Contornos do espaço autobiográfico: o autorretrato literário em Sergio Kokis

Entre as diversas (e controversas) modalidades das escritas de si, o autorretrato literario permanece um terreno pouco explorado te­oricamente. Embora o termo emprestado as artes visuais ja integre a escrita literaria ha muito tempo, sua conceitualizacao continua escorregadia, sobretudo na literatura contemporânea, em que se observa uma hibridacao de diversos subgeneros do autobiografico. No intuito de contribuir a reflexao acerca da projecao de si nessa categoria da autoescrita, propoe-se no presente trabalho, inicial­mente, uma atualizacao de ideias de Michel Beaujour, critico que se debrucou sobre o tema nos anos 1980, em dialogo com as re­centes analises de Robert Dion e Frances Fortier. Tal empreitada oferece base teorica para uma analise de textos autobiograficos do pintor e escritor de origem brasileira radicado no Quebec Sergio Kokis, em especial, da obra L’amour du lointain (2012), autorre­trato literario que tem como mote o mergulho nos bastidores de sua criacao ficcional. Extrapolando o exercicio da autoanalise, Kokis propoe nesse texto uma revisao das bases de sua escrita romanesca, ao retracar certos caminhos do vivido para contribuir igualmente a critica literaria e a impressao de sua experiencia como leitor e pintor, sem deixar de revelar as inconsistencias e contrariedades dos rotulos da escrita autobiografica. --- DOI: http://dx.doi.org/10.12957/matraga.2017.30202