根据健康权将肿瘤药物合法化

Willian Maranhão, S. Mendes
{"title":"根据健康权将肿瘤药物合法化","authors":"Willian Maranhão, S. Mendes","doi":"10.14295/jmphc.v14.1267","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"A participação social para a formação do campo da saúde foi objeto do Movimento da Reforma Sanitária brasileira, que fez a defesa da saúde como direito de todos, em que o Estado deveria atuar conjuntamente com a sociedade por meio de espaços públicos de participação social, auxiliando na formulação das ações em saúde e trazendo a percepção da saúde como direito de cidadania, aproximando as decisões e ações das demandas sociais. A definição de saúde como direito abrange aspectos coletivos e individuais. O direito à saúde em seu aspecto coletivo ou social privilegia a igualdade, enquanto direito coletivo, de modo que seja possível que toda população tenha acesso à saúde. No aspecto individual, a liberdade é privilegiada, referindo-se à relação do indivíduo com o meio para a busca de seu bem-estar em diferentes aspectos, como físico, mental e social, por exemplo, numa visão integrada da saúde. Enquanto direito social fundamental, o direito à saúde está previsto na Constituição Brasileira, porém a população encontra dificuldades para acessar os serviços de saúde, de modo que as demandas de saúde pública têm sido discutidas em juízo, resultando no fenômeno da judicialização da saúde, que vem sendo utilizada como meio para efetivação do direito à saúde. Observa-se um aumento na demanda ao judiciário para reivindicação ao direito sanitário no sentido de efetivar a garantia constitucional, relacionados às relações conflituosas entre serviços de saúde, usuários e profissionais gerada pela escassez de recursos diferenciados, tecnologias e mercantilização da saúde. A judicialização da saúde avança para além de seu componente jurídico e de gestão de serviços públicos, envolvendo outros aspectos: sociais, políticos, sanitários e éticos. Devido aos vários fatores que o envolve, o debate em torno da judicialização da saúde é pertinente e relevante, representando o desafio de implementação de um sistema amplo e inclusivo como o Sistema Único de Saúde – SUS, um dos avanços do sistema jurídico brasileiro, desenvolvido em um ambiente de desigualdade e de necessidades essenciais de saúde, que não são reduzidas somente pela judicialização da demanda, mas que esta possibilita ao cidadão a reivindicação do acesso a um direito garantido, incentivando os gestores da saúde a adequar e ampliar as políticas de acordo com as demandas sociais, avançando na questão do acesso à saúde. A demanda judicial por medicamentos é a principal expressão do fenômeno da judicialização da saúde. Medicamentos de alto custo, como os antineoplásicos, são objeto de demandas judiciais por pacientes que buscam acesso a estes para tratamento do câncer. Com poucas exceções, o Ministério da Saúde – MS e as Secretarias da Saúde não fornecem ou padronizam medicamentos antineoplásicos diretamente aos usuários do SUS ou hospitais, pois a assistência oncológica no SUS está inclusa no bloco da Assistência à Saúde de Média e Alta Complexidade (MAC), sendo ressarcida por meio de procedimentos específicos por conta da variação da modalidade terapêutica do câncer conforme o estágio em que se encontra a doença. Devido à complexidade da tecnologia, dificuldade de acesso aos serviços oncológicos e alto custo envolvido, a área da oncologia destaca-se em valores e volume de demandas judiciais, podendo resultar em custos elevados aos gestores do sistema de saúde, que não recebem dotação orçamentária específica para atendimento dessas demandas, podendo comprometer os recursos financeiros relativos a outros