{"title":"Encaixotando minha biblioteca: uma elegia e dez digressões, de Alberto Manguel São Paulo: Companhia das Letras, 2021, 184 p","authors":"Hadassa Viviane Rodrigues, Márcia Fusaro","doi":"10.5585/43.2023.22496","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Sempre é tempo de lembrar a importância da leitura e o papel das bibliotecas na difusão do conhecimento. Sobretudo relacionadas à área da Educação. Antes de mais nada, valelembrar também que publicações sobre a história dos livros e da leitura constituem parte fundamental da trajetória de Alberto Manguel. O leitor como metáfora: o viajante, a torre e a traça (2017), Notas para uma definição do leitor Ideal (2020) e Uma história da leitura (1996) estão entre seus muitos títulos que ganharam tradução no Brasil.Alberto Manguel é um romancista, tradutor, ensaísta e editor argentino que tem uma profunda paixão pelo mundo dos livros e da leitura. Aprendeu a ler por volta dos três anos e nunca mais parou. Filho de um embaixador argentino, passou a primeira infância em Israel, onde foi alfabetizado em inglês e alemão.Aprendeu castelhano, ao voltar para Buenos Aires, aos oito anos, e morou em diversos países, sempre rodeado por livros. Ainda na adolescência, a paixão pelos livros o levou a um encontro que marcaria a sua trajetória. Trabalhando como livreiro, acabou por estabelecer um afetuoso laço de amizade com ninguém mais, ninguém menos do que o grande escritor argentino Jorge Luis Borges, um dos frequentadores assíduos de uma prestigiada livraria anglo-germânica em Buenos Aires onde Manguel trabalhava. Durante quatro anos, Manguel frequentou a casa do escritor, para ler em voz alta os livros que a cegueira impedia Borges de visitar. Borges se dizia um grande leitor, acreditando que apenas “ocasionalmente” era escritor. Era um apaixonado pelas histórias, pelas frases, pela melodia dos versos e narrativas, enfim, pela palavra. Como grande leitor que era, o próprio Borges dizia que o paraíso deveria ter a forma de uma biblioteca. O livro Com Borges (2018), também lançado em português, é um longo ensaio com belas reflexões de Manguel sobre sua inesquecível convivência literária com Borges.O apartamento de Borges, descrito por Manguel, era um lugar fora do tempo, povoado de livros e de palavras, um universo onde Manguel descobriu o tipo de conversa que lhe era intrínseca – a dos livros e da literatura. Os quatro anos de convivência com Borges deixaram profundas marcas na percepção e na produção literária de Manguel, que já escreveu diversos títulos sobre o mundo dos livros, do ser leitor, da leitura e das bibliotecas.Apaixonado por livros, o escritor Alberto Manguel construiu, ao longo dos anos, uma enorme biblioteca privada, com aproximadamente 35 mil volumes, com destaque para exemplares raros de conotações pessoais, como, por exemplo, uma edição da década de 1930 dos Contos de Grimm, impresso em caracteres góticos, ou uma Bíblia produzida por um scriptorium alemão no século 13. Trata-se de um escritor erudito, com um vasto conhecimento de mundo, e um grande bibliófilo. Em Encaixotando minha biblioteca: uma elegia e dez digressões (2021), Manguel volta a um dos temas mais recorrentes em sua produção literária: o amor às letras.Nos anos 2000, levou os cerca de 35 mil volumes de sua biblioteca pessoal para Mondion, uma aldeia de dez casas no centro-oeste da França. Nas