A legitimação de Costa e Silva nas páginas da revista Realidade (1966-1967)

Este artigo tem como objetivo analisar o perfil “Feliz Aniversário Seu Artur”, publicado na revista Realidade de maio de 1966. A reportagem sobre Artur da Costa e Silva, ministro da Guerra na época de publicação, prenuncia sua chegada ao cargo de líder do governo ditatorial no Brasil. Realidade era uma revista considerada transgressora quando abordava o plano dos costumes, entretanto, mantinha diálogo com setores conservadores, como nos perfis dos ditadores, constantemente publicados durante os primeiros anos do periódico, sempre escritos por Luiz Fernando Mercadante. Dessa forma, pretende-se compreender, por meio de uma análise crítica da narrativa, as estratégias utilizadas para construir o personagem, que foi retratado, posteriormente, em mais três oportunidades, direta ou indiretamente, evidenciando uma negociação simbólica entre a revista e a Ditadura Civil-Militar. Por isso, busca-se, também, compreender os modos de operação da ideologia na versão final que chegava aos leitores. Além disso, discute-se a possibilidade de utilização das revistas não só como fontes, mas como objetos em si na pesquisa histórica, capazes de desvelar os jogos de poder de uma época. Por fim, percebe-se que o perfil evidencia as relações de poder entre a Realidade e a Ditadura, pelas escolhas presentes no texto e pelo cuidado em reconstruir Costa e Silva em outras ocasiões, legitimando o perfilado ao público leitor.