Corpos insubmissos em busca da harmonia do mundo

O presente artigo se propõe a ler os contos – “Imitação do Êxodo” e “Passagem para Marion”, inseridos na coletânea O amor em Lobito Bay (2016) –, destacando a configuração estético-política da consagrada escritora por­tuguesa contemporânea Lídia Jorge. Declarações da própria autora sobre o seu ofício literário e reflexões críticas de Vladimir Safatle, presentes na obra Em um com o impulso (2022), nos permitirão analisar os afetos e percepções das personagens Juliana e Marion – corpos insubmissos em busca da harmonia do mundo – em seu processo de emancipação social. Ambos, dotados dos sentidos humanitário e de justiça, subvertem-se contra o poder coercitivo das Instituições, inscrevem o seu sonho e o seu desejo e permitem-se ouvir a música do mundo. A singular enunciação discursiva de Lídia Jorge, ao caminhar pelo limiar, inscreve imagens e parábolas que se revelam testemunhas da História e das existências inquietantes, passíveis de emergirem das sombras em todo o seu esplendor.