ruínas de um antigo presbitério, construiu a sua biblioteca, com a ideia de que ali ambos ficariam, ele e os livros, até a morte. No entanto, não foi bem assim: em 2014, por uma série de circunstâncias, teve que encaixotá-los e guardá-los no depósito da sua editora no Canadá.Parte daí a premissa deste mais novo livro de Manguel lançado no Brasil. No verão de 2015, Alberto Manguel e seu marido se prepararam para uma grande mudança de cenário: eles sairiam de sua casa medieval na França e passariam a morar em um apartamento em Nova York, espaço este que não comportaria todos os seus livros. Penosamente, sua biblioteca pessoal, com cerca de 35 mil volumes, teria que ser desmontada, encaixotada e deixada em um depósito. Durante esse processo, Manguel começa a relembrar dos títulos e das bibliotecas que contribuíram para sua formação intelectual, apresentando ao leitor essa miscelânea na forma de uma elegia e dez digressões que compõem o livro, todas em seu costumeiro e envolvente estilo ensaístico de escrita.Elegia, em sua raiz grega (elegeía), refere-se a um poema de lamento melancólico, fúnebre. Seus temas, em geral, são o lamento decorrente de uma perda, de uma ausência. A digressão, por sua vez, é uma figura de linguagem em que o enunciador se afasta momentaneamente da linha temática principal de seu discurso para inserir reflexões paralelas, não necessariamente ligadas ao tema principal. A escolha de tais recursos estilísticos são o ponto alto da escrita envolvente adotada por Manguel, por meio da liberdade ensaística que tais recursos lhe proporcionam no texto, tornando-o ainda mais prazeroso à leitura. Suas idas e vindas memorialísticas por lembranças e imagens, quase sempre evocadas por intensas metáforas, conduz o leitor por labirintos literários, sobretudo aqueles leitores, como ele, apaixonados pela leitura e seus universos possíveis. Nesses universos surgem também figuras marcantes, além de diferentes períodos da história descritos por meio de sua erudição ligada à história da leitura que fez com que seu livro Uma história da leitura (1996) se tornasse um bestseller mundial.Quem já passou pelo evento praticamente traumático de encaixotar muitos livros para uma mudança de residência sem dúvida se identificará com esta leitura de Manguel. Um livro breve,mas com grande profundidade de reflexão sobre o conceito de biblioteca, que nos fala apaixonadamente sobre a importância da leitura e dos livros em nossa vida e sobre como são vitais para o desenvolvimento da sociedade. Pode até não se tratar de um tema novo, mas sem dúvida é um tema a ser sempre relembrado. Sobretudo em contextos como o do Brasil onde tão pouco se valoriza a importância da leitura.Depois de descrevera organização de sua biblioteca pessoal, ou, em suas próprias palavras, a “geografia” de sua biblioteca, o autor nos traz reflexões acerca de como seus livros fazem parte de quem ele é: “[...] embora soubesse que éramos apenas os guardiões do jardim e da casa, eu sentia que os livros propriamente ditos pertenciam a mim, eram parte de quem eu era”(p. 25). Sua coleção seria uma espécie de autobiografia em várias camadas e sua própria memória estaria menos interessada nele mesmo do que em seus livros.Para qualquer leitor e colecionador, é quase impossível não ter vontade de acariciar seus livros, segurar alguns e reler páginas, redescobrir trechos, tudo que uma