影子形象中还存在什么?

Vista Pub Date : 2024-01-29 DOI:10.21814/vista.5257
Flora Paim
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As duas primeiras foram implosões espetaculares e televisionadas, enquanto a última, que presenciei, foi uma lenta desconstrução que durou meses. Na fotografia, uma mulher vestida de branco posa numa varanda da Torre 1 do antigo Bairro do Aleixo. Ao fundo, paira o esqueleto fálico da Torre 4, implodida décadas depois. Quando encontrada, a fotografia, arruinada pelo tempo e pelas circunstâncias, sugeria uma afinidade conceptual com os escombros que a cercavam. Neste artigo, detenho-me sobre essa fotografia encontrada, objetivando desvelar os processos e as tensões armazenadas nesse fragmento. Recorro às relações ontológicas entre fotografia e morte, também entre fotografia e ruína, para analisar a imagem espectral desse sítio obliterado. Desenvolvo o que o encontro com ela pode indicar sobre a memória do bairro, a sua imagem pública, assim como o longo e violento processo de remoção dos seus moradores. 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摘要

当一栋建筑被拆除时,其统一规划的结构会被分解成无数碎片。这些碎片杂乱无章,模糊了私人空间(家庭空间)与公共空间(先前占用的土地)之间的界限。2019 年,我在波尔图 Aleixo 社区最后一栋塔楼拆除后的废墟中发现了一张全家福照片。这是一个建于 20 世纪 70 年代的公共住宅区,用于安置因城市改造而流离失所的里贝拉-巴雷多家庭。随着时间的推移,这五座塔楼已经容纳了大量不断变化的人口,他们占用了这种迄今为止不同寻常的住房模式。2011 年至 2019 年间,阿莱克索曾三次成为拆除行动的目标,其政治理由是结构和社会退化。前两次是电视转播的轰轰烈烈的拆除行动,而我亲眼目睹的最后一次则是持续数月的缓慢拆除。照片中,一位身着白衣的女士在老阿莱克索街区 1 号楼的阳台上摆姿势。背景中隐约可见数十年后内爆的 4 号塔的噬人骨架。这张被时间和环境毁坏的照片一经发现,就在概念上与周围的瓦砾产生了一种亲和力。在这篇文章中,我将重点讨论这张被发现的照片,旨在揭示存储在这个碎片中的过程和张力。我从摄影与死亡、摄影与废墟之间的本体论关系出发,分析了这一湮没遗址的幽灵图像。我探讨了与它的相遇可能昭示的街区记忆、其公众形象,以及将其居民迁走的漫长而暴力的过程。我提出了 "影子图像 "的概念,作为解读这一几乎消失的痕迹的关键,它顽固地确认了一个持不同政见和复杂的地方的存在,据称它已从公共空间中抹去,并被主流意识从城市记忆中压制。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
O que Persiste na Imagem-Escombro?
Quando uma edificação é demolida, a sua estrutura, unitária e planeada, é desintegrada em incontáveis fragmentos. Heterogéneos e desordenados, estes fragmentos borram os limites entre o que era privado — o espaço doméstico — e o que é público — o terreno antes ocupado. Em 2019, encontrei uma fotografia familiar entre os escombros da demolição das últimas torres do Bairro do Aleixo, no Porto. Este foi um conjunto de habitação pública construído na década de 1970 para realojar famílias da Ribeira-Barredo, deslocadas por uma reabilitação urbana. Ao longo do tempo, as cinco torres abrigaram uma população numerosa e mutável que se apropriou desse modelo de habitação até então incomum. Entre 2011 e 2019, o Aleixo foi alvo de três operações de demolição, politicamente justificadas por sua degradação estrutural e social. As duas primeiras foram implosões espetaculares e televisionadas, enquanto a última, que presenciei, foi uma lenta desconstrução que durou meses. Na fotografia, uma mulher vestida de branco posa numa varanda da Torre 1 do antigo Bairro do Aleixo. Ao fundo, paira o esqueleto fálico da Torre 4, implodida décadas depois. Quando encontrada, a fotografia, arruinada pelo tempo e pelas circunstâncias, sugeria uma afinidade conceptual com os escombros que a cercavam. Neste artigo, detenho-me sobre essa fotografia encontrada, objetivando desvelar os processos e as tensões armazenadas nesse fragmento. Recorro às relações ontológicas entre fotografia e morte, também entre fotografia e ruína, para analisar a imagem espectral desse sítio obliterado. Desenvolvo o que o encontro com ela pode indicar sobre a memória do bairro, a sua imagem pública, assim como o longo e violento processo de remoção dos seus moradores. Chego à noção de “imagem-escombro” como chave de leitura para esse vestígio quase desaparecido que afirma teimosamente a persistência de um lugar dissidente e complexo, pretensamente apagado do espaço público e suprimido da memória urbana pelas sensibilidades dominantes.
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