Matheus Pereira De Freitas, Hermano De França Rodrigues
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Atravessando o peculiar terreno gastronômico da morte: Iguarias do sexo na poética agonizante de Roberto Bolaño
Nos dédalos fantasísticos da literatura, considerando as singularidades melífluas do discurso erótico-pornográfico, a palavra é dominada pelo signo do excesso, uma sinfonia pulsante que privilegia os domínios auspiciosos da carne que se deixa afetar, inquisitorialmente, pelas idiossincrasias da subjetividade. Por essa tessitura particular, articulando os operadores licensiosos da literatura obscena com os algoritmos nebulosos do fantástico, destaca-se a obra Putas assassinas (2001), produção de um dos maiores escritores cubanos do contemporâneo, Roberto Bolaño (2001). Em seu conto, O retorno, peça que compõe a obra em tela, vislumbra-se um engenhoso esgarçamento dos discursos já referidos. Na narrativa, inicialmente, testemunhamos a sobrevida de um narrador fantasma que, resignadamente, acompanha os descompassos de seu corpo extraviado, rumo a uma experiência necrofílica, em que o cadáver se submete a um copioso ritual de abusos amorosos, arqueado por Villeneuve, um distinto estilista francês que, por acaso, nutre um aguçado sentimento por amantes sem vida. Assim, no desfiar das ações abusivas do violador, decorrer-se-á o suposto encontro do algoz com o fantasma de seu desejo. Desse modo, com o intuito de investigar as antinomias que coadunam o fantástico à imaginação erótica/pornográfica, considerando tanto as teorias literárias quanto as teorias psicanalíticas, debruçar-nos-emos sobre o universo bolaniano.