biblioteca pessoal pode proporcionar. A primeira parte de Encaixotando minha biblioteca carrega em suas páginas essa nostalgia e o encanto de Manguel pelos livros. A parte final fala sobre bibliotecas e sobre como os livros deram a ele, filho de diplomata, uma raiz e uma sensação de pertencimento que ele não conseguia ter com a vida nômade que era obrigado a levar enquanto crescia.Ao longo das digressões que o livro traz, Manguel toca em pontos como: a criação literária; a memória; sua crença de que o sofrimento é a raiz da criação literária e a tentativa de identificação de onde começa essa crença. Escreve sobrea experiência da leitura e o poder da linguagem, entre outros temas ligados à literatura. Destacamos um breve excerto de suas reflexões sobre a importância das bibliotecas públicas como[...] um instrumento essencial contra a solidão, seu lugar como memória e experiência de uma sociedade. [...] sem as bibliotecas públicas e sem conscientização do papel que desempenham, a sociedade baseada na palavra escrita está fadada ao desaparecimento. (p. 13).A prosa de Manguel revela o profundo embasamento conceitual característico de sua escrita, percebido tanto nas reflexões sobre as idiossincrasias de um bibliófilo quanto nas percepções das bibliotecas, ou de eventos como o incêndio que consumiu um dos mais significativos centros de conhecimento humano que foi a Biblioteca de Alexandria, no ano 48 a.C.Em suma, segundo o escritor, em tom de manifesto a favor da leitura: “Ler sempre é um ato de poder. E é uma das razões pelas quais um leitor é temido em quase todas as sociedades” (Manguel, 2018). Essa fala nos leva para uma reflexão sobre a capacidade e a liberdade de ler e do poder que advém delas. A literatura dá a possibilidade de questionar.Encaixotando minha biblioteca é uma leitura fluida, dessas que sentimos falta quando acaba. Um livro escrito por um bibliófilo para outros bibliófilos. Uma conversa com um amigo, que nos fala sobre uma das coisas de que mais gostamos: o livro. Quem guarda uma paixão enorme pela literatura e entende sua importância, vai encontrar neste livro argumentos ainda melhores para mostrar a outras pessoas como a escrita, os relatos, as memórias e o registro das informações são um espelho da nossa história. Os livros não apenas trazem boas narrativas, mas ajudam a construir uma sociedade mais igualitária.Afinal, houve um final feliz. Se, em Encaixotando minha biblioteca, Manguel conta sobre o sofrimento que vivenciou ao ter que embalar e encaixotar os seus livros, sem saber se um dia voltaria a vê-los, seis anos depois, o sonho de reencontrá-los se concretizou. A “ressurreição da biblioteca”, como o próprio Manguel diz, ocorreu em 2021, ao receber um convite de Portugal para dar abrigo definitivo ao seu significativo acervo. Hoje, já contando com 40 mil títulos, sua biblioteca faz parte do novo Centro de Estudos sobre a História da Leitura, em Lisboa, e ocupa seiscentos metros quadrados do Palacete dos Marqueses de Pombal, edifício destinado a acolher o novo centro.Longe de trazer conclusões no encerramento de suas digressões, Manguel elabora várias perguntas a si mesmo e aos leitores que o acompanharam até o final do livro. Questões mais uma vez profundas, filosóficas, sobre o conceito da biblioteca em suas necessidades de mudanças circunstanciais. Em suas palavras “o esvaziamento de uma biblioteca, embora