介绍档案-人权教育:抵抗与变革

Solon Eduardo Annes Viola
{"title":"介绍档案-人权教育:抵抗与变革","authors":"Solon Eduardo Annes Viola","doi":"10.5016/ridh.v9i2.95","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O presente dossiê da Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, do Observatório de Direitos Humanos / Universidade Estadual de São Paulo é fruto de um tema que percorre a educação brasileira como um vírus sem antídoto, para o qual com frequência mais intensa nesta segunda década do presente século, diferentes correntes de pensamento buscam ora tratamentos aleatórios, ora exorcismos medievais. Trata-se de uma ousadia que acalanta os educadores brasileiros desde meados dos anos 1980. Um tempo repleto de medos, sonhos e, às vezes, de breves fantasias. A sociedade brasileira libertava-se tímida e corajosamente de uma noite sombria plena de violências e falsidades – estas últimas, nos tempos de agora, rebatizadas com tons estadunidenses – produzidas desde o Estado que, a partir de um golpe militar, arrebatara o poder de um governo que propunha reformas de base visando à justiça social.   \nA timidez decorria do controle, quase absoluto, que o Estado impunha à sociedade civil retirando dela os espaços de liberdade, a busca da igualdade e a negação das ações de solidariedade. Os sonhos se faziam nas esquinas, nos recantos, nas ante-salas. Os sussurros ao pé do ouvido. Sonhava-se, corajosamente, com liberdade para os meios de comunicação e com o fim da tortura e do terror do Estado. Os sonhos avançaram até uma Anistia ampla e irrestrita: a reorganização dos movimentos sociais e seus modelos, eleições diretas e o Educar em Direitos Humanos para produzir uma cultura, na qual cada educador e cada educando se reconhecessem como sujeitos de direitos. A ilusão era de que desse modo a sociedade brasileira não voltasse a vivenciar outros tempos sombrios, e que a democracia viesse a se constituir como lócus de consolidação e ampliação de direitos individuais e coletivos.  \n Ao longo da década de 1990, durante o lento processo da redemocratização, o tema da Educação em Direitos Humanos passou a fazer parte das questões que projetavam o futuro da democracia nascente. Tornava-se urgente pensar o Nunca Mais, repensar as experiências de uma pedagogia para além da repetição e deixar no passado a pedagogia do esquecimento. Tornava-se indispensável pensar uma cidadania participativa, superar os limites do medo e buscar novas formas de organização social. A sociedade reorganizava-se com novos, e múltiplos movimentos sociais, dentre eles, a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, originada desde os poucos espaços que haviam conseguido sobreviver mesmo com um número reduzido de participantes. \n A Rede compôs uma corrente de pensamento que revisava o conceito de Direitos Humanos instituído no Brasil no início da década de 1960 a partir dos conflitos políticos de então. No bojo dos embates ideológicos, produzidos ao longo da redação da Declaração Universal de 1948, e amplificado pelo período da Guerra Fria, os debates sobre os Direitos Humanos com sua pluralidade chegaram ao Brasil sob a égide de um ideário ocidental. Isto é, uma versão vinculada à liberdade como pressuposto do mercado, à igualdade como dimensão jurídica e à fraternidade vista como sinônimo de caridade. Tal compreensão resultava em um  modo de viver, que anunciando os princípios dos direitos humanos, alertava para os perigos inerentes aos projetos de emancipação e autonomia tanto de nações como de movimentos que ousassem pensar outros modelos sociais possíveis.              \nNessa conjuntura, o discurso hegemônico dos direitos humanos compôs a rede de argumentos que justificava tanto a Guerra do Vietnã, como os golpes de Estado na América Latina e no Caribe. Tal discurso serviu para acobertar o uso de Napalm nos territórios das aldeias e das florestas do Vietnã, para esconder ou minimizar as práticas de tortura, ação comum das políticas repressivas dos Estados militares da América Latina. Foram os crimes contra a humanidade cometidos no sudeste asiático, nas Guerras de libertação do continente africano e nos porões das casas da morte da América Latina que colocaram os pressupostos dos direitos humanos em desequilíbrio.  \nQuestionados sobre a violência desmedida do Estado autoritário, os governantes passaram da falsa defesa dos direitos humanos para um discurso, esclerosado, de que os que defendiam os direitos humanos eram, enfim, defensores de terroristas, subversivos e comunistas. Discursos que, atualizados, passaram a ter outras cores como a “defesa de bandidos” e, mais recentemente, de “estrume da bandidagem”.  \nNa América Latina, a balança oscilou entre os carcomidos ataques de setores dos meios de comunicação e políticos conservadores e as gradativas manifestações públicas em defesa da vida, cujo maior exemplo se universalizou nas silenciosas caminhadas das mães argentinas com sua fraternal mensagem “vivos os levaram, vivos os queremos”.  \nNas terras de Pindorama as mensagens revelaram-se plurais. Anunciavam aspirações por direitos civis e políticos – lutas pela anistia, pelo fim da censura, pela constituinte livre e soberana e por eleições diretas – e por direitos sociais e econômicos: o combate à carestia e os movimento pela moradia, pelo acesso a terra, pela igualdade de direitos raciais e equidade de gênero; enquanto incorporavam bandeiras ambientalistas. No entanto, diferentemente do caráter das manifestações das mães argentinas, esses movimentos de redemocratização não se integravam ao discurso dos direitos humanos \n A compreensão de que, mais do que derrotar o Estado autoritário, seria necessário compreender tanto a herança da formação colonial – a subordinação às diferentes metrópoles, a que permanentemente se submeteram as elites locais – quanto à estrutura de um Estado apto a garantir privilégios e recusar direitos, levou a Rede a propor um caminho que compreendia repensar o processo educativo. Depois do período ditatorial, não seria mais possível continuar convivendo com uma educação herdada das antigas pedagogias, predispostas a transmitir saberes esclerosados e disciplinamentos bancários e colonizados.  Tornava-se urgente refazer os objetivos: - questionar a educação para a reprodução do conhecimento e propor uma nova pedagogia feita de diálogo, de trocas entre os saberes sistematizados dos educadores e os saberes vividos cotidianamente pelos educandos, tornou-se um projeto, um caminho para a produção de novos conhecimentos; - superar a postura disciplinadora herdada das pedagogias medievais e clássicas por um ato pedagógico apto a compreender que aprender exige estudo rigoroso e intenso; e - considerar que a educação vai além de preparar as novas gerações para viver em sociedade e se adaptar à sociedade de mercado, ou seja, que ela se constitui em defesa da vida, da autonomia e da emancipação de cada indivíduo e de cada sociedade. \nA partir de então, e especialmente a partir dos primeiros anos do século XXI, quando das propostas da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos e de outras entidades da sociedade civil, a Educação em Direitos Humanos passou a fazer parte da reorganização dos encontros e dos debates que repensavam o sistema educacional e a própria democracia e seus limites. Limites próprios de uma sociedade de formação colonial, com suas práticas escravagistas, formada por uma elite ciosa de seus privilégios. \n Gradativamente as propostas, vindas dos movimentos sociais, das universidades e das entidades acadêmicas ligadas às ciências humanas, ganharam corpo e se transformaram em políticas de Estado, tais como o segundo Programa Nacional de Direitos Humanos, a partir do qual se avançou em direção à elaboração de um Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). Esse trouxe em seu bojo a herança das práticas dos movimentos de educação de base e a teoria educacional dela decorrente e incorporou as propostas internacionais para a Educação em Direitos Humanos da UNESCO. Foi discutido com a sociedade civil e transformado em política pública pelos governos que conduziram as políticas de Estado até o final da segunda década deste tortuoso início de século. \n A partir de então, anunciados com caminhos do futuro, retornaram antigas questões que pareciam ter ficado como brumas perdidas em um tempo distante: Terras planas, maniqueísmos, deuses a vigiar sempre acima dos humanos e de suas vidas, privilégios de algumas áreas do conhecimento escolar – normalmente as áreas mais indispensáveis ao mercado de trabalho – eliminação de áreas do conhecimento, ilusoriamente consideradas como área de formação de consciência social. Ressurgiram demônios adormecidos: o comunismo ateu e a pedagogia subversiva de Paulo Freire, aos quais se incorporaram novos seres imaginários, como a ideologia de gênero e sua força para exterminar a estrutura familiar.  \nA partir deste novo momento, a sociedade civil passou a rever os caminhos a percorrer. É destes caminhos que trata este dossiê da Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, denominado Educação em direitos humanos: resistência e transformação. Nele os leitores encontrarão sete textos de abordagens plurais que recuperam a trajetória recente do tema e avançam em interpretações teóricas. Estamos certos de que o Dossiê poderá contribuir não só com os diálogos sobre Educação em Direitos Humanos, mas com o próprio processo histórico de preservar a democracia e avançar nos caminhos de produzir uma sociedade mais justa e igual.   \n No primeiro artigo “A educação em direitos humanos como política pública no Brasil”, o professor Erasto Fortes apresenta a trajetória da Educação em Direitos Humanos como política pública. Para tanto, o texto propõe uma aproximação conceitual sobre como surgem às políticas públicas e como estas podem produzir à efetivação dos direitos e o fortalecimento da democracia. A história política do Brasil apresenta períodos de autoritarismo com brechas de momentos democráticos. A leitura do texto nos conduz para a compreensão de como as temáticas de Educação em Direitos Humanos tornam-se políticas públicas e como as mesmas têm se comportado como espaço de disputa no Brasil.  \nO prof","PeriodicalId":228504,"journal":{"name":"Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos","volume":"37 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-12-12","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Apresentação do Dossiê – Educação em Direitos Humanos: resistência e transformação\",\"authors\":\"Solon Eduardo Annes Viola\",\"doi\":\"10.5016/ridh.v9i2.95\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"O presente dossiê da Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, do Observatório de Direitos Humanos / Universidade Estadual de São Paulo é fruto de um tema que percorre a educação brasileira como um vírus sem antídoto, para o qual com frequência mais intensa nesta segunda década do presente século, diferentes correntes de pensamento buscam ora tratamentos aleatórios, ora exorcismos medievais. 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摘要

跨学科杂志上的该文件的人权,人权中心/圣保罗州立大学是出身于一个主题周旋在巴西的教育像病毒没有解药,经常的深化在本世纪第二个十年,不同思想的激流中好随机治疗好之后的中世纪。自20世纪80年代中期以来,这种大胆的做法一直困扰着巴西的教育工作者。这段时间充满了恐惧、梦想,有时还有短暂的幻想。巴西社会遵命,害羞,勇敢地一个漆黑的夜晚充满了暴力和谎言的这些日子,我们现在的时代,rebatizadas—美国和音调—一直生产的,在一场军事政变,arrebatara能力提出的政府改革的基本社会正义。这种胆怯源于国家对公民社会施加的几乎绝对的控制,剥夺了自由的空间、对平等的追求和对团结行动的否定。梦想是在角落里,在角落里,在前厅里实现的。在你耳边低语。人们勇敢地梦想着媒体的自由,梦想着结束国家的酷刑和恐怖。梦想已经发展到广泛和不受限制的大赦:重组社会运动及其模式,直接选举和人权教育,以产生一种文化,在这种文化中,每个教育工作者都承认自己是权利的主体。人们的幻想是,巴西社会将不再经历其他黑暗时代,民主将成为巩固和扩大个人和集体权利的场所。在整个90年代,在缓慢的民主化进程中,人权教育的主题成为塑造新生民主未来的问题的一部分。迫切需要思考“永不再来”,重新思考超越重复的教育学经验,把遗忘的教育学留在过去。思考参与式公民身份、克服恐惧的限制和寻求新的社会组织形式变得至关重要。社会随着新的和多种社会运动进行了重组,其中包括巴西人权教育网络,它起源于少数空间,即使参与者很少,也能生存下来。该网络构成了一种思潮,从20世纪60年代初的政治冲突中修正了巴西确立的人权概念。在1948年《世界人权宣言》起草过程中产生并被冷战时期放大的意识形态冲突中,在西方意识形态的庇护下,关于人权及其多元性的辩论来到了巴西。换句话说,这是一个将自由作为市场假设、平等作为法律维度、博爱视为慈善同义词的版本。这种理解导致了一种生活方式,它宣布了人权的原则,警告了解放和自治项目所固有的危险,无论是国家还是敢于思考其他可能的社会模式的运动。在这种情况下,人权的霸权话语构成了为越南战争和拉丁美洲和加勒比地区的政变辩护的论点网络。这一言论掩盖了在越南村庄和森林领土上使用凝固汽油弹的行为,掩盖或尽量减少酷刑行为,这是拉丁美洲军事国家镇压政策的共同行动。正是在东南亚、非洲大陆的解放战争和拉丁美洲死亡之家的地下室中犯下的危害人类罪行使人权的假设变得不平衡。当被问及独裁国家的过度暴力时,统治者们从对人权的虚假捍卫变成了一种僵化的话语,即那些捍卫人权的人最终是恐怖分子、颠覆分子和共产主义者的捍卫者。这些演讲经过更新,变成了其他颜色,如“为土匪辩护”,最近又变成了“土匪粪便”。在拉丁美洲,平衡在媒体部门和保守政客的激烈攻击和捍卫生命的逐渐公开示威之间摇摆不定,最著名的例子是阿根廷母亲们的无声行走,她们的兄弟信息是“他们活着,我们想要他们活着”。在平多拉玛的土地上,信息被证明是多元的。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
Apresentação do Dossiê – Educação em Direitos Humanos: resistência e transformação
