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Abstract
Anne Carson é atualmente uma das mais aclamadas poetas, ensaístas, dramaturgas e tradutoras de língua inglesa, entretanto, a precisão destes termos se torna nebulosa diante da autora que tem como traço fundamental a mescla e desarticulação dos limites literários. Este procedimento marca Carson como alguém que pensa o literário a partir do ato tradutório, entendido por ela como a possibilidade de deixar duas realidades distintas visíveis, criando um ambíguo local que não pode existir, porém que é apresentado e performado a nossa frente. Dentro deste escopo, proponho olhar sua tradução da Antígona de Sófocles, titulada Antigonick, como um artefato de linguagem, uma partitura para realização de um ato de linguagem, para a realização do grito que chamamos de Antígona. Esta será pensada junto à tese de multiplicidade tradutória linguística presente em Borges, Cassin e Ricoeur, em que a tradução pode ser compreendida como um elogio ao múltiplo, como um saber se movimentar entre fronteiras e limites, um mover rumo a diferenças; fato que está presente na tentativa de Carson de traduzir algo distinto – o silêncio – de uma forma distinta – catástrofe –, de pensar outra possibilidade para aquela linguagem que fuja ao discursivo comum, dando voz a uma fúria contra o clichê e tendo como base a ololyga, grito ritual feminino da Grécia antiga, e as concepções da mulher como aquela que rompe limites por excelência, aquela que polui, que desloca e que toca com a voz. Por fim, a partir das concepções de Carson, argumento que a tradução e a performance são modos privilegiados para pensar o mundo, a multiplicidade e as diferenças.