{"title":"Lucía Tennina-小心诗人!圣保罗市的文学和周边地区。阿雷格里港:佐克,2017","authors":"A. S. Lima","doi":"10.1590/2316-40185817","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Ao associar o termo literatura com o adjetivo “marginal”, estamos classificando “as obras literárias produzidas e vinculadas à margem do corredor editorial, que não pertencem ou que se opõem aos cânones estabelecidos, que são de autoria de escritores originários de grupos sociais marginalizados, ou ainda, que tematizam o que é peculiar aos sujeitos e espaços tidos como marginais” (Nascimento, 2009, p. 20-21). Nessa estética literária, é perceptível, entre outras características próprias, o cunho social e político, haja vista que esses escritores, por meio da literatura, posicionam-se e denunciam os problemas do meio em que estão inseridos, além de firmar suas identidades, resgatando memórias individuais ou coletivas. A obra da professora e pesquisadora argentina Lucía Tennina, intitulada Cuidado com os poetas! Literatura e periferia da cidade de São Paulo, publicada pela editora Zouk (2017), traz um estudo aprofundado sobre essa literatura, problematizando as questões em torno do campo literário a partir das produções da literatura marginal da periferia paulista. Na introdução do livro, a autora narra em primeira pessoa sua motivação para com esse corpus de estudo, assim como a trajetória percorrida até chegar à fatura da obra, o que garante uma maior aproximação do leitor com o objeto narrado. Vale notar a importância do trabalho de campo antropológico1 realizado por Tennina, tendo em vista que muitos dos textos analisados não têm circulação fora do circuito dos saraus. Esse é um diferencial do livro, pois grande parte dos estudos dedicados a essa temática traz como corpus apenas textos dos autores mais conhecidos na área. A pesquisadora aproveita-se desse fato para criticar o cenário hegemônico do campo literário brasileiro, visto que este foi construído e edificado tendo como base obras produzidas por homens, heterossexuais, brancos e economicamente bem posicionados, que, para manter esse status, negam valor literário a determinadas produções, em benefício de outras, reafirmando suas identidades e excluindo, assim, as diferenças. Por essa razão, a crítica argentina destaca que há uma tensão quando esses grupos marginalizados se autorrepresentam, isto é, quando deixam de ser objeto da fala do outro para se tornar sujeito de seu próprio discurso, pois de acordo com Regina Dalcastagnè, o outro (mulheres, pobres, negros, trabalhadores) está, em geral, ausente; quando incluído nessas narrativas, costuma aparecer em posição secundária, sem voz e, muitas vezes, marcado por estereótipos. Daí a tensão presente em textos de escritores e escritoras provenientes de outros segmentos sociais, que têm de se contrapor a essas representações já fixadas na tradição literária e, ao mesmo tempo, reafirmar a legitimidade de sua própria construção (Dalcastagnè, 2007, p. 18).","PeriodicalId":43102,"journal":{"name":"Estudos de Literatura Brasileira Contemporanea","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2019-10-30","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Lucía Tennina - Cuidado com os poetas! Literatura e periferia da cidade de São Paulo. Porto Alegre: Zouk, 2017\",\"authors\":\"A. S. 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Lucía Tennina - Cuidado com os poetas! Literatura e periferia da cidade de São Paulo. Porto Alegre: Zouk, 2017
Ao associar o termo literatura com o adjetivo “marginal”, estamos classificando “as obras literárias produzidas e vinculadas à margem do corredor editorial, que não pertencem ou que se opõem aos cânones estabelecidos, que são de autoria de escritores originários de grupos sociais marginalizados, ou ainda, que tematizam o que é peculiar aos sujeitos e espaços tidos como marginais” (Nascimento, 2009, p. 20-21). Nessa estética literária, é perceptível, entre outras características próprias, o cunho social e político, haja vista que esses escritores, por meio da literatura, posicionam-se e denunciam os problemas do meio em que estão inseridos, além de firmar suas identidades, resgatando memórias individuais ou coletivas. A obra da professora e pesquisadora argentina Lucía Tennina, intitulada Cuidado com os poetas! Literatura e periferia da cidade de São Paulo, publicada pela editora Zouk (2017), traz um estudo aprofundado sobre essa literatura, problematizando as questões em torno do campo literário a partir das produções da literatura marginal da periferia paulista. Na introdução do livro, a autora narra em primeira pessoa sua motivação para com esse corpus de estudo, assim como a trajetória percorrida até chegar à fatura da obra, o que garante uma maior aproximação do leitor com o objeto narrado. Vale notar a importância do trabalho de campo antropológico1 realizado por Tennina, tendo em vista que muitos dos textos analisados não têm circulação fora do circuito dos saraus. Esse é um diferencial do livro, pois grande parte dos estudos dedicados a essa temática traz como corpus apenas textos dos autores mais conhecidos na área. A pesquisadora aproveita-se desse fato para criticar o cenário hegemônico do campo literário brasileiro, visto que este foi construído e edificado tendo como base obras produzidas por homens, heterossexuais, brancos e economicamente bem posicionados, que, para manter esse status, negam valor literário a determinadas produções, em benefício de outras, reafirmando suas identidades e excluindo, assim, as diferenças. Por essa razão, a crítica argentina destaca que há uma tensão quando esses grupos marginalizados se autorrepresentam, isto é, quando deixam de ser objeto da fala do outro para se tornar sujeito de seu próprio discurso, pois de acordo com Regina Dalcastagnè, o outro (mulheres, pobres, negros, trabalhadores) está, em geral, ausente; quando incluído nessas narrativas, costuma aparecer em posição secundária, sem voz e, muitas vezes, marcado por estereótipos. Daí a tensão presente em textos de escritores e escritoras provenientes de outros segmentos sociais, que têm de se contrapor a essas representações já fixadas na tradição literária e, ao mesmo tempo, reafirmar a legitimidade de sua própria construção (Dalcastagnè, 2007, p. 18).
期刊介绍:
Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea é um periódico científico quadrimestral do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, da Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília. A revista tem o compromisso de fomentar o debate crítico sobre a literatura contemporânea produzida no Brasil, em suas diferentes manifestações, a partir dos mais diversos enfoques teóricos e metodológicos, com abertura para o diálogo com outras literaturas e outras expressões artísticas. Seu conteúdo destina-se, em especial, a pesquisadores, professores e estudantes interessados em literatura brasileira contemporânea.