Sarah Queiroz Valença Cassino, Regina Rocco, Andréia Luiz Montenegro da Costa, Mario Vicente Giordano
{"title":"梅毒、艾滋病毒和HTLV合并感染孕妇的管理:多学科经验","authors":"Sarah Queiroz Valença Cassino, Regina Rocco, Andréia Luiz Montenegro da Costa, Mario Vicente Giordano","doi":"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1085","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: O cuidado pré-natal desempenha um papel fundamental na identificação de comorbidades durante a gravidez, permitindo um manejo adequado das situações encontradas. Neste relato de caso, descreveremos a situação de uma gestante em situação de vulnerabilidade social, coinfectada com HIV e HTLV, que apresentou anemia grave, sífilis e paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV. Relato de caso: A paciente é uma mulher de 23 anos, solteira, sem companheiro, e estava vivenciando uma gravidez não planejada. Ela possui baixa escolaridade, nunca trabalhou e não possui renda mensal. A paciente segue a religião evangélica e é GII P0 AI (gravidez de segundo filho, parto vaginal sem intervenções prévias). Foi diagnosticada com HIV há 6 anos, mas não aderiu ao tratamento. Ela suspendeu o uso de cocaína ao descobrir a gravidez, na 20ª semana. Na atenção primária, foi realizado um teste rápido positivo para sífilis, e ela iniciou o tratamento com a primeira dose. O exame físico realizado durante a primeira consulta pré-natal revelou uma gestante lúcida, orientada, com boa coloração, hidratação adequada e sem icterícia. Não foram identificados gânglios palpáveis. A cavidade oral apresentava condições precárias de higiene. O abdome era compatível com a idade gestacional, o fundo uterino media 24 cm e os batimentos cardíacos fetais estavam em 154 bpm. A paciente apresentava edema nos membros inferiores (+2/+4) e dificuldade para deambular. Ela teve episódios de sífilis em 2015 e 2020. O teste VDRL inicial foi de 1/256, mas diminuiu para 1/16 após 2 meses de tratamento. Na primeira consulta, a paciente iniciou o esquema antirretroviral com tenofovir, lamivudina e raltegravir. Após 3 meses, a carga viral do HIV tornou-se indetectável. A dificuldade de locomoção associada ao HIV levantou a suspeita de infecção por HTLV, que foi confirmada por sorologia positiva para HTLV-1/2. Na 39ª semana de gestação, ela foi submetida a um parto cesáreo devido ao sofrimento fetal agudo, caracterizado por taquicardia fetal persistente à cardiotocografia. O parto transcorreu sem complicações, resultando no nascimento de um recém-nascido com índice de Apgar de 9/9 e peso de 3.115 g. Durante a internação, a paciente relatou incontinência urinária, o que levantou a possibilidade de uma bexiga neurogênica associada ao HTLV. A falta de autocuidado com o recém-nascido suscitou a hipótese de comprometimento neurológico pelo HTLV. O exame neurológico revelou uma marcha paretoespástica e diadococinesia comprometida na coordenação. Não foram observadas alterações na postura estática, no tônus muscular, na sensibilidade ou nos sinais meníngeos. Foi identificada hiperreflexia nos membros inferiores, presença de reflexos abdominais superior, medial e inferior, reflexo de Babinski bilateral sem clônus e reflexo de Hoffman bilateral. Realizou-se punção lombar para coleta de líquor, que apresentou aspecto límpido, teste VDRL negativo, baciloscopia para BAAR negativa e teste para HTLV 1/2 positivo. Dessa forma, foi possível confirmar o diagnóstico de paraparesia espástica tropical ou mielopatia associada ao HTLV-1 (PET/MAH). A paciente recebeu pulsoterapia com metilprednisolona 1 g, por via venosa, em 3 episódios e foi encaminhada para fisioterapia. Conclusão: A infecção pelo HTLV apresenta um curso silencioso, por isso é importante realizar a testagem mesmo na ausência de sintomas. O período pré-natal é uma oportunidade estratégica para a testagem. Nesse caso, as assistências obstétrica, neurológica e fisioterápica foram essenciais para o sucesso no manejo da paciente.","PeriodicalId":84971,"journal":{"name":"Jornal brasileiro de ginecologia","volume":"158 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Manejo de uma gestante coinfectada por sífilis, HIV e HTLV: uma experiência multidisciplinar\",\"authors\":\"Sarah Queiroz Valença Cassino, Regina Rocco, Andréia Luiz Montenegro da Costa, Mario Vicente Giordano\",\"doi\":\"10.5327/jbg-2965-3711-2023133s1085\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Introdução: O cuidado pré-natal desempenha um papel fundamental na identificação de comorbidades durante a gravidez, permitindo um manejo adequado das situações encontradas. 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Manejo de uma gestante coinfectada por sífilis, HIV e HTLV: uma experiência multidisciplinar
