舞台上的礼物:一部关于家庭珠宝的轻歌剧

Aline Lopes Rochedo, Fabrício Barreto
{"title":"舞台上的礼物:一部关于家庭珠宝的轻歌剧","authors":"Aline Lopes Rochedo, Fabrício Barreto","doi":"10.51359/2526-3781.2018.239337","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Joia de família não é sinônimo de joia. Essa coisa – que pode ou não ser feita com metais nobres e gemas – apenas recebe a alcunha “de família” em processos sociais, ou seja, ao se enredar em ancestrais e ser repassada como herança. Acompanhada de narrativas, converte-se em elos de experiências e trajetórias entre vivos, mortos e aqueles que nem nasceram. Crônicas e performances acompanham seus movimentos e nos permitem acessar práticas e emoções recebidas e legadas entre gerações.A alegoria que Fabricio Barreto (fotos) e Aline Lopes Rochedo (texto) compõem na narrativa imagética aqui apresentada emerge de uma etnografia sobre transmissão de joias de família, pesquisa que resultará na tese de Rochedo em 2020. Em termos teóricos, a autora parte de Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, publicado em 1925 e que ainda hoje incita reflexões. Rochedo tenciona identificar práticas e dinâmicas envolvidas em repasses de joias de família, coisas às quais se atribuem valores para além do econômico. Intenta, ainda, compreender o que esses processos revelam sobre a vida coletiva, observando como sujeitos vivenciam histórias e instituições nas quais as relações existem, contemplando marcadores simbólicos de gênero e classe.Este ensaio é uma construção parcial de realidades expressas pela cenógrafa Andrea Mazza Terra, moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Embora reúna na tese mais de 40 casos de repasses geracionais de joias de família, Rochedo destaca as prosas desta interlocutora pela riqueza de sua fala para narrar a família. A pesquisa se iniciou com entrevistas, conversas informais e observação realizadas na casa de Andrea, entre fevereiro e abril de 2018, quando ela discorreu sobre o bracelete da baronesa, joia de família que, inicialmente, fora presente de casamento do barão de Santa Tecla à futura esposa, Amélia, avó de sua bisavó.Rochedo reencontrou Andrea em maio de 2018, desta vez com Barreto, para fotografá-la interagindo com sua joia de família, e a experiência jogou novas luzes sobre possibilidades de dádiva. Mas o desfecho desse roteiro improvisado e imprevisível só foi possível graças a Raphael Scholl, amigo que apresentou Andrea à Rochedo e cuidou do figurino para as fotos. Barreto e Rochedo construíram a narrativa de imagens numa tentativa de misturar vozes e percepções na composição de uma experiência cênica protagonizada por Andrea com ajuda de Raphael e do estilista Maurício Guidotti.As fotos foram feitas em maio de 2018, no sobrado cansado e cravejado de vitrais Tiffany onde a interlocutora nasceu e reside. Neste palco tão familiar herdado dos avós maternos, Andrea compôs sua opereta imagética sobre o bracelete de ouro e diamantes forjado em Paris no século XIX. O adorno que testemunhou o esplendor e a decadência da economia do charque pelotense nos anos 1920 conecta Andrea a cinco gerações de mulheres, da baronesa de Santa Tecla até a avó, Nóris, de quem recebeu a dádiva. Também a mantém algemada ao passado da família. À crônica atualizada e crítica às crueldades cometidas contra cativos pelos barões do charque soma-se o