O presente dossiê da Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, do Observatório de Direitos Humanos / Universidade Estadual de São Paulo é fruto de um tema que percorre a educação brasileira como um vírus sem antídoto, para o qual com frequência mais intensa nesta segunda década do presente século, diferentes correntes de pensamento buscam ora tratamentos aleatórios, ora exorcismos medievais. Trata-se de uma ousadia que acalanta os educadores brasileiros desde meados dos anos 1980. Um tempo repleto de medos, sonhos e, às vezes, de breves fantasias. A sociedade brasileira libertava-se tímida e corajosamente de uma noite sombria plena de violências e falsidades – estas últimas, nos tempos de agora, rebatizadas com tons estadunidenses – produzidas desde o Estado que, a partir de um golpe militar, arrebatara o poder de um governo que propunha reformas de base visando à justiça social.   A timidez decorria do controle, quase absoluto, que o Estado impunha à sociedade civil retirando dela os espaços de liberdade, a busca da igualdade e a negação das ações de solidariedade. Os sonhos se faziam nas esquinas, nos recantos, nas ante-salas. Os sussurros ao pé do ouvido. Sonhava-se, corajosamente, com liberdade para os meios de comunicação e com o fim da tortura e do terror do Estado. Os sonhos avançaram até uma Anistia ampla e irrestrita: a reorganização dos movimentos sociais e seus modelos, eleições diretas e o Educar em Direitos Humanos para produzir uma cultura, na qual cada educador e cada educando se reconhecessem como sujeitos de direitos. A ilusão era de que desse modo a sociedade brasileira não voltasse a vivenciar outros tempos sombrios, e que a democracia viesse a se constituir como lócus de consolidação e ampliação de direitos individuais e coletivos.  Ao longo da década de 1990, durante o lento processo da redemocratização, o tema da Educação em Direitos Humanos passou a fazer parte das questões que projetavam o futuro da democracia nascente. Tornava-se urgente pensar o Nunca Mais, repensar as experiências de uma pedagogia para além da repetição e deixar no passado a pedagogia do esquecimento. Tornava-se indispensável pensar uma cidadania participativa, superar os limites do medo e buscar novas formas de organização social. A sociedade reorganizava-se com novos, e múltiplos movimentos sociais, dentre eles, a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, originada desde os poucos espaços que haviam conseguido sobreviver mesmo com um número reduzido de participantes. A Rede compôs uma corrente de pensamento que revisava o conceito de Direitos Humanos instituído no Brasil no início da década de 1960 a partir dos conflitos políticos de então. No bojo dos embates ideológicos, produzidos ao longo da redação da Declaração Universal de 1948, e amplificado pelo período da Guerra Fria, os debates sobre os Direitos Humanos com sua pluralidade chegaram ao Brasil sob a égide de um ideário ocidental. Isto é, uma versão vinculada à liberdade como pressuposto do mercado, à igualdade como dimensão jurídica e à fraternidade vista como sinônimo de caridade. Tal compreensão resultava em um  modo de viver, que anunciando os princípios dos direitos humanos, alertava para os perigos inerentes aos projetos de emancipação e autonomia tanto de nações como de movimentos que ousassem pensar outros modelos sociais possíveis.              Nessa conjuntura, o discurso hegemônico dos direitos humanos compôs a rede de argumentos que justificava tanto a Guerra do Vietnã, como os golpes de Estado na América Latina e no Caribe. Tal discurso serviu para acobertar o uso de Napalm nos territórios das aldeias e das florestas do Vietnã, para esconder ou minimizar as práticas de tortura, ação comum das políticas repressivas dos Estados militares da América Latina. Foram os crimes contra a humanidade cometidos no sudeste asiático, nas Guerras de libertação do continente africano e nos porões das casas da morte da América Latina que colocaram os pressupostos dos direitos humanos em desequilíbrio.  