doloroso, e o encaixotamento de livro, embora injusto, não precisam ser vistos como conclusão” (p. 17","PeriodicalId":42058,"journal":{"name":"Dialogia","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.1000,"publicationDate":"2023-04-17","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Dialogia","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5585/43.2023.22496","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"Q4","JCRName":"EDUCATION & EDUCATIONAL RESEARCH","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Sempre é tempo de lembrar a importância da leitura e o papel das bibliotecas na difusão do conhecimento. Sobretudo relacionadas à área da Educação. Antes de mais nada, valelembrar também que publicações sobre a história dos livros e da leitura constituem parte fundamental da trajetória de Alberto Manguel. O leitor como metáfora: o viajante, a torre e a traça (2017), Notas para uma definição do leitor Ideal (2020) e Uma história da leitura (1996) estão entre seus muitos títulos que ganharam tradução no Brasil.Alberto Manguel é um romancista, tradutor, ensaísta e editor argentino que tem uma profunda paixão pelo mundo dos livros e da leitura. Aprendeu a ler por volta dos três anos e nunca mais parou. Filho de um embaixador argentino, passou a primeira infância em Israel, onde foi alfabetizado em inglês e alemão.Aprendeu castelhano, ao voltar para Buenos Aires, aos oito anos, e morou em diversos países, sempre rodeado por livros. Ainda na adolescência, a paixão pelos livros o levou a um encontro que marcaria a sua trajetória. Trabalhando como livreiro, acabou por estabelecer um afetuoso laço de amizade com ninguém mais, ninguém menos do que o grande escritor argentino Jorge Luis Borges, um dos frequentadores assíduos de uma prestigiada livraria anglo-germânica em Buenos Aires onde Manguel trabalhava. Durante quatro anos, Manguel frequentou a casa do escritor, para ler em voz alta os livros que a cegueira impedia Borges de visitar. Borges se dizia um grande leitor, acreditando que apenas “ocasionalmente” era escritor. Era um apaixonado pelas histórias, pelas frases, pela melodia dos versos e narrativas, enfim, pela palavra. Como grande leitor que era, o próprio Borges dizia que o paraíso deveria ter a forma de uma biblioteca. O livro Com Borges (2018), também lançado em português, é um longo ensaio com belas reflexões de Manguel sobre sua inesquecível convivência literária com Borges.O apartamento de Borges, descrito por Manguel, era um lugar fora do tempo, povoado de livros e de palavras, um universo onde Manguel descobriu o tipo de conversa que lhe era intrínseca – a dos livros e da literatura. Os quatro anos de convivência com Borges deixaram profundas marcas na percepção e na produção literária de Manguel, que já escreveu diversos títulos sobre o mundo dos livros, do ser leitor, da leitura e das bibliotecas.Apaixonado por livros, o escritor Alberto Manguel construiu, ao longo dos anos, uma enorme biblioteca privada, com aproximadamente 35 mil volumes, com destaque para exemplares raros de conotações pessoais, como, por exemplo, uma edição da década de 1930 dos Contos de Grimm, impresso em caracteres góticos, ou uma Bíblia produzida por um scriptorium alemão no século 13. Trata-se de um escritor erudito, com um vasto conhecimento de mundo, e um grande bibliófilo. Em Encaixotando minha