serviços de saúde previamente planejados. O equilíbrio entre a garantia dos direitos sociais individuais sem que ocorra prejuízo aos direitos coletivos constitui-se em um desafio a ser considerado no âmbito do direito à saúde. À luz do conceito de direito à saúde, este estudo tem por objetivo debater seus aspectos com a judicialização de medicamentos para oncologia. Será desenvolvido neste trabalho uma revisão integrativa da literatura científica sobre a judicialização de medicamentos oncológicos à luz do direito à saúde no Brasil. A partir da pergunta norteadora: “O que a literatura científica apresenta sobre o direito à saúde em relação à judicialização de medicamentos para oncologia?” foram identificados nos Descritores de Ciências da Saúde – DeCS as seguintes palavras-chave: Direito à Saúde; Medicamentos para oncologia; e Judicialização; resultando na seguinte sintaxe, que foi utilizada para busca na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): ((Direito a Saude) OR (Direitos a Saude)) AND ((Cancer) OR (Oncologia) OR (Antineoplasicos)) AND (Brasil) AND (fulltext:(\"1\") AND la:(\"pt\" OR \"en\" OR \"es\") AND type:(\"article\")). Com seguimento à análise das publicações, a sintaxe final retornou 159 artigos, sendo 42 excluídos por repetição, resultando em 117 artigos para análise, que foram submetidos aos critérios de inclusão na leitura de títulos e resumos: Medicamento oncológico (ou sinônimos) ou Judicialização da Saúde (ou sinônimos). Por meio deste critério foram excluídos 98 artigos após a leitura de título, e 6 artigos após a leitura de resumos, sendo incluídos 13 artigos para análise. Os 13 artigos incluídos estão compreendidos no período 2009–2022, sendo que o ano de 2017 contou com três publicações. O local de discussão acadêmica com mais publicações sobre o tema, selecionados nesta pesquisa, foi a Revista de Saúde Pública (FSP/USP), com três artigos. Neste estudo, procuramos descrever quais aspectos permeiam o debate da judicialização dos medicamentos oncológicos à luz do direito à saúde; e descrever as observações da literatura científica sobre o direito à saúde e o acesso a medicamentos oncológicos, que são de alto custo, por meio da judicialização. No âmbito do direito, a judicialização tem atuado como instrumento para garantir o acesso a medicamentos incorporados ou solicitar os que não são incorporados ao SUS. Ao passo que garante o acesso ao medicamento, no sentido do direito individual, a judicialização, no sentido do direito coletivo, pode constituir um desafio para gestores devido ao custo elevado dos medicamentos solicitados, como os antineoplásicos, podendo gerar desequilíbrios no financiamento das políticas de medicamentos e dificultar o acesso igualitário à saúde.","PeriodicalId":299004,"journal":{"name":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","volume":"1 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-10-11","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Judicialização dos medicamentos oncológicos à luz do direito à saúde\",\"authors\":\"Willian Maranhão, S. 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摘要

社会参与卫生领域的培训,是宗教改革运动的物体巴西卫生保健的权利一样,政府和社会应该共同演出通过社会参与的公共空间,帮助决策的股票在健康和带来的对于健康的公民权利,社会需求的决策和行动。健康作为一项权利的定义包括集体和个人方面。健康权在集体或社会方面享有平等的特权,作为一项集体权利,以便所有人口都能获得保健。在个人方面,自由是一种特权,指的是个人与环境在不同方面寻求其福祉的关系,例如在身体、精神和社会方面,以综合的健康观点。作为社会最基本的权利,健康权是在巴西宪法,但难以获得卫生服务的人口,所以公共卫生的要求已经疯了,导致健康judicialização现象,使用方式实现健康权。由于缺乏不同的资源、技术和卫生商品化而导致保健服务、使用者和专业人员之间的冲突关系,为执行宪法保障而向司法部门提出的要求有所增加。卫生司法化超越了其法律组成部分和公共服务管理,涉及社会、政治、卫生和伦理等其他方面。由于各种因素的冲击,judicialização健康是相关的讨论和相关代表的挑战实现包容广泛而系统的医疗系统—猜测,一个巴西法律制度的进步和发展的不平等和环境的基本卫生需求,不仅仅是智障的judicialização需求,但这使人们获得公民的权利的保证,鼓励卫生管理人员根据社会需求调整和扩大政策,在获得卫生保健方面取得进展。