Questionados sobre a violência desmedida do Estado autoritário, os governantes passaram da falsa defesa dos direitos humanos para um discurso, esclerosado, de que os que defendiam os direitos humanos eram, enfim, defensores de terroristas, subversivos e comunistas. Discursos que, atualizados, passaram a ter outras cores como a “defesa de bandidos” e, mais recentemente, de “estrume da bandidagem”.  Na América Latina, a balança oscilou entre os carcomidos ataques de setores dos meios de comunicação e políticos conservadores e as gradativas manifestações públicas em defesa da vida, cujo maior exemplo se universalizou nas silenciosas caminhadas das mães argentinas com sua fraternal mensagem “vivos os levaram, vivos os queremos”.  Nas terras de Pindorama as mensagens revelaram-se plurais. Anunciavam aspirações por direitos civis e políticos – lutas pela anistia, pelo fim da censura, pela constituinte livre e soberana e por eleições diretas – e por direitos sociais e econômicos: o combate à carestia e os movimento pela moradia, pelo acesso a terra, pela igualdade de direitos raciais e equidade de gênero; enquanto incorporavam bandeiras ambientalistas. No entanto, diferentemente do caráter das manifestações das mães argentinas, esses movimentos de redemocratização não se integravam ao discurso dos direitos humanos A compreensão de que, mais do que derrotar o Estado autoritário, seria necessário compreender tanto a herança da formação colonial – a subordinação às diferentes metrópoles, a que permanentemente se submeteram as elites locais – quanto à estrutura de um Estado apto a garantir privilégios e recusar direitos, levou a Rede a propor um caminho que compreendia repensar o processo educativo. Depois do período ditatorial, não seria mais possível continuar convivendo com uma educação herdada das antigas pedagogias, predispostas a transmitir saberes esclerosados e disciplinamentos bancários e colonizados.  Tornava-se urgente refazer os objetivos: - questionar a educação para a reprodução do conhecimento e propor uma nova pedagogia feita de diálogo, de trocas entre os saberes sistematizados dos educadores e os saberes vividos cotidianamente pelos educandos, tornou-se um projeto, um caminho para a produção de novos conhecimentos; - superar a postura disciplinadora herdada das pedagogias medievais e clássicas por um ato pedagógico apto a compreender que aprender exige estudo rigoroso e intenso; e - considerar que a educação vai além de preparar as novas gerações para viver em sociedade e se adaptar à sociedade de mercado, ou seja, que ela se constitui em defesa da vida, da autonomia e da emancipação de cada indivíduo e de cada sociedade. A partir de então, e especialmente a partir dos primeiros anos do século XXI, quando das propostas da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos e de outras entidades da sociedade civil, a Educação em Direitos Humanos passou a fazer parte da reorganização dos encontros e dos debates que repensavam o sistema educacional e a própria democracia e seus limites. Limites próprios de uma sociedade de formação colonial, com suas práticas escravagistas, formada por uma elite ciosa de seus privilégios. Gradativamente as propostas, vindas dos movimentos sociais, das universidades e das entidades acadêmicas ligadas às ciências humanas, ganharam corpo e se transformaram em políticas de Estado, tais como o segundo Programa Nacional de Direitos Humanos, a partir do qual se avançou em direção à elaboração de um Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). 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Ressurgiram demônios adormecidos: o comunismo ateu e a pedagogia subversiva de Paulo Freire, aos quais se incorporaram novos seres imaginários, como a ideologia de gênero e sua força para exterminar a estrutura familiar.  A partir deste novo momento, a sociedade civil passou a rever os caminhos a percorrer. É destes caminhos que trata este dossiê da Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, denominado Educação em direitos humanos: resistência e transformação. Nele os leitores encontrarão sete textos de abordagens plurais que recuperam a trajetória recente do tema e avançam em interpretações teóricas. 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