{"title":"POR que há menos pretas/os e pardas/os eleitas/os?","authors":"Viviane Gonçalves","doi":"10.1590/3811013/2023","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Recebido em: 29/10/2022 | Aprovado em: 25/05/2023 O que escrevemos e falamos carrega em si a marca do momento de sua emissão, estando intrinsecamente vinculado a crenças, perspectivas e valores de quem participa dessa ação comunicativa, dialógica por excelência. Assim sendo, preciso registrar que redijo esta resenha no dia 29 de outubro de 2022, exatamente na véspera do 2o turno das eleições brasileiras, em que disputam a Presidência da República os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL). No 1o turno, realizado em 2 de outubro, das/os 513 parlamentares eleitas/os para a 57a Legislatura (2023-2027) da Câmara dos Deputados, 26% autodeclaram-se pretas/os e pardas/os e 18% são mulheres. Além disso, é importante frisar outro ponto: devido à fluidez racial da sociedade brasileira,1 pode ser que haja mais parlamentares lidas/os socialmente como brancas/os e que, no momento do registro das candidaturas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tenham se autodeclarado como pardas/os. Dessa forma, portanto, a casa legislativa seria ainda mais branca do que aparenta ser (Campos e Machado, 2022). É neste contexto de manutenção do perfil predominantemente masculino e branco da Câmara dos Deputados e de expectativa para a definição da corrida presidencial que a obra de Luiz Augusto Campos e Carlos Machado (2020), mesmo lançada dois anos antes, apresenta-se como fundamental para se compreender as dinâmicas que marcam as eleições e os mandatos brasileiros. Torna-se imprescindível nessa discussão ter como basilares as reflexões que os autores trazem nas últimas páginas do livro: a inclusão de grupos historicamente alijados da representação política, como mulheres e pessoas negras, “não visa apenas reduzir os problemas sociais que lhes são específicos”, mas, “sobretudo, tornar nossa sociedade mais democrática” (Campos e Machado, 2020, p. 150-151).","PeriodicalId":35414,"journal":{"name":"Revista Brasileira de Ciencias Sociais","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-08-07","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Brasileira de Ciencias Sociais","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.1590/3811013/2023","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"Q3","JCRName":"Social Sciences","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Recebido em: 29/10/2022 | Aprovado em: 25/05/2023 O que escrevemos e falamos carrega em si a marca do momento de sua emissão, estando intrinsecamente vinculado a crenças, perspectivas e valores de quem participa dessa ação comunicativa, dialógica por excelência. Assim sendo, preciso registrar que redijo esta resenha no dia 29 de outubro de 2022, exatamente na véspera do 2o turno das eleições brasileiras, em que disputam a Presidência da República os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL). No 1o turno, realizado em 2 de outubro, das/os 513 parlamentares eleitas/os para a 57a Legislatura (2023-2027) da Câmara dos Deputados, 26% autodeclaram-se pretas/os e pardas/os e 18% são mulheres. Além disso, é importante frisar outro ponto: devido à fluidez racial da sociedade brasileira,1 pode ser que haja mais parlamentares lidas/os socialmente como brancas/os e que, no momento do registro das candidaturas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tenham se autodeclarado como pardas/os. Dessa forma, portanto, a casa legislativa seria ainda mais branca do que aparenta ser (Campos e Machado, 2022). É neste contexto de manutenção do perfil predominantemente masculino e branco da Câmara dos Deputados e de expectativa para a definição da corrida presidencial que a obra de Luiz Augusto Campos e Carlos Machado (2020), mesmo lançada dois anos antes, apresenta-se como fundamental para se compreender as dinâmicas que marcam as eleições e os mandatos brasileiros. Torna-se imprescindível nessa discussão ter como basilares as reflexões que os autores trazem nas últimas páginas do livro: a inclusão de grupos historicamente alijados da representação política, como mulheres e pessoas negras, “não visa apenas reduzir os problemas sociais que lhes são específicos”, mas, “sobretudo, tornar nossa sociedade mais democrática” (Campos e Machado, 2020, p. 150-151).
期刊介绍:
Editada por primeira vez em 1986, nove anos depois da fundação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) consolidou-se ou longo dos anos como um dos periódicos mais importantes de veiculação da produção científica de ponta nas três grandes áreas das ciências sociais (antropologia, sociologia e ciência política). É um periódico multidisciplinar no campo das ciências humanas que segue uma definição estrita de multidisciplinaridade, privilegiando contribuições substantivas em seu campo. Ocasionalmente, acolhe artigos oriundos de outras áreas, quando claramente dedicados a travar interlocução com a produção de conhecimento nas ciências sociais. Publicada ininterruptamente durante todos esses anos, nasceu e desenvolveu seu perfil editorial ao longo do tempo como periódico da Anpocs. A partir do número 90, publicado em fevereiro de 2016, passou a circular apenas em formato digital. Os artigos da revista se encontram disponíveis, em acesso aberto, tanto no SciELO quanto na página institucional da Anpocs, no canal Publicações, bem como em algumas redes acadêmicas.