Larissa Barbosa da Silva, Lucília Souza Lima Teixeira, Mariana Cunha Firmino, Sandra Coeli Barbosa dos Santos
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Abstract
Scholastique Mukasonga, nascida em 1956 em Ruanda, e uma escritora francofona sobrevivente do genocidio dos tutsis ocorrido nos anos 1990. Ela emigrou para a Franca nesse periodo e ali estabeleceu residencia trabalhando como assistente social. Escrever passou a ser uma necessidade para salvar a memoria[1]:
Onde estao eles hoje? Na cripta memorial da igreja de Nyamata, crânios anonimos entre tantas ossadas? Na brousse, sob os espinheiros, em uma fossa que ainda nao veio a publico? Copio inumeras vezes o nome que ainda nao veio a publico? Copio inumeras vezes o nome deles no caderno de capa azul, quero provar a mim mesma que eles existiram, pronuncio seus nomes um a um na noite silenciosa. Sobre cada nome devo definir um rosto, pendurar um retalho como lembranca. Nao quero chorar, sinto as lagrimas escorrerem pelas minhas faces. Fecho os olhos, esta sera mais uma noite sem sono. Tenho muitos mortos a velar.[2]
Depois de conferencias realizadas em Sao Paulo em novembro de 2019 sobre tres de suas obras traduzidas para o portugues e publicadas pela editora Nos: A mulher dos pes descalcos (2017), Nossa Senhora do Nilo (2017) e Baratas (2018), a autora Scholastique Mukasonga, acompanhada de seu filho Aurelien, gentilmente, nos concedeu uma entrevista em seu hotel, que foi gravada em audio antes de seu embarque para Nova York, onde concorreu ao premio National Book Awards 2019 por A mulher dos pes descalcos. Segundo a escritora, esse e o seu livro mais conhecido nos Estados Unidos e no Brasil, lancado na FLIP em Paraty em 2017. Depois de transcrever integralmente a gravacao de uma hora de entrevista e traduzi-la, procuramos cortar repeticoes e hesitacoes caracteristicas da oralidade afim de tornar a leitura mais fluida. A escritora teve ciencia de todo o processo ate a publicacao desta entrevista.
[1] As citacoes presentes nessa entrevista foram escolhidas pelas entrevistadoras.
[2] MUKASONGA, S. Baratas. Traducao Elisa Nazarian. Sao Paulo: 2018, p. 18.