Introdução: O cuidado pré-natal desempenha um papel fundamental na identificação de comorbidades durante a gravidez, permitindo um manejo adequado das situações encontradas. Neste relato de caso, descreveremos a situação de uma gestante em situação de vulnerabilidade social, coinfectada com HIV e HTLV, que apresentou anemia grave, sífilis e paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV. Relato de caso: A paciente é uma mulher de 23 anos, solteira, sem companheiro, e estava vivenciando uma gravidez não planejada. Ela possui baixa escolaridade, nunca trabalhou e não possui renda mensal. A paciente segue a religião evangélica e é GII P0 AI (gravidez de segundo filho, parto vaginal sem intervenções prévias). Foi diagnosticada com HIV há 6 anos, mas não aderiu ao tratamento. Ela suspendeu o uso de cocaína ao descobrir a gravidez, na 20ª semana. Na atenção primária, foi realizado um teste rápido positivo para sífilis, e ela iniciou o tratamento com a primeira dose. O exame físico realizado durante a primeira consulta pré-natal revelou uma gestante lúcida, orientada, com boa coloração, hidratação adequada e sem icterícia. Não foram identificados gânglios palpáveis. A cavidade oral apresentava condições precárias de higiene. O abdome era compatível com a idade gestacional, o fundo uterino media 24 cm e os batimentos cardíacos fetais estavam em 154 bpm. A paciente apresentava edema nos membros inferiores (+2/+4) e dificuldade para deambular. Ela teve episódios de sífilis em 2015 e 2020. O teste VDRL inicial foi de 1/256, mas diminuiu para 1/16 após 2 meses de tratamento. Na primeira consulta, a paciente iniciou o esquema antirretroviral com tenofovir, lamivudina e raltegravir. Após 3 meses, a carga viral do HIV tornou-se indetectável. A dificuldade de locomoção associada ao HIV levantou a suspeita de infecção por HTLV, que foi confirmada por sorologia positiva para HTLV-1/2. Na 39ª semana de gestação, ela foi submetida a um parto cesáreo devido ao sofrimento fetal agudo, caracterizado por taquicardia fetal persistente à cardiotocografia. O parto transcorreu sem complicações, resultando no nascimento de um recém-nascido com índice de Apgar de 9/9 e peso de 3.115 g. Durante a internação, a paciente relatou incontinência urinária, o que levantou a possibilidade de uma bexiga neurogênica associada ao HTLV. A falta de autocuidado com o recém-nascido suscitou a hipótese de comprometimento neurológico pelo HTLV. O exame neurológico revelou uma marcha paretoespástica e diadococinesia comprometida na coordenação. Não foram observadas alterações na postura estática, no tônus muscular, na sensibilidade ou nos sinais meníngeos. Foi identificada hiperreflexia nos membros inferiores, presença de reflexos abdominais superior, medial e inferior, reflexo de Babinski bilateral sem clônus e reflexo de Hoffman bilateral. Realizou-se punção lombar para coleta de líquor, que apresentou aspecto límpido, teste VDRL negativo, baciloscopia para BAAR negativa e teste para HTLV 1/2 positivo. Dessa forma, foi possível confirmar o diagnóstico de paraparesia espástica tropical ou mielopatia associada ao HTLV-1 (PET/MAH). A paciente recebeu pulsoterapia com metilprednisolona 1 g, por via venosa, em 3 episódios e foi encaminhada para fisioterapia. Conclusão: A infecção pelo HTLV apresenta um curso silencioso, por isso é importante realizar a testagem mesmo na ausência de sintomas. O período pré-natal é uma oportunidade estratégica para a testagem. Nesse caso, as assistências obstétrica, neurológica e fisioterápica foram essenciais para o sucesso no manejo da paciente.