{"title":"Contributos do estudo sobre o desgarramento na língua falada para a descrição do fraseamento prosódico no Português Brasileiro","authors":"Aline Silvestre","doi":"10.11606/ISSN.2176-9419.V20IESPECIALP71-94","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O desgarramento foi postulado por Decat (1999, 2011), com base numa análise funcional-discursiva, afirmando que algumas orações entre as tradicionalmente chamadas de ‘subordinadas’ pela tradição gramatical podem ocorrer soltas ou sozinhas. Instigado pelo fenômeno, este artigo realiza uma descrição prosódica de orações desgarradas e correlaciona-a a reflexões referentes aos fraseamento prosódico no Português do Brasil. Para isso, leva em conta resultados de Tenani (2002) e Serra (2009), concernentes à estrutura entoacional de orações adverbiais e aos correlatos acústicos do fraseamento no PB, respectivamente, que revelam ser o contorno entoacional L+H*H% relativo a sintagmas entoacionaisn (IPs) hierarquizados e a pausa ser a pista mais robusta no fraseamento de IPs. Foram analisados os parâmetros acústicos duração, pausa e contorno de F0 em 900 orações adverbais – 450 anexadas à oração matriz e outras 450 lexicalmente idênticas, desgarradas, produzidas por cinco informantes oriundas do estado Rio de Janeiro. Os resultados demonstram que a maioria das orações adverbiais produzidas em conjunto com a oração matriz foram delimitadas por contornos melódicos com fronteira baixa (72,7% dos dados - 38,5% de L+H*L% e 34,2% de H+L*L%), ao passo que o contorno L+H*H% esteve presente em 27,3% delas. No que se refere às orações desgarradas, completas, o contorno L+H*H% foi majoritariamente produzido (83,5%). Com isso, postula-se que o contorno L+H*H%, referido como “continuativo” na literatura de base prosódica (Gonçalves 1997; Cunha, 2000; Tenani 2002) só traria a ideia de continuidade quando o IP for fraseado sem a saliência de outra pista prosódica.","PeriodicalId":30297,"journal":{"name":"Filologia e Linguistica Portuguesa","volume":" ","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2018-12-30","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"1","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Filologia e Linguistica Portuguesa","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.11606/ISSN.2176-9419.V20IESPECIALP71-94","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
O desgarramento foi postulado por Decat (1999, 2011), com base numa análise funcional-discursiva, afirmando que algumas orações entre as tradicionalmente chamadas de ‘subordinadas’ pela tradição gramatical podem ocorrer soltas ou sozinhas. Instigado pelo fenômeno, este artigo realiza uma descrição prosódica de orações desgarradas e correlaciona-a a reflexões referentes aos fraseamento prosódico no Português do Brasil. Para isso, leva em conta resultados de Tenani (2002) e Serra (2009), concernentes à estrutura entoacional de orações adverbiais e aos correlatos acústicos do fraseamento no PB, respectivamente, que revelam ser o contorno entoacional L+H*H% relativo a sintagmas entoacionaisn (IPs) hierarquizados e a pausa ser a pista mais robusta no fraseamento de IPs. Foram analisados os parâmetros acústicos duração, pausa e contorno de F0 em 900 orações adverbais – 450 anexadas à oração matriz e outras 450 lexicalmente idênticas, desgarradas, produzidas por cinco informantes oriundas do estado Rio de Janeiro. Os resultados demonstram que a maioria das orações adverbiais produzidas em conjunto com a oração matriz foram delimitadas por contornos melódicos com fronteira baixa (72,7% dos dados - 38,5% de L+H*L% e 34,2% de H+L*L%), ao passo que o contorno L+H*H% esteve presente em 27,3% delas. No que se refere às orações desgarradas, completas, o contorno L+H*H% foi majoritariamente produzido (83,5%). Com isso, postula-se que o contorno L+H*H%, referido como “continuativo” na literatura de base prosódica (Gonçalves 1997; Cunha, 2000; Tenani 2002) só traria a ideia de continuidade quando o IP for fraseado sem a saliência de outra pista prosódica.