{"title":"乳房x线照相术筛查和第四系预防流行的悖论","authors":"Charles Dalcanale Tesser","doi":"10.5712/rbmfc18(45)3487","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Introdução: Apesar dos sobrediagnósticos (diagnósticos de doenças que não se manifestariam clinicamente) no rastreamento mamográfico terem tornado duvidoso o balanço benefícios-danos, persistem suas recomendações positivas às mulheres (>50 anos) e aos profissionais, o que demanda prevenção quaternária — evitação de danos iatrogênicos e sobremedicalização. Nessa persistência, estão envolvidos expectativas fictícias, cultura moralista preventivista, medicina de vigilância e biocapitalismo (interesses econômicos). Argumentamos que o “paradoxo da popularidade” — expansão paradoxal da popularidade dos rastreamentos alimentada pela produção de seus danos iatrogênicos — tem mais importância nesse contexto do que se tem considerado. Objetivo: Descrever e discutir alguns modos de operação possíveis desse paradoxo nos profissionais de saúde. Métodos: Ensaio baseado em literatura selecionada intencionalmente. Resultados: Para além da síntese desse paradoxo nas populações, sua operacionalidade em profissionais de saúde envolve fatores cognitivos (invisibilidade dos casos sobrediagnosticados, diluição dos casos graves entre os sobrediagnosticados e feedbacks cognitivos apenas positivos na experiência clínica), políticos (interesses corporativos e comerciais poderosos) e psicológicos (significativa recompensa subjetiva de tratar mais pessoas com ótimo resultado e menor desgaste emocional derivado do cuidado aos casos sobrediagnosticados, além de outros comuns vieses psicocognitivos). Conclusões: Os processos discutidos podem ser relevantes para a prevenção quaternária e um melhor manejo clínico e institucional desse rastreamento, que deve envolver os profissionais da Atenção Primária à Saúde e vários outros atores sociais.","PeriodicalId":21274,"journal":{"name":"Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade","volume":"75 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-10-24","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"paradoxo da popularidade no rastreamento mamográfico e a prevenção quaternária\",\"authors\":\"Charles Dalcanale Tesser\",\"doi\":\"10.5712/rbmfc18(45)3487\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Introdução: Apesar dos sobrediagnósticos (diagnósticos de doenças que não se manifestariam clinicamente) no rastreamento mamográfico terem tornado duvidoso o balanço benefícios-danos, persistem suas recomendações positivas às mulheres (>50 anos) e aos profissionais, o que demanda prevenção quaternária — evitação de danos iatrogênicos e sobremedicalização. 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paradoxo da popularidade no rastreamento mamográfico e a prevenção quaternária
Introdução: Apesar dos sobrediagnósticos (diagnósticos de doenças que não se manifestariam clinicamente) no rastreamento mamográfico terem tornado duvidoso o balanço benefícios-danos, persistem suas recomendações positivas às mulheres (>50 anos) e aos profissionais, o que demanda prevenção quaternária — evitação de danos iatrogênicos e sobremedicalização. Nessa persistência, estão envolvidos expectativas fictícias, cultura moralista preventivista, medicina de vigilância e biocapitalismo (interesses econômicos). Argumentamos que o “paradoxo da popularidade” — expansão paradoxal da popularidade dos rastreamentos alimentada pela produção de seus danos iatrogênicos — tem mais importância nesse contexto do que se tem considerado. Objetivo: Descrever e discutir alguns modos de operação possíveis desse paradoxo nos profissionais de saúde. Métodos: Ensaio baseado em literatura selecionada intencionalmente. Resultados: Para além da síntese desse paradoxo nas populações, sua operacionalidade em profissionais de saúde envolve fatores cognitivos (invisibilidade dos casos sobrediagnosticados, diluição dos casos graves entre os sobrediagnosticados e feedbacks cognitivos apenas positivos na experiência clínica), políticos (interesses corporativos e comerciais poderosos) e psicológicos (significativa recompensa subjetiva de tratar mais pessoas com ótimo resultado e menor desgaste emocional derivado do cuidado aos casos sobrediagnosticados, além de outros comuns vieses psicocognitivos). Conclusões: Os processos discutidos podem ser relevantes para a prevenção quaternária e um melhor manejo clínico e institucional desse rastreamento, que deve envolver os profissionais da Atenção Primária à Saúde e vários outros atores sociais.