relicário novecentista que lhe foi transmitido por Nóris em vida. A interlocutora vela na caixinha de ouro baixo e alta estima a matriarca falecida no início dos anos 2000: “Se sou o que sou, se sou como sou, é tudo da minha vó. Fui criada por ela, e a consciência foi ela quem me deu. [...] Porque a história da escravidão foi negada sempre, e inventaram uma outra história, a de uma escravidão light”.","PeriodicalId":282576,"journal":{"name":"AntHropológicas Visual","volume":"188 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Dádiva em cena: uma opereta sobre joias de família\",\"authors\":\"Aline Lopes Rochedo, Fabrício Barreto\",\"doi\":\"10.51359/2526-3781.2018.239337\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Joia de família não é sinônimo de joia. Essa coisa – que pode ou não ser feita com metais nobres e gemas – apenas recebe a alcunha “de família” em processos sociais, ou seja, ao se enredar em ancestrais e ser repassada como herança. Acompanhada de narrativas, converte-se em elos de experiências e trajetórias entre vivos, mortos e aqueles que nem nasceram. Crônicas e performances acompanham seus movimentos e nos permitem acessar práticas e emoções recebidas e legadas entre gerações.A alegoria que Fabricio Barreto (fotos) e Aline Lopes Rochedo (texto) compõem na narrativa imagética aqui apresentada emerge de uma etnografia sobre transmissão de joias de família, pesquisa que resultará na tese de Rochedo em 2020. Em termos teóricos, a autora parte de Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, publicado em 1925 e que ainda hoje incita reflexões. Rochedo tenciona identificar práticas e dinâmicas envolvidas em repasses de joias de família, coisas às quais se atribuem valores para além do econômico. Intenta, ainda, compreender o que esses processos revelam sobre a vida coletiva, observando como sujeitos vivenciam histórias e instituições nas quais as relações existem, contemplando marcadores simbólicos de gênero e classe.Este ensaio é uma construção parcial de realidades expressas pela cenógrafa Andrea Mazza Terra, moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Embora reúna na tese mais de 40 casos de repasses geracionais de joias de família, Rochedo destaca as prosas desta interlocutora pela riqueza de sua fala para narrar a família. A pesquisa se iniciou com entrevistas, conversas informais e observação realizadas na casa de Andrea, entre fevereiro e abril de 2018, quando ela discorreu sobre o bracelete da baronesa, joia de família que, inicialmente, fora presente de casamento do barão de Santa Tecla à futura esposa, Amélia, avó de sua bisavó.Rochedo reencontrou Andrea em maio de 2018, desta vez com Barreto, para fotografá-la interagindo com sua joia de família, e a experiência jogou novas luzes sobre possibilidades de dádiva. Mas o desfecho desse roteiro improvisado e imprevisível só foi possível graças a Raphael Scholl, amigo que apresentou Andrea à Rochedo e cuidou do figurino para as fotos. Barreto e Rochedo construíram a narrativa de imagens numa tentativa de misturar vozes e percepções na composição de uma experiência cênica protagonizada por Andrea com ajuda de Raphael e do estilista Maurício Guidotti.As fotos foram feitas em maio de 2018, no sobrado cansado e cravejado de vitrais Tiffany onde a interlocutora nasceu e reside. Neste palco tão familiar