对药品的司法需求是健康司法化现象的主要表现。昂贵的药物,如抗肿瘤药物,是寻求获得这些药物治疗癌症的患者诉讼的对象。除了少数例外,卫生部—MS和卫生部门不提供或padronizam抗肿瘤药物直接用户的猜测或医院,对着嫌疑犯的福利包括健康护理单元的平均水平和高复杂性(MAC) ressarcida使用的具体变化过程第一阶段的癌症治疗方法的疾病。由于技术的复杂性,很难获得癌症服务和高成本的面积有关,肿瘤是在价值和司法的需求数量,并可能导致医疗成本经理,这些要求没有得到具体的养老服务,可以降低金融资源的其他健康服务计划。在不损害集体权利的情况下保障个人社会权利之间的平衡是健康权的一个挑战。根据健康权的概念,本研究旨在讨论其与肿瘤药物合法化的各个方面。这项工作将根据巴西的健康权对关于肿瘤药物合法化的科学文献进行综合审查。从指导性问题开始:“关于肿瘤药物合法化的健康权,科学文献提出了什么?”"在卫生科学描述符(DeCS)中确定了以下关键词:健康权;肿瘤药物;和Judicialização;导致语法,这是用于搜索数据库实体图书馆的健康(红色旅):(卫生(健康)或(权利)和肿瘤(癌症)或()或(Antineoplasicos)和(巴西)和(fulltext:(1)和大:“pt”或“en”或“你”),型号:“文章”))。通过对出版物的后续分析,最终的语法返回了159篇文章,其中42篇被重复排除,导致117篇文章进行分析,这些文章被提交到阅读标题和摘要的纳入标准:肿瘤药物(或同义词)或健康司法化(或同义词)。 通过该标准,98篇文章在阅读标题后被排除,6篇文章在阅读摘要后被排除,13篇文章被纳入分析。包括的13篇文章涵盖了2009 - 2022年期间,2017年有三篇出版物。本研究选择的关于这一主题的学术讨论和出版物最多的地方是公共卫生杂志(FSP/USP),有三篇文章。在这项研究中,我们试图从健康权的角度描述肿瘤药物合法化辩论的各个方面;并描述通过司法化对健康权和获得昂贵的癌症药物的科学文献的观察。在法律范围内,司法化作为一种工具,确保获得纳入的药物或要求未纳入单一卫生系统的药物。同时保证产品的使用,对个人权利的judicialização,集体权利,可能是一个挑战,经理由于高成本所需的药物,如抗肿瘤药物政策的金融失衡,可以生成和妨碍公平获得卫生。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
Judicialização dos medicamentos oncológicos à luz do direito à saúde
A participação social para a formação do campo da saúde foi objeto do Movimento da Reforma Sanitária brasileira, que fez a defesa da saúde como direito de todos, em que o Estado deveria atuar conjuntamente com a sociedade por meio de espaços públicos de participação social, auxiliando na formulação das ações em saúde e trazendo a percepção da saúde como direito de cidadania, aproximando as decisões e ações das demandas sociais. A definição de saúde como direito abrange aspectos coletivos e individuais. O direito à saúde em seu aspecto coletivo ou social privilegia a igualdade, enquanto direito coletivo, de modo que seja possível que toda população tenha acesso à saúde. No aspecto individual, a liberdade é privilegiada, referindo-se à relação do indivíduo com o meio para a busca de seu bem-estar em diferentes aspectos, como físico, mental e social, por exemplo, numa visão integrada da saúde. Enquanto direito social fundamental, o direito à saúde está previsto na Constituição Brasileira, porém a população encontra dificuldades para acessar os serviços de saúde, de modo que as demandas de saúde pública têm sido discutidas em juízo, resultando no fenômeno da judicialização da saúde, que vem sendo utilizada como meio para efetivação do direito à saúde. Observa-se um aumento na demanda ao judiciário para reivindicação ao direito sanitário no sentido de efetivar a garantia constitucional, relacionados às relações conflituosas entre serviços de saúde, usuários e profissionais gerada pela escassez de recursos diferenciados, tecnologias e mercantilização da saúde. A judicialização da saúde avança para além de seu componente jurídico e de gestão de serviços públicos, envolvendo outros aspectos: sociais, políticos, sanitários e éticos. Devido aos vários fatores que o envolve, o debate em torno da judicialização da saúde é pertinente e relevante, representando o desafio de implementação de um sistema amplo e inclusivo como o Sistema Único de Saúde – SUS, um dos avanços do sistema jurídico brasileiro, desenvolvido em um ambiente de desigualdade e de necessidades essenciais de saúde, que não são reduzidas somente pela judicialização da demanda, mas que esta possibilita ao cidadão a reivindicação do acesso a um direito garantido, incentivando os gestores da saúde a adequar e ampliar as políticas de acordo com as demandas sociais, avançando na questão do acesso à saúde. A demanda judicial por medicamentos é a principal expressão do fenômeno da judicialização da saúde. Medicamentos de alto custo, como os antineoplásicos, são objeto de demandas judiciais por pacientes