biblioteca: uma elegia e dez digressões (2021), Manguel volta a um dos temas mais recorrentes em sua produção literária: o amor às letras.Nos anos 2000, levou os cerca de 35 mil volumes de sua biblioteca pessoal para Mondion, uma aldeia de dez casas no centro-oeste da França. Nas ruínas de um antigo presbitério, construiu a sua biblioteca, com a ideia de que ali ambos ficariam, ele e os livros, até a morte. No entanto, não foi bem assim: em 2014, por uma série de circunstâncias, teve que encaixotá-los e guardá-los no depósito da sua editora no Canadá.Parte daí a premissa deste mais novo livro de Manguel lançado no Brasil. No verão de 2015, Alberto Manguel e seu marido se prepararam para uma grande mudança de cenário: eles sairiam de sua casa medieval na França e passariam a morar em um apartamento em Nova York, espaço este que não comportaria todos os seus livros. Penosamente, sua biblioteca pessoal, com cerca de 35 mil volumes, teria que ser desmontada, encaixotada e deixada em um depósito. Durante esse processo, Manguel começa a relembrar dos títulos e das bibliotecas que contribuíram para sua formação intelectual, apresentando ao leitor essa miscelânea na forma de uma elegia e dez digressões que compõem o livro, todas em seu costumeiro e envolvente estilo ensaístico de escrita.Elegia, em sua raiz grega (elegeía), refere-se a um poema de lamento melancólico, fúnebre. Seus temas, em geral, são o lamento decorrente de uma perda, de uma ausência. A digressão, por sua vez, é uma figura de linguagem em que o enunciador se afasta momentaneamente da linha temática principal de seu discurso para inserir reflexões paralelas, não necessariamente ligadas ao tema principal. A escolha de tais recursos estilísticos são o ponto alto da escrita envolvente adotada por Manguel, por meio da liberdade ensaística que tais recursos lhe proporcionam no texto, tornando-o ainda mais prazeroso à leitura. Suas idas e vindas memorialísticas por lembranças e imagens, quase sempre evocadas por intensas metáforas, conduz o leitor por labirintos literários, sobretudo aqueles leitores, como ele, apaixonados pela leitura e seus universos possíveis. Nesses universos surgem também figuras marcantes, além de diferentes períodos da história descritos por meio de sua erudição ligada à história da leitura que fez com que seu livro Uma história da leitura (1996) se tornasse um bestseller mundial.Quem já passou pelo evento praticamente traumático de encaixotar muitos livros para uma mudança de residência sem dúvida se identificará com esta leitura de Manguel. Um livro breve,mas com grande profundidade de reflexão sobre o conceito de biblioteca, que nos fala apaixonadamente sobre a importância da leitura e dos livros em nossa vida e sobre como são vitais para o desenvolvimento da sociedade. Pode até não se tratar de um tema novo, mas sem dúvida é um tema a ser sempre relembrado. Sobretudo em contextos como o do Brasil onde tão pouco se valoriza a importância da leitura.Depois de descrevera organização de sua biblioteca pessoal, ou, em suas próprias palavras, a “geografia” de sua biblioteca, o autor nos traz reflexões acerca de como seus livros fazem parte de quem ele é: “[...] embora soubesse que éramos apenas os guardiões do jardim e da casa, eu sentia que os livros propriamente ditos pertenciam a mim, eram parte de quem eu era”(p. 25). Sua coleção seria uma espécie de