{"title":"流媒体的长期叙事设计","authors":"Pedro Notariano Belizário, J. Massarolo","doi":"10.24135/link2021.v2i1.68.g61","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este artigo nasce da proposta de relacionar o estudo do roteiro com o estudo dos novos hábitos de consumo do espectador. Em essência, explicaremos o fenômeno do binge-wathching (compulsão), a partir da análise do desenho narrativo de séries complexas, identificando na macroestruturação deste formato suas qualidades específicas que promovem a maratona do espectador. De forma mais abrangente, faremos nossa análise comparando as estruturas narrativas de séries e filmes, apontando as diferenças entre os desenhos narrativos desses dois formatos que impossibilitam a comparação de uma série com um filme extenso. No fundo, procuramos refutar a ideia de que “à medida que evoluem os hábitos relacionados com a forma de ver séries televisivas, tendem a ser cada vez mais concebidos e escritos como um longa-metragem” (KALLAS, 2016, p. 16). A partir dessa afirmação de Kallas, entrelaçando conceitos de hábitos de consumo com os de roteiro, surgem algumas questões: se uma série é como um longa-metragem, por que reclamamos da duração de longas-metragens, como O Irlandês, de Martin Scorsese, com suas maçantes 3,5 horas de duração, enquanto consegue fazer uma maratona de séries inteiras contendo pelo menos o dobro de horas? Se uma série é como um filme longo, por que ela é dividida em episódios, mesmo quando podem ser assistidos em sequência – compulsivamente? Se uma série é como um longa-metragem, por que precisa da elaboração colaborativa de uma sala de escritores, em vez de ser concebida por um único autor? Para não dizer que essa comparação estrutural entre filmes e séries seja impossível, mostraremos como ela é problemática ou, no mínimo, prejudicial para a análise de séries complexas como formatos autônomos, com noções próprias de elaboração e estruturação. Neste sentido, ao contrário do cinema, as séries são construídas a partir de uma estrutura de repetição de atos dentro da estrutura — episódios que geralmente possuem de 3 a 5 atos cada. Isto resulta em uma maior densidade narrativa da série, uma vez que os atos comprimidos no tempo levam a um ritmo de narração mais rápido, com pontos de trama mais recorrentes na história, capazes de intensificar o engajamento e aumentar a atenção do espectador que pratica a compulsividade. Tamanha quantidade de atos, arcos narrativos e personagens vão além da capacidade criativa de um único autor, exigindo a elaboração colaborativa de uma sala de roteiristas, com várias cabeças pensando a história simultaneamente. Assim, este artigo busca, a partir da comparação das macroestruturas de séries e filmes, apontar as diferenças no desenho narrativo destes dois formatos. Em outras palavras, pretendemos elucidar um conceito simples: diferentes formatos pressupõem a existência de diferentes narrativas de design.","PeriodicalId":340269,"journal":{"name":"LINK 2021 Conference Proceedings","volume":"105 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Design narrativo de longo prazo de streaming\",\"authors\":\"Pedro Notariano Belizário, J. Massarolo\",\"doi\":\"10.24135/link2021.v2i1.68.g61\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"Este artigo nasce da proposta de relacionar o estudo do roteiro com o estudo dos novos hábitos de consumo do espectador. 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Este artigo nasce da proposta de relacionar o estudo do roteiro com o estudo dos novos hábitos de consumo do espectador. Em essência, explicaremos o fenômeno do binge-wathching (compulsão), a partir da análise do desenho narrativo de séries complexas, identificando na macroestruturação deste formato suas qualidades específicas que promovem a maratona do espectador. De forma mais abrangente, faremos nossa análise comparando as estruturas narrativas de séries e filmes, apontando as diferenças entre os desenhos narrativos desses dois formatos que impossibilitam a comparação de uma série com um filme extenso. No fundo, procuramos refutar a ideia de que “à medida que evoluem os hábitos relacionados com a forma de ver séries televisivas, tendem a ser cada vez mais concebidos e escritos como um longa-metragem” (KALLAS, 2016, p. 16). A partir dessa afirmação de Kallas, entrelaçando conceitos de hábitos de consumo com os de roteiro, surgem algumas questões: se uma série é como um longa-metragem, por que reclamamos da duração de longas-metragens, como O Irlandês, de Martin Scorsese, com suas maçantes 3,5 horas de duração, enquanto consegue fazer uma maratona de séries inteiras contendo pelo menos o dobro de horas? Se uma série é como um filme longo, por que ela é dividida em episódios, mesmo quando podem ser assistidos em sequência – compulsivamente? Se uma série é como um longa-metragem, por que precisa da elaboração colaborativa de uma sala de escritores, em vez de ser concebida por um único autor? Para não dizer que essa comparação estrutural entre filmes e séries seja impossível, mostraremos como ela é problemática ou, no mínimo, prejudicial para a análise de séries complexas como formatos autônomos, com noções próprias de elaboração e estruturação. Neste sentido, ao contrário do cinema, as séries são construídas a partir de uma estrutura de repetição de atos dentro da estrutura — episódios que geralmente possuem de 3 a 5 atos cada. Isto resulta em uma maior densidade narrativa da série, uma vez que os atos comprimidos no tempo levam a um ritmo de narração mais rápido, com pontos de trama mais recorrentes na história, capazes de intensificar o engajamento e aumentar a atenção do espectador que pratica a compulsividade. Tamanha quantidade de atos, arcos narrativos e personagens vão além da capacidade criativa de um único autor, exigindo a elaboração colaborativa de uma sala de roteiristas, com várias cabeças pensando a história simultaneamente. Assim, este artigo busca, a partir da comparação das macroestruturas de séries e filmes, apontar as diferenças no desenho narrativo destes dois formatos. Em outras palavras, pretendemos elucidar um conceito simples: diferentes formatos pressupõem a existência de diferentes narrativas de design.