que buscam acesso a estes para tratamento do câncer. Com poucas exceções, o Ministério da Saúde – MS e as Secretarias da Saúde não fornecem ou padronizam medicamentos antineoplásicos diretamente aos usuários do SUS ou hospitais, pois a assistência oncológica no SUS está inclusa no bloco da Assistência à Saúde de Média e Alta Complexidade (MAC), sendo ressarcida por meio de procedimentos específicos por conta da variação da modalidade terapêutica do câncer conforme o estágio em que se encontra a doença. Devido à complexidade da tecnologia, dificuldade de acesso aos serviços oncológicos e alto custo envolvido, a área da oncologia destaca-se em valores e volume de demandas judiciais, podendo resultar em custos elevados aos gestores do sistema de saúde, que não recebem dotação orçamentária específica para atendimento dessas demandas, podendo comprometer os recursos financeiros relativos a outros serviços de saúde previamente planejados. O equilíbrio entre a garantia dos direitos sociais individuais sem que ocorra prejuízo aos direitos coletivos constitui-se em um desafio a ser considerado no âmbito do direito à saúde. À luz do conceito de direito à saúde, este estudo tem por objetivo debater seus aspectos com a judicialização de medicamentos para oncologia. Será desenvolvido neste trabalho uma revisão integrativa da literatura científica sobre a judicialização de medicamentos oncológicos à luz do direito à saúde no Brasil. A partir da pergunta norteadora: “O que a literatura científica apresenta sobre o direito à saúde em relação à judicialização de medicamentos para oncologia?” foram identificados nos Descritores de Ciências da Saúde – DeCS as seguintes palavras-chave: Direito à Saúde; Medicamentos para oncologia; e Judicialização; resultando na seguinte sintaxe, que foi utilizada para busca na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): ((Direito a Saude) OR (Direitos a Saude)) AND ((Cancer) OR (Oncologia) OR (Antineoplasicos)) AND (Brasil) AND (fulltext:("1") AND la:("pt" OR "en" OR "es") AND type:("article")). Com seguimento à análise das publicações, a sintaxe final retornou 159 artigos, sendo 42 excluídos por repetição, resultando em 117 artigos para análise, que foram submetidos aos critérios de inclusão na leitura de títulos e resumos: Medicamento oncológico (ou sinônimos) ou Judicialização da Saúde (ou sinônimos). Por meio deste critério foram excluídos 98 artigos após a leitura de título, e 6 artigos após a leitura de resumos, sendo incluídos 13 artigos para análise. Os 13 artigos incluídos estão compreendidos no período 2009–2022, sendo que o ano de 2017 contou com três publicações. O local de discussão acadêmica com mais publicações sobre o tema, selecionados nesta pesquisa, foi a Revista de Saúde Pública (FSP/USP), com três artigos. Neste estudo, procuramos descrever quais aspectos permeiam o debate da judicialização dos medicamentos oncológicos à luz do direito à saúde; e descrever as observações da literatura científica sobre o direito à saúde e o acesso a medicamentos oncológicos, que são de alto custo, por meio da judicialização. No âmbito do direito, a judicialização tem atuado como instrumento para garantir o acesso a medicamentos incorporados ou solicitar os que não são incorporados ao SUS. Ao passo que garante o acesso ao medicamento, no sentido do direito individual, a judicialização, no sentido do direito coletivo, pode constituir um desafio para gestores devido ao custo elevado dos medicamentos solicitados, como os antineoplásicos, podendo gerar desequilíbrios no financiamento das políticas de medicamentos e dificultar o acesso igualitário à saúde.
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