereira Ribeiro Ficha técnica:Author:Elder Pereira RibeiroPhotos:Elder Pereira RibeiroDirection:Elder Pereira Ribeiro ","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"269 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"123305076","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"Dádiva em cena: uma opereta sobre joias de família","authors":"Aline Lopes Rochedo, Fabrício Barreto","doi":"10.51359/2526-3781.2018.239337","DOIUrl":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.239337","url":null,"abstract":"Joia de família não é sinônimo de joia. Essa coisa – que pode ou não ser feita com metais nobres e gemas – apenas recebe a alcunha “de família” em processos sociais, ou seja, ao se enredar em ancestrais e ser repassada como herança. Acompanhada de narrativas, converte-se em elos de experiências e trajetórias entre vivos, mortos e aqueles que nem nasceram. Crônicas e performances acompanham seus movimentos e nos permitem acessar práticas e emoções recebidas e legadas entre gerações.A alegoria que Fabricio Barreto (fotos) e Aline Lopes Rochedo (texto) compõem na narrativa imagética aqui apresentada emerge de uma etnografia sobre transmissão de joias de família, pesquisa que resultará na tese de Rochedo em 2020. Em termos teóricos, a autora parte de Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, publicado em 1925 e que ainda hoje incita reflexões. Rochedo tenciona identificar práticas e dinâmicas envolvidas em repasses de joias de família, coisas às quais se atribuem valores para além do econômico. Intenta, ainda, compreender o que esses processos revelam sobre a vida coletiva, observando como sujeitos vivenciam histórias e instituições nas quais as relações existem, contemplando marcadores simbólicos de gênero e classe.Este ensaio é uma construção parcial de realidades expressas pela cenógrafa Andrea Mazza Terra, moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Embora reúna na tese mais de 40 casos de repasses geracionais de joias de família, Rochedo destaca as prosas desta interlocutora pela riqueza de sua fala para narrar a família. A pesquisa se iniciou com entrevistas, conversas informais e observação realizadas na casa de Andrea, entre fevereiro e abril de 2018, quando ela discorreu sobre o bracelete da baronesa, joia de família que, inicialmente, fora presente de casamento do barão de Santa Tecla à futura esposa, Amélia, avó de sua bisavó.Rochedo reencontrou Andrea em maio de 2018, desta vez com Barreto, para fotografá-la interagindo com sua joia de família, e a experiência jogou novas luzes sobre possibilidades de dádiva. Mas o desfecho desse roteiro improvisado e imprevisível só foi possível graças a Raphael Scholl, amigo que apresentou Andrea à Rochedo e cuidou do figurino para as fotos. Barreto e Rochedo construíram a narrativa de imagens numa tentativa de misturar vozes e percepções na composição de uma experiência cênica protagonizada por Andrea com ajuda de Raphael e do estilista Maurício Guidotti.As fotos foram feitas em maio de 2018, no sobrado cansado e cravejado de vitrais Tiffany onde a interlocutora nasceu e reside. Neste palco tão familiar herdado dos avós maternos, Andrea compôs sua opereta imagética sobre o bracelete de ouro e diamantes forjado em Paris no século XIX. O adorno que testemunhou o esplendor e a decadência da economia do charque pelotense nos anos 1920 conecta Andrea a cinco gerações de mulheres, da baronesa de Santa Tecla até a avó, Nóris, de quem recebeu a dádiva. Também a mantém algemada ao passado da família. À crônica atu","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"188 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"122573600","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}
{"title":"Marcas de prazer. Um ensaio foto-etnográfico sobre BDSM.","authors":"Agustín Liarte Tiloca","doi":"10.51359/2526-3781.2018.239152","DOIUrl":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.239152","url":null,"abstract":"SinopseEste ensaio pode ser contado como uma história. Numa fria tarde de primavera, um antropólogo, um fotógrafo e duas pessoas que tinham uma relação de dominação / submissão se encontraram em um apartamento no norte de Córdoba. O objetivo principal era organizar uma sessão fotográfica, onde o casal pudesse desdobrar parte das atividades que realizava na \"intimidade\". Enquanto o equipamento estava sendo arranjado e o tipo de imagens esperadas estava sendo discutido, bebemos alguns líquidos alcóolicos para aquecer. Também escolhemos algumas músicas para tocar em um computador, a fim de definir o momento. Como única palavra de ordem do casal, foi-lhes pedido que fizessem o que quisessem. Diante desse fato, naquela tarde, os diferentes propósitos e expectativas ali construídos foram entrelaçados. Por um lado, havia um ensaio fotográfico que deveria ser entregue como trabalho prático para uma disciplina, dentro da carreira de técnico de fotografia de uma instituição educacional local de artes aplicadas. Por outro lado, havia o desejo do casal de ter um conjunto de imagens para compartilhar em certas redes sociais, bem como parte de um jogo erótico baseado no prazer de observar o resultado de suas ações capturadas em fotografias. Finalmente, eu interlaço meu interesse em desenvolver uma pesquisa antropológica preocupada em investigar formas de sociabilidade entre praticantes de BDSM. Essas siglas correspondem a um conjunto de atividades sócio-eróticas que consistem em bondage ou ligaduras, jogos de dominação e submissão, e na ressemermantização sadomasoquista da dor. Foi assim que comecei a averiguar sobre as \"marcas de prazer\". Entendo por este termo os traços deixados na pele após alguma prática, como os sulcos vermelhos que indicavam que as unhas circulavam lá, os hematomas que serviam como indicativos de spanks ou golpes, e a subsidência na forma de linhas semicirculares deixadas pelos dentes após morder uma área carnuda. A discussão principal girou em torno de como estas marcas foram compreendidas pelos próprios praticantes. A partir de uma certa leitura, esses traços poderiam ser vistos como vestígios de um ato violento, numa relação linear estabelecida entre um golpe e a produção de desagrado. No entanto, como surgiu durante o trabalho de campo e nesta experiência particular, dentro de uma sociabilidade BDSM as marcas foram interpretadas como índices de prazer e marcadores de tempo de beleza. A qualidade efêmera foi registrada a partir de fotografias, enquanto expressões como \"que belas marcas\" indicavam que elas eram apreciadas como componentes decorativos do corpo. As cores e ondulações da pele mereciam ser lembradas de sua reprodutibilidade, pois mais cedo ou mais tarde elas se desvaneceriam com o tempo. O contato das peles implicava a união dos corpos, uma redução momentânea da aura simmeliana como espaço pessoal. No entanto, a pele serviu como uma tela onde não se tratava apenas de produzir uma marca, mas que o mesmo fora feito por u","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"34 Suppl 2 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":null,"resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":"116599914","PeriodicalName":null,"FirstCategoryId":null,"ListUrlMain":null,"RegionNum":0,"RegionCategory":"","ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":"","EPubDate":null,"PubModel":null,"JCR":null,"JCRName":null,"Score":null,"Total":0}