{"title":"邻居和仇恨","authors":"A. Guerra, Lucas Alexandre Alves Rocha","doi":"10.23925/2594-3871.2021v30i1p146-167","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Na contemporaneidade, acirram-se os efeitos estruturais do mal-estar da civilização discutidos por Freud. Nos deteremos naquele que advém da relação com o próximo. Quando a pulsão de morte reproduz uma forma de insatisfação reiterada, o tratamento desse excesso pode recair sobre o corpo do outro que guarda uma diferença de gozo. A maneira como o gozo íntimo ganha forma de estrangeiro habitando, como o pior, o próximo, configura uma suposição de suspeita que sustenta um modo de laço social. Lacan chega a falar que, na matriz de toda fraternidade, está a segregação. Formamos comunidades de gozo e excluímos toda a forma diferente de satisfação que nos ameace. Na atualidade, com o acúmulo do capital, aliado aos efeitos do avanço científico, algo se modificou no laço social e produziu, dessa matriz, uma nova gramática de inimigo, que denominamos sujeito suposto suspeito como um dos nomes do pior. Contra essa lógica, a emancipação e as saídas possíveis que a psicanálise aponta para uma vida em-comum, na solidão da responsabilidade do gozo de cada um, dizem respeito às soluções éticas que enfrentam, desde dentro, todo o idealismo superegóico.","PeriodicalId":30262,"journal":{"name":"Psicologia em Revista","volume":"64 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-09-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"próximo e o ódio\",\"authors\":\"A. Guerra, Lucas Alexandre Alves Rocha\",\"doi\":\"10.23925/2594-3871.2021v30i1p146-167\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Na contemporaneidade, acirram-se os efeitos estruturais do mal-estar da civilização discutidos por Freud. Nos deteremos naquele que advém da relação com o próximo. Quando a pulsão de morte reproduz uma forma de insatisfação reiterada, o tratamento desse excesso pode recair sobre o corpo do outro que guarda uma diferença de gozo. A maneira como o gozo íntimo ganha forma de estrangeiro habitando, como o pior, o próximo, configura uma suposição de suspeita que sustenta um modo de laço social. Lacan chega a falar que, na matriz de toda fraternidade, está a segregação. Formamos comunidades de gozo e excluímos toda a forma diferente de satisfação que nos ameace. Na atualidade, com o acúmulo do capital, aliado aos efeitos do avanço científico, algo se modificou no laço social e produziu, dessa matriz, uma nova gramática de inimigo, que denominamos sujeito suposto suspeito como um dos nomes do pior. Contra essa lógica, a emancipação e as saídas possíveis que a psicanálise aponta para uma vida em-comum, na solidão da responsabilidade do gozo de cada um, dizem respeito às soluções éticas que enfrentam, desde dentro, todo o idealismo superegóico.\",\"PeriodicalId\":30262,\"journal\":{\"name\":\"Psicologia em Revista\",\"volume\":\"64 1\",\"pages\":\"\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2021-09-01\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"Psicologia em Revista\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.23925/2594-3871.2021v30i1p146-167\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Psicologia em Revista","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.23925/2594-3871.2021v30i1p146-167","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
Na contemporaneidade, acirram-se os efeitos estruturais do mal-estar da civilização discutidos por Freud. Nos deteremos naquele que advém da relação com o próximo. Quando a pulsão de morte reproduz uma forma de insatisfação reiterada, o tratamento desse excesso pode recair sobre o corpo do outro que guarda uma diferença de gozo. A maneira como o gozo íntimo ganha forma de estrangeiro habitando, como o pior, o próximo, configura uma suposição de suspeita que sustenta um modo de laço social. Lacan chega a falar que, na matriz de toda fraternidade, está a segregação. Formamos comunidades de gozo e excluímos toda a forma diferente de satisfação que nos ameace. Na atualidade, com o acúmulo do capital, aliado aos efeitos do avanço científico, algo se modificou no laço social e produziu, dessa matriz, uma nova gramática de inimigo, que denominamos sujeito suposto suspeito como um dos nomes do pior. Contra essa lógica, a emancipação e as saídas possíveis que a psicanálise aponta para uma vida em-comum, na solidão da responsabilidade do gozo de cada um, dizem respeito às soluções éticas que enfrentam, desde dentro, todo o idealismo superegóico.