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A pergunta que se coloca é: como é que as paisagens sonoras das entidades e recursos naturais contribuem para os debates culturais atuais sobre o Antropoceno e a crítica ecológica? Para responder a esta questão, realizo uma análise audiovisual e discursiva, complementada por entrevistas com realizadores, compositores e sonoplastas. Esta investigação demonstra que existe um discurso cinematográfico contraditório assente, por um lado, numa arte realista que é lida como um “cinema nacional”, uma vez que a ação ocorre em localizações geográficas do país. Por outro lado, encontramos traços de uma estética antirrealista, pois os dispositivos tecnológicos dentro da narrativa transformam esse mundo natural, tornando-o um instrumento de crítica social e pós-humana. O som e a música desempenham um papel determinante nesse contexto. Durante a rodagem, a gravação e a reprodução sonora criam um ambiente reconhecível, ancorando a cena num espaço que é familiar ao espectador. Todavia, a composição musical, nem sempre seguindo as convenções da ficção científica internacional, modifica o sentido do mundo natural, tornando-o mais cómico, poético ou político. 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Capturadas e mediadas: As paisagens sonoras dos recursos naturais e não-humanos no cinema de ficção distópica em Portugal
Neste artigo, defendo que, no cinema em Portugal, o subgénero distópico é um dos repertórios onde animais, plantas, fungos, microrganismos e recursos naturais, considerados parte do mundo natural, são não só capturados, mas também mediados por tecnologias digitais. Através de um quadro teórico-metodológico interdisciplinar, adaptado a uma abordagem musicológica, esta pesquisa analisa cinco filmes produzidos no século XXI: Real Playing Game (2013), Mutant Blast (2018), Solum (2019), Interface (2020) e Mar Infinito (2021). O objetivo é compreender os processos compositivos e estéticos do som e da música, bem como o seu papel na representação do mundo natural no cinema distópico. A pergunta que se coloca é: como é que as paisagens sonoras das entidades e recursos naturais contribuem para os debates culturais atuais sobre o Antropoceno e a crítica ecológica? Para responder a esta questão, realizo uma análise audiovisual e discursiva, complementada por entrevistas com realizadores, compositores e sonoplastas. Esta investigação demonstra que existe um discurso cinematográfico contraditório assente, por um lado, numa arte realista que é lida como um “cinema nacional”, uma vez que a ação ocorre em localizações geográficas do país. Por outro lado, encontramos traços de uma estética antirrealista, pois os dispositivos tecnológicos dentro da narrativa transformam esse mundo natural, tornando-o um instrumento de crítica social e pós-humana. O som e a música desempenham um papel determinante nesse contexto. Durante a rodagem, a gravação e a reprodução sonora criam um ambiente reconhecível, ancorando a cena num espaço que é familiar ao espectador. Todavia, a composição musical, nem sempre seguindo as convenções da ficção científica internacional, modifica o sentido do mundo natural, tornando-o mais cómico, poético ou político. Em resumo, esses filmes, na sua maioria, reagem criticamente à tendência geral do antropocentrismo, colocando o mundo natural como protagonista.