autobiografia em várias camadas e sua própria memória estaria menos interessada nele mesmo do que em seus livros.Para qualquer leitor e colecionador, é quase impossível não ter vontade de acariciar seus livros, segurar alguns e reler páginas, redescobrir trechos, tudo que uma biblioteca pessoal pode proporcionar. A primeira parte de Encaixotando minha biblioteca carrega em suas páginas essa nostalgia e o encanto de Manguel pelos livros. A parte final fala sobre bibliotecas e sobre como os livros deram a ele, filho de diplomata, uma raiz e uma sensação de pertencimento que ele não conseguia ter com a vida nômade que era obrigado a levar enquanto crescia.Ao longo das digressões que o livro traz, Manguel toca em pontos como: a criação literária; a memória; sua crença de que o sofrimento é a raiz da criação literária e a tentativa de identificação de onde começa essa crença. Escreve sobrea experiência da leitura e o poder da linguagem, entre outros temas ligados à literatura. Destacamos um breve excerto de suas reflexões sobre a importância das bibliotecas públicas como[...] um instrumento essencial contra a solidão, seu lugar como memória e experiência de uma sociedade. [...] sem as bibliotecas públicas e sem conscientização do papel que desempenham, a sociedade baseada na palavra escrita está fadada ao desaparecimento. (p. 13).A prosa de Manguel revela o profundo embasamento conceitual característico de sua escrita, percebido tanto nas reflexões sobre as idiossincrasias de um bibliófilo quanto nas percepções das bibliotecas, ou de eventos como o incêndio que consumiu um dos mais significativos centros de conhecimento humano que foi a Biblioteca de Alexandria, no ano 48 a.C.Em suma, segundo o escritor, em tom de manifesto a favor da leitura: “Ler sempre é um ato de poder. E é uma das razões pelas quais um leitor é temido em quase todas as sociedades” (Manguel, 2018). Essa fala nos leva para uma reflexão sobre a capacidade e a liberdade de ler e do poder que advém delas. A literatura dá a possibilidade de questionar.Encaixotando minha biblioteca é uma leitura fluida, dessas que sentimos falta quando acaba. Um livro escrito por um bibliófilo para outros bibliófilos. Uma conversa com um amigo, que nos fala sobre uma das coisas de que mais gostamos: o livro. Quem guarda uma paixão enorme pela literatura e entende sua importância, vai encontrar neste livro argumentos ainda melhores para mostrar a outras pessoas como a escrita, os relatos, as memórias e o registro das informações são um espelho da nossa história. Os livros não apenas trazem boas narrativas, mas ajudam a construir uma sociedade mais igualitária.Afinal, houve um final feliz. Se, em Encaixotando minha biblioteca, Manguel conta sobre o sofrimento que vivenciou ao ter que embalar e encaixotar os seus livros, sem saber se um dia voltaria a vê-los, seis anos depois, o sonho de reencontrá-los se concretizou. A “ressurreição da biblioteca”, como o próprio Manguel diz, ocorreu em 2021, ao receber um convite de Portugal para dar abrigo definitivo ao seu significativo acervo. Hoje, já contando com 40 mil títulos, sua biblioteca faz parte do novo Centro de Estudos sobre a História da Leitura, em Lisboa, e ocupa seiscentos metros quadrados do Palacete dos Marqueses de Pombal, edifício destinado a acolher o novo centro.Longe de trazer conclusões no encerramento de suas digressões, Manguel elabora várias perguntas a si mesmo e aos leitores que o acompanharam até o final do livro. Questões mais uma vez profundas, filosóficas, sobre o conceito da biblioteca em suas necessidades de mudanças circunstanciais. Em suas palavras “o esvaziamento de uma biblioteca, embora doloroso, e o encaixotamento de livro, embora injusto, não precisam ser vistos como conclusão” (p. 17
