{"title":"Do conto como cânone da poesia: Eça, Machado e as aporias da modernidade","authors":"Isabel Cristina Rodrigues","doi":"10.37508/rcl.2024.nesp.a1214","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Se nos propusermos ler os contos «Missa do Galo», de Machado de Assis (1893), e «Civilização» (1892), de Eça de Queirós, à luz da pauta categorial do conto, verificamos que a inquestionável modernidade da narrativa breve de Machado não se mostra propriamente reconhecível no conto queirosiano. Na esteira já antiga (mas inquestionavelmente moderna) de Poe, o conto de Machado procura mostrar por que razão o exercício narrativo é, neste género literário, tão necessário como malquisto – porque há sempre nele uma história para contar, mas dela conta-se apenas o seu rosto mais visível, cujo perfil secreto parece preferir recolher-se à virtualidade significativa de um instante que abre depois para o que o transcende em possibilidade de significação. Por seu lado, o conto de Eça, publicado pela primeira vez em 1892 na portuguesa Gazeta de Notícias (e que viria posteriormente a figurar como matriz do romance A cidade e as serras, publicado em 1901), não acolhe a discursividade de fotograma que enforma o conto de Machado de Assis, ainda hoje profundamente moderno na defesa compositiva de uma brevidade que não pode medir-se em função do fio de lógica ditado pelo número.","PeriodicalId":500160,"journal":{"name":"Convergência Lusíada","volume":"119 37","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2024-04-21","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Convergência Lusíada","FirstCategoryId":"0","ListUrlMain":"https://doi.org/10.37508/rcl.2024.nesp.a1214","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Se nos propusermos ler os contos «Missa do Galo», de Machado de Assis (1893), e «Civilização» (1892), de Eça de Queirós, à luz da pauta categorial do conto, verificamos que a inquestionável modernidade da narrativa breve de Machado não se mostra propriamente reconhecível no conto queirosiano. Na esteira já antiga (mas inquestionavelmente moderna) de Poe, o conto de Machado procura mostrar por que razão o exercício narrativo é, neste género literário, tão necessário como malquisto – porque há sempre nele uma história para contar, mas dela conta-se apenas o seu rosto mais visível, cujo perfil secreto parece preferir recolher-se à virtualidade significativa de um instante que abre depois para o que o transcende em possibilidade de significação. Por seu lado, o conto de Eça, publicado pela primeira vez em 1892 na portuguesa Gazeta de Notícias (e que viria posteriormente a figurar como matriz do romance A cidade e as serras, publicado em 1901), não acolhe a discursividade de fotograma que enforma o conto de Machado de Assis, ainda hoje profundamente moderno na defesa compositiva de uma brevidade que não pode medir-se em função do fio de lógica ditado pelo número.
如果我们着手根据短篇小说的分类准则来阅读马查多-德-阿西斯的短篇小说《伽罗之歌》(Missa do Galo)(1893 年)和埃萨-德-凯罗斯的短篇小说《文明》(Civilização)(1892 年),我们就会发现,马查多短篇叙事中毋庸置疑的现代性在凯罗斯的短篇小说中并不完全可辨。马查多的短篇小说继承了坡的古老(但无疑是现代的)传统,试图说明为什么在这一文学体裁中,叙事工作既是必要的,也是不喜欢的--因为其中总是有故事可讲,但只讲了它最明显的一面,其秘密的轮廓似乎更愿意退回到瞬间的有意义的虚拟性中,然后在意义的可能性中向超越它的东西敞开大门。埃萨的短篇小说于 1892 年首次发表在葡萄牙《新闻报》上(后来成为 1901 年出版的长篇小说《A cidade e as serras》的素材),它并不像马查多-德-阿西斯的短篇小说那样具有框架的辨证性,马查多-德-阿西斯的短篇小说在构图上捍卫了简洁性,而这种简洁性是无法按照数字所规定的逻辑线来衡量的,这一点在今天仍然具有深刻的现代意义。