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Dotada de um tratamento estilístico muito singular, sua filmografia diverge de modo substancial da atividade cinematográfica de seus conterrâneos, que entre as décadas de 1960 e 1980, embora o relativo degelo político, ainda operava segundo a normatização estética imposta pelo Realismo socialista do período stalinista, quando a inclinação geral do cinema soviético era a de retratar o povo russo por meio de grandes narrativas heróicas com fortes tonalidades nacionalistas. Na contramão desta tendência, as películas de Andrei Tarkóvski seguem um impulso criativo diverso, tematicamente orientadas por um porvir destruidor e apocalíptico lembremos do cenário distópico de Stalker (1979) ou da ameaça bélica que paira sob o enredo de O sacrifício (Offret, 1986) -, antagônico ao passado e ao presente gloriosos ilustrados nas telas dos seus contemporâneos. Seguido pelos epítetos “poético”, “místico” ou “transcendental”, seu cinema com frequência foi interpretado como elitista, pouco didático ou instrutivo e, portanto, estranho aos ideais socialistas e revolucionários. Pouco partidário do patriotismo ideológico propagado nas produções de sua época, o trabalho de Tarkóvski condensa um panorama cultural multifacetado, conjugando diferentes registros artísticos o teatro, a poesia, a música e a pintura na confecção de um projeto estético singular. 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Ecos de uma tradição, a natureza morta no cinema de Andrei Tarkóvski
Com uma morte prematura aos 54 anos, Andrei Arsiénievitch Tarkóvski (1932-1986) é um cineasta que produziu relativamente pouco, sobretudo quando comparado a outros grandes realizadores do século XX como o inglês Alfred Hitchcock, que traz em seu currículo a direção de mais de cinquenta filmes, ou o estadunidense John Ford, este com uma lista que abrange mais de cem produções. Exilado em Paris, vítima de câncer, o diretor soviético deixou para a história do cinema um legado de apenas sete longas-metragens. Dotada de um tratamento estilístico muito singular, sua filmografia diverge de modo substancial da atividade cinematográfica de seus conterrâneos, que entre as décadas de 1960 e 1980, embora o relativo degelo político, ainda operava segundo a normatização estética imposta pelo Realismo socialista do período stalinista, quando a inclinação geral do cinema soviético era a de retratar o povo russo por meio de grandes narrativas heróicas com fortes tonalidades nacionalistas. Na contramão desta tendência, as películas de Andrei Tarkóvski seguem um impulso criativo diverso, tematicamente orientadas por um porvir destruidor e apocalíptico lembremos do cenário distópico de Stalker (1979) ou da ameaça bélica que paira sob o enredo de O sacrifício (Offret, 1986) -, antagônico ao passado e ao presente gloriosos ilustrados nas telas dos seus contemporâneos. Seguido pelos epítetos “poético”, “místico” ou “transcendental”, seu cinema com frequência foi interpretado como elitista, pouco didático ou instrutivo e, portanto, estranho aos ideais socialistas e revolucionários. Pouco partidário do patriotismo ideológico propagado nas produções de sua época, o trabalho de Tarkóvski condensa um panorama cultural multifacetado, conjugando diferentes registros artísticos o teatro, a poesia, a música e a pintura na confecção de um projeto estético singular. Concisa, mas por isso não menos densa, sua filmografia reúne materiais produzidos em fronteiras históricas e territoriais muito distantes das soviéticas, engendrando uma espécie de rede