{"title":"陀思妥耶夫斯基的《与圣彼得堡的会面》","authors":"Gabriella de Oliveira Silva","doi":"10.29327/2202316.4.4-2","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"De um dia para outro, transportei-me do calor de 40 oC da cidade de, ironicamente, Queimados, para os -20oC da gelada São Petersburgo. A primeira visão da Rússia que tive da janela do avião: as simbólicas bétulas na neve. “Como eu vim parar aqui?” se repetia na minha cabeça o tempo todo. Parecia que o espírito fugaz do poema de Fiódor Tiútchev – Olhava eu, de pé sobre o Nievá2 – havia feito o caminho contrário de seus versos e me levado do quente Sul para o Norte feiticeiro e frio. Na antiga Leningrado, a neve derrete e recongela, formando verdadeiras armadilhas glaciais pelas calçadas. Depois de mais de dez tombos em menos de uma semana, comecei a entender a obsessão de alguns escritores russos, como Daniil Kharms, em escrever sobre pessoas que caem. Também comecei a entender melhor a fala de Svidrigáilov, de Crime e Castigo, sobre as influências estranhas e climáticas que abatem a alma em São Petersburgo, tornando-a uma cidade de semiloucos3. Em uma semana, sem o sol que de repente me pareceu tão saudoso, já me encontrava em profunda tristeza e estranhamento, falando sozinha e andando sem saber por onde. Quase como Raskólnikov, com a diferença que o sol ardia sobre a cabeça deste. Mas, como saudavam o Sonhador de Noites Brancas4, os prédios da","PeriodicalId":143936,"journal":{"name":"Slovo - Revista de Estudos em Eslavística","volume":"269 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"1900-01-01","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Um encontro com a Petersburgo de Dostoiévski\",\"authors\":\"Gabriella de Oliveira Silva\",\"doi\":\"10.29327/2202316.4.4-2\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"De um dia para outro, transportei-me do calor de 40 oC da cidade de, ironicamente, Queimados, para os -20oC da gelada São Petersburgo. A primeira visão da Rússia que tive da janela do avião: as simbólicas bétulas na neve. “Como eu vim parar aqui?” se repetia na minha cabeça o tempo todo. Parecia que o espírito fugaz do poema de Fiódor Tiútchev – Olhava eu, de pé sobre o Nievá2 – havia feito o caminho contrário de seus versos e me levado do quente Sul para o Norte feiticeiro e frio. Na antiga Leningrado, a neve derrete e recongela, formando verdadeiras armadilhas glaciais pelas calçadas. Depois de mais de dez tombos em menos de uma semana, comecei a entender a obsessão de alguns escritores russos, como Daniil Kharms, em escrever sobre pessoas que caem. Também comecei a entender melhor a fala de Svidrigáilov, de Crime e Castigo, sobre as influências estranhas e climáticas que abatem a alma em São Petersburgo, tornando-a uma cidade de semiloucos3. Em uma semana, sem o sol que de repente me pareceu tão saudoso, já me encontrava em profunda tristeza e estranhamento, falando sozinha e andando sem saber por onde. Quase como Raskólnikov, com a diferença que o sol ardia sobre a cabeça deste. Mas, como saudavam o Sonhador de Noites Brancas4, os prédios da\",\"PeriodicalId\":143936,\"journal\":{\"name\":\"Slovo - Revista de Estudos em Eslavística\",\"volume\":\"269 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"1900-01-01\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"Slovo - Revista de Estudos em Eslavística\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.29327/2202316.4.4-2\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Slovo - Revista de Estudos em Eslavística","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.29327/2202316.4.4-2","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
De um dia para outro, transportei-me do calor de 40 oC da cidade de, ironicamente, Queimados, para os -20oC da gelada São Petersburgo. A primeira visão da Rússia que tive da janela do avião: as simbólicas bétulas na neve. “Como eu vim parar aqui?” se repetia na minha cabeça o tempo todo. Parecia que o espírito fugaz do poema de Fiódor Tiútchev – Olhava eu, de pé sobre o Nievá2 – havia feito o caminho contrário de seus versos e me levado do quente Sul para o Norte feiticeiro e frio. Na antiga Leningrado, a neve derrete e recongela, formando verdadeiras armadilhas glaciais pelas calçadas. Depois de mais de dez tombos em menos de uma semana, comecei a entender a obsessão de alguns escritores russos, como Daniil Kharms, em escrever sobre pessoas que caem. Também comecei a entender melhor a fala de Svidrigáilov, de Crime e Castigo, sobre as influências estranhas e climáticas que abatem a alma em São Petersburgo, tornando-a uma cidade de semiloucos3. Em uma semana, sem o sol que de repente me pareceu tão saudoso, já me encontrava em profunda tristeza e estranhamento, falando sozinha e andando sem saber por onde. Quase como Raskólnikov, com a diferença que o sol ardia sobre a cabeça deste. Mas, como saudavam o Sonhador de Noites Brancas4, os prédios da