herdado dos avós maternos, Andrea compôs sua opereta imagética sobre o bracelete de ouro e diamantes forjado em Paris no século XIX. O adorno que testemunhou o esplendor e a decadência da economia do charque pelotense nos anos 1920 conecta Andrea a cinco gerações de mulheres, da baronesa de Santa Tecla até a avó, Nóris, de quem recebeu a dádiva. Também a mantém algemada ao passado da família. À crônica atualizada e crítica às crueldades cometidas contra cativos pelos barões do charque soma-se o relicário novecentista que lhe foi transmitido por Nóris em vida. A interlocutora vela na caixinha de ouro baixo e alta estima a matriarca falecida no início dos anos 2000: “Se sou o que sou, se sou como sou, é tudo da minha vó. Fui criada por ela, e a consciência foi ela quem me deu. [...] Porque a história da escravidão foi negada sempre, e inventaram uma outra história, a de uma escravidão light”.\",\"PeriodicalId\":282576,\"journal\":{\"name\":\"AntHropológicas Visual\",\"volume\":\"188 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"1900-01-01\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"AntHropológicas Visual\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.239337\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"AntHropológicas Visual","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.51359/2526-3781.2018.239337","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
引用次数: 0

摘要

家庭珠宝不是珠宝的同义词。这种东西——可能是用贵金属和宝石做的,也可能不是——只是在社会过程中被称为“家族”,也就是说,当它与祖先纠缠在一起并作为遗产传递时。伴随着叙述,它成为活人、死者和未出生的人之间的经验和轨迹的联系。编年史和表演伴随着他们的动作,让我们接触到代代相传的实践和情感。法布里西奥·巴雷托(照片)和艾琳·洛佩斯·罗彻多(文本)在这里呈现的意象叙事中所构成的寓言,来自于一项关于家庭珠宝传播的民族志,这项研究将导致罗彻多在2020年的论文。从理论上讲,作者从马塞尔·莫斯1925年发表的一篇关于礼物的文章开始,这篇文章至今仍在引起人们的思考。Rochedo打算确定涉及家庭珠宝转让的实践和动态,这些东西被赋予了超越经济价值的价值。它还试图理解这些过程揭示了集体生活的什么,观察主体如何体验存在关系的历史和制度,思考性别和阶级的象征性标记。这篇文章是布景设计师Andrea Mazza Terra表达的现实的部分构建,Andrea Mazza Terra居住在大南州的Pelotas。虽然在论文中收集了40多个家族珠宝代代相传的案例,Rochedo强调了这位对话者的散文,因为她丰富的演讲讲述了家庭。研究开始采访,进行非正式谈话和观察的家安德里亚,2018年2月和4月之间,当她谈到的伯爵夫人的手镯,你家人的宝石时,外面的结婚礼物圣关键准男爵的妻子艾米莉亚,曾祖母的奶奶。2018年5月,罗奇多与安德里亚重聚,这次是与巴雷托,拍摄了她与家庭珠宝互动的照片,这段经历为礼物的可能性提供了新的线索。但多亏了拉斐尔·肖尔(Raphael Scholl),这个即兴和不可预测的剧本的结果才有可能实现。他把安德里亚介绍给了岩石,并为照片设计了服装。巴雷托和罗奇多在拉斐尔和造型师mauricio Guidotti的帮助下,构建了图像叙事,试图将声音和感知混合到安德里亚主演的风景体验中。这些照片拍摄于2018年5月,地点是蒂凡尼(Tiffany)的彩色玻璃窗装饰的疲惫的sobrado,对话者出生和居住的地方。在这个从外祖父母那里继承下来的熟悉的舞台上,安德里亚创作了她的意象轻歌剧,主题是19世纪在巴黎锻造的黄金和钻石手镯。这个装饰见证了20世纪20年代charque pelotense经济的辉煌和衰落,将安德里亚与五代女性联系在一起,从圣特克拉男爵夫人到她的祖母noris,她从她那里得到了礼物。这也让她被家族的过去束缚住了手脚。除了对charque的贵族们对俘虏所犯下的残酷行为的最新和批判的编年史,还有noris在他生前传给他的19世纪圣髑盒。对话者在一个低而高的金盒子里看着这位在21世纪初去世的女家长:“如果我是我自己,如果我是我自己,那都是我祖母的事。我是由她抚养长大的,她给了我良心。〔...因为奴隶制的历史总是被否认,他们发明了另一个故事,一个轻奴隶制的故事。”
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
Dádiva em cena: uma opereta sobre joias de família
Joia de família não é sinônimo de joia. Essa coisa – que pode ou não ser feita com metais nobres e gemas – apenas recebe a alcunha “de família” em processos sociais, ou seja, ao se enredar em ancestrais e ser repassada como herança. Acompanhada de narrativas, converte-se em elos de experiências e trajetórias entre vivos, mortos e aqueles que nem nasceram. Crônicas e performances acompanham seus movimentos e nos permitem acessar práticas e emoções recebidas e legadas entre gerações.A alegoria que Fabricio Barreto (fotos) e Aline Lopes Rochedo (texto) compõem na narrativa imagética aqui apresentada emerge de uma etnografia