新贝尔格莱德之旅:乌托邦、全球化和颓废

Mariana Hebling Alen Loureiro
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Assim, a construção desse novo centro administrativo representa simultaneamente a proclamação de uma nova época para o país e a materialização da ruptura com a União Soviética (1948), em uma tentativa de redirecionar para si o imaginário social em torno de Moscou como a capital socialista e se afastar do estilo arquitetônico predominante no Bloco do Leste. Após o violento colapso iugoslavo, as construções que ocupam as ruas de Nova Belgrado adquiriram um caráter diferente do seu propósito inicial: entre privatizações e abandono, complexos industriais inteiros se encontram em estado de decadência, enquanto empresas estrangeiras ocupam os edifícios antes destinados aos órgãos administrativo-estatais, marcando mais uma etapa na transformação dessa região. As fotografias dessa série, feitas em 2020, revelam a ambiguidade da Nova Belgrado atual, na qual a ampla presença de capital estrangeiro coexiste com as ruínas industriais das empresas estatais. 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摘要

贝尔格莱德(原:诺贝尔格莱德/НовиБеоград)是一个城市的贝尔格莱德之间建在平原河流萨瓦河和多瑙河。的地方,几个世纪以来一直是奥斯曼帝国和奥匈帝国之间的边境地区,仍无人居住,直到20世纪,只是该地区经历了第二次世界大战后被ressignificada南斯拉夫社会主义联邦共和国的居民,通过建立一个新的项目到你的国家(重新)建设投资。该项目由南斯拉夫建筑师精心设计,旨在与邻近的历史城市保持距离,以远离旧贝尔格莱德,除了战后的废墟状态,也与南斯拉夫王国(1918 - 1943)的塞尔维亚君主制密切相关。这样,那个新行政中心的建设不仅是负的新时代国家与苏联倒塌的具体化(1948),在试图把给你的想象在莫斯科成为资本主义社会如果远离在东欧建筑风格。暴力的南斯拉夫解体后,建筑在贝尔格莱德的街道买了另一个角色的初衷:在私有化和抛弃的状态,整个工业园区的堕落,在外国企业占用的建筑在新的国家行政机关,这片区域在处理另一个阶段。这一系列拍摄于2020年的照片揭示了今天新贝尔格莱德的模糊性,在这里,大量外国资本与国有企业的工业废墟并存。因此,纪念性建筑见证了一种可能的建筑风格,感谢南斯拉夫不结盟的文化融合,保存了另一种形式的多元文化主义的记忆,被新自由主义全球化的逻辑所取代。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
Um passeio por Novi Beograd: utopia, globalização e decadência
Nova Belgrado [original: Novi Beograd/Нови Београд] é um município da cidade de Belgrado construído na planície delimitada pelos rios Sava e Danúbio. Esse espaço, que durante séculos funcionou como uma área fronteiriça entre os impérios Otomano e Austro-húngaro, permaneceu inabitado até o meio do século XX: foi apenas depois da Segunda Guerra Mundial que a região passou a ser ressignificada para os habitantes da República Federativa Socialista Iugoslávia, por meio das iniciativas de edificação de uma nova capital para o seu país em (re)construção. O projeto, elaborado arquitetos iugoslavos, buscava se distanciar das cidades históricas adjacentes, em um gesto de afastamento da velha Belgrado que, para além do seu estado de ruína pósguerra, também estava fortemente associada à monarquia sérvia do Reino da Iugoslávia (1918 – 1943). Assim, a construção desse novo centro administrativo representa simultaneamente a proclamação de uma nova época para o país e a materialização da ruptura com a União Soviética (1948), em uma tentativa de redirecionar para si o imaginário social em torno de Moscou como a capital socialista e se afastar do estilo arquitetônico predominante no Bloco do Leste. Após o violento colapso iugoslavo, as construções que ocupam as ruas de Nova Belgrado adquiriram um caráter diferente do seu propósito inicial: entre privatizações e abandono, complexos industriais inteiros se encontram em estado de decadência, enquanto empresas estrangeiras ocupam os edifícios antes destinados aos órgãos administrativo-estatais, marcando mais uma etapa na transformação dessa região. As fotografias dessa série, feitas em 2020, revelam a ambiguidade da Nova Belgrado atual, na qual a ampla presença de capital estrangeiro coexiste com as ruínas industriais das empresas estatais. Assim, as construções monumentais, que testemunham um estilo arquitetônico possível graças às confluências culturais do não-alinhamento iugoslavo, guardam a memória de uma outra forma de multiculturalismo, substituída pela lógica da globalização neoliberal. 
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