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Apesar do sucesso na criação de agências estatais dedicadas à preservação da cultura popular, os folcloristas não obtiveram êxito na implantação de espaços dedicados aos estudos do folclore nas universidades. De acordo com Vilhena, “[...] no plano dos estereótipos, o folclorista se tornou o paradigma de um intelectual não acadêmico ligado por uma relação romântica ao seu objeto, que se estudaria a partir de um colecionismo incontrolado e de uma postura empiricista”2. É interessante observar que essa desvalorização acadêmica se deu de forma específica no Brasil, a despeito das origens históricas desse campo de estudos, em contexto europeu, estarem relacionadas ao direcionamento das preocupações eruditas à cultura popular e principalmente por sua relação com a identidade nacional3. Nos debruçamos, então, ao contexto específico da Escola de Belas Artes da UFRJ, onde, a partir de um caso específico, podemos ter um breve panorama da inserção que os estudos sobre arte e cultura popular tiveram na instituição. A trajetória da Coleção Renato Miguez de Arte Popular nos revela o indivíduo ligado à rede de intelectuais pertencentes ao Movimento Folclórico Brasileiro que também estava inserido na universidade, lecionando e produzindo pesquisas.","PeriodicalId":305074,"journal":{"name":"Atas do 14º...","volume":"77 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2019-12-30","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Tensões e diálogos entre acadêmico e popular: a Coleção Renato Miguez\",\"authors\":\"Carolina Rodrigues de Lima\",\"doi\":\"10.20396/eha.vi14.3414\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"No decorrer do séc. 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Tensões e diálogos entre acadêmico e popular: a Coleção Renato Miguez
No decorrer do séc. XX, os estudos dedicados à cultura popular brasileira se desenvolveram sob a égide do Movimento Folclórico Brasileiro. Uma estrutura bem organizada e articulada por muitas décadas, acompanhou a institucionalização dos estudos folclóricos, destacando-se a criação e solidificação de instituições federais como o Centro Nacional de Folclore (1947), a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (1958), o Instituto Nacional do Folclore (1976) e, mais recentemente, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (2003), em vigor até os dias atuais. Pertencentes a diferentes órgãos governamentais durante sua trajetória, essas instituições foram responsáveis pela elaboração de congressos, organização e fomento de pesquisas, além da coleta de enormes acervos bibliográficos e museológicos. Apesar do sucesso na criação de agências estatais dedicadas à preservação da cultura popular, os folcloristas não obtiveram êxito na implantação de espaços dedicados aos estudos do folclore nas universidades. De acordo com Vilhena, “[...] no plano dos estereótipos, o folclorista se tornou o paradigma de um intelectual não acadêmico ligado por uma relação romântica ao seu objeto, que se estudaria a partir de um colecionismo incontrolado e de uma postura empiricista”2. É interessante observar que essa desvalorização acadêmica se deu de forma específica no Brasil, a despeito das origens históricas desse campo de estudos, em contexto europeu, estarem relacionadas ao direcionamento das preocupações eruditas à cultura popular e principalmente por sua relação com a identidade nacional3. Nos debruçamos, então, ao contexto específico da Escola de Belas Artes da UFRJ, onde, a partir de um caso específico, podemos ter um breve panorama da inserção que os estudos sobre arte e cultura popular tiveram na instituição. A trajetória da Coleção Renato Miguez de Arte Popular nos revela o indivíduo ligado à rede de intelectuais pertencentes ao Movimento Folclórico Brasileiro que também estava inserido na universidade, lecionando e produzindo pesquisas.