Renata De Morais Machado, Rachel Aisengart Menezes
{"title":"当代哀悼的情绪管理","authors":"Renata De Morais Machado, Rachel Aisengart Menezes","doi":"10.30810/RCS.V2I3.622","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia transformações social e culturais, ocorridas em determinado momento histórico. Com o processo de secularização ocorreu uma perda de sentido do sofrimento associado à transcendência, nas sociedades ocidentais. A ênfase no presente, a busca contínua de prazer e o exercício do livre-arbítrio tornam-se referências centrais. Neste contexto, movimentos sociais pelos direitos dos doentes, e grupos da classe médica afirmam o direito a não sofrer. Se não evitado, o sofrimento deve ter a menor duração e intensidade possíveis. É neste sentido que as propostas de atenção em torno do luto estão inseridas. Pelo fato de o luto constituir um processo em que o sofrimento é inerente, ele deve ser compreendido, cuidado e, na medida do possível, elaborado, amenizado ou, até, evitado. Manuais destinados a profissionais de saúde abordam o tema, sugerindo uma superação do luto, independente da perspectiva teórica adotada. É delimitada uma duração, referente ao que seria uma vivência normal ou patológica do luto, assim como são elaboradas prescrições, sejam elas preventivas ou curativas. Manuais e livros-texto, nacionais e internacionais, com caráter prescritivo, destinados a profissionais de saúde, configuram-se como objeto de análise desta pesquisa, uma vez que tais formulações refletem o contexto sociocultural. Na gestão contemporânea do processo de morrer, profissionais de saúde buscam promover ampla aceitação social da morte e uma preparação para o luto, para todos os atores sociais envolvidos nos cuidados ao final da vida. A proliferação de pesquisas e de propostas terapêuticas sobre o luto é evidenciada pela publicação de manuais específicos sobre o tema, a partir do século XXI. Afinal, o que o luto representa na cultura ocidental contemporânea, de modo a se encontrar cercado de atenção dos profissionais de saúde que objetivam sua superação? Frente ao risco de o processo de luto se tornar patológico, os saberes `psi' não estariam promovendo um controle e/ou autorregulação das emoções, no sentido de uma normatização deste evento?","PeriodicalId":404895,"journal":{"name":"REVISTA CIÊNCIAS DA SOCIEDADE","volume":"64 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2018-08-24","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"4","resultStr":"{\"title\":\"Gestão Emocional do Luto na Contemporaneidade\",\"authors\":\"Renata De Morais Machado, Rachel Aisengart Menezes\",\"doi\":\"10.30810/RCS.V2I3.622\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia transformações social e culturais, ocorridas em determinado momento histórico. Com o processo de secularização ocorreu uma perda de sentido do sofrimento associado à transcendência, nas sociedades ocidentais. A ênfase no presente, a busca contínua de prazer e o exercício do livre-arbítrio tornam-se referências centrais. Neste contexto, movimentos sociais pelos direitos dos doentes, e grupos da classe médica afirmam o direito a não sofrer. Se não evitado, o sofrimento deve ter a menor duração e intensidade possíveis. É neste sentido que as propostas de atenção em torno do luto estão inseridas. Pelo fato de o luto constituir um processo em que o sofrimento é inerente, ele deve ser compreendido, cuidado e, na medida do possível, elaborado, amenizado ou, até, evitado. Manuais destinados a profissionais de saúde abordam o tema, sugerindo uma superação do luto, independente da perspectiva teórica adotada. É delimitada uma duração, referente ao que seria uma vivência normal ou patológica do luto, assim como são elaboradas prescrições, sejam elas preventivas ou curativas. Manuais e livros-texto, nacionais e internacionais, com caráter prescritivo, destinados a profissionais de saúde, configuram-se como objeto de análise desta pesquisa, uma vez que tais formulações refletem o contexto sociocultural. Na gestão contemporânea do processo de morrer, profissionais de saúde buscam promover ampla aceitação social da morte e uma preparação para o luto, para todos os atores sociais envolvidos nos cuidados ao final da vida. A proliferação de pesquisas e de propostas terapêuticas sobre o luto é evidenciada pela publicação de manuais específicos sobre o tema, a partir do século XXI. Afinal, o que o luto representa na cultura ocidental contemporânea, de modo a se encontrar cercado de atenção dos profissionais de saúde que objetivam sua superação? Frente ao risco de o processo de luto se tornar patológico, os saberes `psi' não estariam promovendo um controle e/ou autorregulação das emoções, no sentido de uma normatização deste evento?\",\"PeriodicalId\":404895,\"journal\":{\"name\":\"REVISTA CIÊNCIAS DA SOCIEDADE\",\"volume\":\"64 1\",\"pages\":\"0\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2018-08-24\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"4\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"REVISTA CIÊNCIAS DA SOCIEDADE\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.30810/RCS.V2I3.622\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"REVISTA CIÊNCIAS DA SOCIEDADE","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.30810/RCS.V2I3.622","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
A análise das formulações acerca dos processos saúde-doença, morte e luto evidencia transformações social e culturais, ocorridas em determinado momento histórico. Com o processo de secularização ocorreu uma perda de sentido do sofrimento associado à transcendência, nas sociedades ocidentais. A ênfase no presente, a busca contínua de prazer e o exercício do livre-arbítrio tornam-se referências centrais. Neste contexto, movimentos sociais pelos direitos dos doentes, e grupos da classe médica afirmam o direito a não sofrer. Se não evitado, o sofrimento deve ter a menor duração e intensidade possíveis. É neste sentido que as propostas de atenção em torno do luto estão inseridas. Pelo fato de o luto constituir um processo em que o sofrimento é inerente, ele deve ser compreendido, cuidado e, na medida do possível, elaborado, amenizado ou, até, evitado. Manuais destinados a profissionais de saúde abordam o tema, sugerindo uma superação do luto, independente da perspectiva teórica adotada. É delimitada uma duração, referente ao que seria uma vivência normal ou patológica do luto, assim como são elaboradas prescrições, sejam elas preventivas ou curativas. Manuais e livros-texto, nacionais e internacionais, com caráter prescritivo, destinados a profissionais de saúde, configuram-se como objeto de análise desta pesquisa, uma vez que tais formulações refletem o contexto sociocultural. Na gestão contemporânea do processo de morrer, profissionais de saúde buscam promover ampla aceitação social da morte e uma preparação para o luto, para todos os atores sociais envolvidos nos cuidados ao final da vida. A proliferação de pesquisas e de propostas terapêuticas sobre o luto é evidenciada pela publicação de manuais específicos sobre o tema, a partir do século XXI. Afinal, o que o luto representa na cultura ocidental contemporânea, de modo a se encontrar cercado de atenção dos profissionais de saúde que objetivam sua superação? Frente ao risco de o processo de luto se tornar patológico, os saberes `psi' não estariam promovendo um controle e/ou autorregulação das emoções, no sentido de uma normatização deste evento?