我们总是应该记住阅读的重要性和图书馆在传播知识方面的作用。主要与教育领域有关。首先,值得注意的是,关于书籍和阅读历史的出版物是阿尔贝托·曼盖尔职业生涯的基本组成部分。《O leitor como met隐喻:O viajante, a torre ea traca》(2017)、《Notas para uma definition do leitor Ideal》(2020)和《uma historia da leitura》(1996)等书在巴西获得了翻译。阿尔贝托·曼盖尔(Alberto Manguel)是阿根廷小说家、翻译家、散文家和编辑,他对书籍和阅读有着深厚的热情。他在三岁左右学会了阅读,再也没有停止过。作为阿根廷大使的儿子,他在以色列度过了童年,在那里他学会了英语和德语。8岁回到布宜诺斯艾利斯后,他学会了西班牙语,并在几个国家生活,周围都是书籍。十几岁时,他对书籍的热情让他遇到了一个标志着他职业生涯的人。作为一名书商,他最终与伟大的阿根廷作家豪尔赫·路易斯·博尔赫斯(Jorge Luis Borges)建立了深厚的友谊。博尔赫斯是曼格尔工作的布宜诺斯艾利斯一家著名英德书店的常客之一。四年来,曼格尔经常去作家的家,朗读博尔赫斯因失明而无法阅读的书。博尔赫斯称自己是一个伟大的读者,认为他只是“偶尔”成为一个作家。他热爱故事,热爱短语,热爱诗歌和叙事的旋律,简而言之,热爱文字。博尔赫斯本人是一位伟大的读者,他说天堂应该有图书馆的形式。《与博尔赫斯在一起》(2018)也是用葡萄牙语出版的,是一篇长篇文章,曼盖尔对他与博尔赫斯难忘的文学生活进行了美丽的反思。曼格尔描述的博尔赫斯的公寓是一个永恒的地方,充满了书籍和文字,在这个宇宙中,曼格尔发现了他与生俱来的对话——书籍和文学。与博尔赫斯生活在一起的四年给曼格尔的感知和文学创作留下了深刻的印记,他已经写了几本关于书籍世界、读者、阅读和图书馆的书。爱上书,作家阿尔伯特Manguel多年建立起来的,一个巨大的私人图书馆,约3.5万册,特别是为少数个人的内涵,比如1930年代版的格林童话,打印字符的哥特式,或者由一个德国写字间圣经在13世纪。他是一位博学的作家,对世界有广泛的了解,也是一位伟大的藏书家。在《我的图书馆:一首挽歌和十个digressoes》(2021)一书中,曼盖尔回到了他文学作品中最常出现的主题之一:对文学的热爱。21世纪初,他把自己的私人图书馆里大约3.5万册藏书带到了Mondion,这是法国中西部一个有10栋房子的村庄。在一个旧长老会的废墟上,他建造了自己的图书馆,他的想法是,他和书都将留在那里,直到他死去。然而,事实并非如此:2014年,由于各种情况,他不得不把它们打包起来,存放在加拿大出版商的仓库里。这就是曼盖尔在巴西出版的新书的前提。2015年夏天,阿尔贝托·曼盖尔(Alberto Manguel)和她的丈夫为一个重大的环境变化做了准备:他们将离开他们在法国的中世纪住宅,搬到纽约的一套公寓里,那里不会放他们所有的书。不幸的是,他的个人图书馆,大约3.5万册,不得不被拆开,装进盒子,放在一个仓库里。在这个过程中,曼格尔开始回忆对他的智力形成有贡献的书名和图书馆,以一首挽歌和十首离题的形式向读者呈现这本书的杂集,所有这些都以他通常的、吸引人的散文式写作风格。《挽歌》的希腊词根(Elegia)指的是一首忧郁的葬礼挽歌诗。他的主题通常是对失去或缺席的遗憾。另一方面,离题是一种修辞手法,在这种手法中,讲话者暂时离开他的演讲的主线,插入平行的反思,不一定与主题相关。这种文体资源的选择是曼格尔采用的沉浸式写作的高潮,通过这些资源在文本中提供的散文式自由,使其阅读更加愉快。他对记忆和图像的记忆来来往往,几乎总是被强烈的隐喻所唤起,引导读者穿过文学迷宫,尤其是像他这样热爱阅读和可能的宇宙的读者。 在这些宇宙中也出现了杰出的人物,以及通过他对阅读历史的博学描述的不同历史时期,这使他的书《阅读历史》(1996)成为世界畅销书。任何经历过为搬家而打包许多书的实际创伤事件的人,无疑会认同曼格尔的阅读。这是一本简短的书,但对图书馆的概念进行了深刻的反思,它热情地告诉我们阅读和书籍在我们生活中的重要性,以及它们对社会发展的重要性。这可能不是一个新话题,但它肯定是一个需要永远记住的话题。特别是在巴西这样的环境中,阅读的重要性很少被重视。在描述了他的个人图书馆的组织,或者用他自己的话来说,他的图书馆的“地理位置”之后,作者让我们思考了他的书是如何成为他的一部分的:“……虽然我知道我们只是花园和房子的守护者,但我觉得书本身属于我,它们是我的一部分。”25)。他的收藏将是一种多层自传,他自己的记忆对他自己的兴趣将不如对他的书感兴趣。对于任何读者和收藏家来说,几乎不可能不爱抚他们的书,拿着几页,重读几页,重新发现摘录,所有这些都是个人图书馆可以提供的。《装箱我的图书馆》的第一部分在它的页面上承载着曼盖尔对书籍的怀旧和魅力。最后一部分讲述了图书馆,以及书籍如何给他这个外交官的儿子一种根和归属感,这是他在成长过程中被迫过的游牧生活所没有的。在这本书带来的离题中,曼格尔触及了以下几点:文学创作;的记忆;他的信念是,在他生命的最后几年里,他将自己的一生奉献给了慈善事业。他写了关于阅读体验和语言的力量,以及其他与文学相关的主题。我们重点介绍了他对公共图书馆作为公共图书馆的重要性的思考。它是对抗孤独的重要工具,它作为社会记忆和经验的地位。〔...没有公共图书馆,没有对其作用的认识,以文字为基础的社会注定要消失。(13页)。散文Manguel揭示了深刻的概念支持文章的特点,收到这么多的想法,这场爱书的人的观点的图书馆,或事件(如火灾吞噬了人类知识最重要的中心是在亚历山大图书馆,在48年a.C.Em为第二作者,在读书的时候汤姆的宣言:“阅读是一种力量。这也是几乎每个社会都害怕读者的原因之一”(Manguel, 2018)。这句话让我们反思阅读的能力和自由,以及由此产生的力量。文学提供了质疑的可能性。打包我的图书馆是一种流畅的阅读,当它结束时,我们会怀念它。一个爱书人写给其他爱书人的书。和一个朋友的谈话,他告诉我们我们最喜欢的东西之一:书。那些对文学有着巨大热情并理解其重要性的人会在这本书中找到更好的论据,向其他人展示写作、报告、记忆和信息记录是如何反映我们的历史的。书籍不仅能带来好的叙事,还有助于建立一个更加平等的社会。毕竟,有一个幸福的结局。如果,在装箱我的图书馆,曼格尔讲述了他不得不装箱他的书所经历的痛苦,不知道是否有一天会再见到他们,六年后,再次见到他们的梦想实现了。正如曼盖尔自己所说,“图书馆的复活”发生在2021年,当时他收到了葡萄牙的邀请,为他的重要藏品提供永久的庇护。今天,它的图书馆已经有4万册图书,是里斯本新阅读历史研究中心的一部分,占地600平方米的Palacete dos marques de Pombal,该建筑是新中心的所在地。曼盖尔非但没有在他的离题结束时得出结论,反而向自己和陪伴他直到书结尾的读者提出了几个问题。同样深刻的哲学问题,关于图书馆的概念在环境变化的需要。 用他的话来说,“清空图书馆虽然痛苦,打包书虽然不公平,但不需要被视为结论”(第17页)。