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Desse modo, deduz-se que, num processo de Pesquisa Baseada na Prática caracterizado pela interação entre a prática artística e a investigação teórica académica, torna-se fundamental desenvolver metodologias que consigam refletir estas diferenças (relativas ao modo de sentir e conceber sentido) e, simultaneamente, integrá-las. Além disso, considerando que a estrutura da linguagem verbal influencia a forma como pensamos, propõe-se que no âmbito de tais metodologias se questione e desafie o modo de usar a linguagem verbal. Partindo destas considerações, este artigo aponta uma proposta metodológica para a transferência entre modos de conhecimento intrínsecos à prática investigativa do âmbito da criação artística e os modos de conhecimento concebidos no domínio da investigação académica. \nDefende-se ainda que o conhecimento incorporado, ao invés da tendência tradicional do conhecimento académico, predispõe-se a uma atitude ética de qualidades dinâmicas, adaptativas. Uma atitude que não aspira agarrar o mundo como algo estático e definitivo ou controlar o ambiente enquanto algo extrínseco mas sim experienciar o desafio de incorporar e navegar o ambiente. 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Retornos entre a criação artística e a pesquisa científica
Partindo do exemplo de um processo de Pesquisa Baseada na Prática desenvolvido no âmbito de uma investigação de doutoramento em dança, este artigo faz uma reflexão que foca a natureza e mais valias do conhecimento gerado pela prática artística em contraponto com a natureza do modo de conhecimento tradicionalmente associado à produção académica.
Fundamentando-se em diversos autores do âmbito de estudos de Embodied Cognition, na análise dos conceitos de know-how e know-what de Gilbert Ryle (2009) e nas questões de linguagem e intersubjetividade de Daniel Stern (1985), o conhecimento desenvolvido pela prática artística é aqui exposto enquanto um conhecimento incorporado no qual se gera sentido através das perceções somáticas e sensoriomotoras, ao passo que o conhecimento académico é caracterizado essencialmente enquanto um modo de conhecimento teórico, onde se concebe e formula sentido através da estrutura da linguagem verbal. Desse modo, deduz-se que, num processo de Pesquisa Baseada na Prática caracterizado pela interação entre a prática artística e a investigação teórica académica, torna-se fundamental desenvolver metodologias que consigam refletir estas diferenças (relativas ao modo de sentir e conceber sentido) e, simultaneamente, integrá-las. Além disso, considerando que a estrutura da linguagem verbal influencia a forma como pensamos, propõe-se que no âmbito de tais metodologias se questione e desafie o modo de usar a linguagem verbal. Partindo destas considerações, este artigo aponta uma proposta metodológica para a transferência entre modos de conhecimento intrínsecos à prática investigativa do âmbito da criação artística e os modos de conhecimento concebidos no domínio da investigação académica.
Defende-se ainda que o conhecimento incorporado, ao invés da tendência tradicional do conhecimento académico, predispõe-se a uma atitude ética de qualidades dinâmicas, adaptativas. Uma atitude que não aspira agarrar o mundo como algo estático e definitivo ou controlar o ambiente enquanto algo extrínseco mas sim experienciar o desafio de incorporar e navegar o ambiente.