sobre transmissão de joias de família, pesquisa que resultará na tese de Rochedo em 2020. Em termos teóricos, a autora parte de Ensaio sobre a dádiva, de Marcel Mauss, publicado em 1925 e que ainda hoje incita reflexões. Rochedo tenciona identificar práticas e dinâmicas envolvidas em repasses de joias de família, coisas às quais se atribuem valores para além do econômico. Intenta, ainda, compreender o que esses processos revelam sobre a vida coletiva, observando como sujeitos vivenciam histórias e instituições nas quais as relações existem, contemplando marcadores simbólicos de gênero e classe.Este ensaio é uma construção parcial de realidades expressas pela cenógrafa Andrea Mazza Terra, moradora de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Embora reúna na tese mais de 40 casos de repasses geracionais de joias de família, Rochedo destaca as prosas desta interlocutora pela riqueza de sua fala para narrar a família. A pesquisa se iniciou com entrevistas, conversas informais e observação realizadas na casa de Andrea, entre fevereiro e abril de 2018, quando ela discorreu sobre o bracelete da baronesa, joia de família que, inicialmente, fora presente de casamento do barão de Santa Tecla à futura esposa, Amélia, avó de sua bisavó.Rochedo reencontrou Andrea em maio de 2018, desta vez com Barreto, para fotografá-la interagindo com sua joia de família, e a experiência jogou novas luzes sobre possibilidades de dádiva. Mas o desfecho desse roteiro improvisado e imprevisível só foi possível graças a Raphael Scholl, amigo que apresentou Andrea à Rochedo e cuidou do figurino para as fotos. Barreto e Rochedo construíram a narrativa de imagens numa tentativa de misturar vozes e percepções na composição de uma experiência cênica protagonizada por Andrea com ajuda de Raphael e do estilista Maurício Guidotti.As fotos foram feitas em maio de 2018, no sobrado cansado e cravejado de vitrais Tiffany onde a interlocutora nasceu e reside. Neste palco tão familiar herdado dos avós maternos, Andrea compôs sua opereta imagética sobre o bracelete de ouro e diamantes forjado em Paris no século XIX. O adorno que testemunhou o esplendor e a decadência da economia do charque pelotense nos anos 1920 conecta Andrea a cinco gerações de mulheres, da baronesa de Santa Tecla até a avó, Nóris, de quem recebeu a dádiva. Também a mantém algemada ao passado da família. À crônica atualizada e crítica às crueldades cometidas contra cativos pelos barões do charque soma-se o relicário novecentista que lhe foi transmitido por Nóris em vida. A interlocutora vela na caixinha de ouro baixo e alta estima a matriarca falecida no início dos anos 2000: “Se sou o que sou, se sou como sou, é tudo da minha vó. Fui criada por ela, e a consciência foi ela quem me deu. [...] Porque a história da escravidão foi negada sempre, e inventaram uma outra história, a de uma escravidão light”.
求助全文
通过发布文献求助,成功后即可免费获取论文全文。 去求助
来源期刊
自引率
0.00%
发文量
0
×
引用
GB/T 7714-2015
复制
MLA
复制
APA
复制
导出至
BibTeX EndNote RefMan NoteFirst NoteExpress
×
提示
您的信息不完整,为了账户安全,请先补充。
现在去补充
×
提示
您因"违规操作"
具体请查看互助需知
我知道了
×
提示
确定
请完成安全验证×
copy
已复制链接
快去分享给好友吧!
我知道了
右上角分享
点击右上角分享
0
联系我们:info@booksci.cn Book学术提供免费学术资源搜索服务,方便国内外学者检索中英文文献。致力于提供最便捷和优质的服务体验。 Copyright © 2023 布克学术 All rights reserved.
京ICP备2023020795号-1
ghs 京公网安备 11010802042870号
Book学术文献互助
Book学术文献互助群
群 号:481959085
Book学术官方微信