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Abstract
Os protagonistas dos romances e de boa parte dos contos de Kafka são indivíduos perdidos num mundo estranho, incompreensível, como se fossem estrangeiros buscando um modo de entender e ser entendido pelo outro. Busca vã e infinita, que os leva a perambular pelas cidades, a dois passos do que parece ser o destino (feliz) da jornada e que logo em seguida foge de alcance, num eterno adiamento. Este perfil já se vê no primeiro romance do autor, O desaparecido ou Amerika (2003), em que o jovem Karl Rossman, partindo da Alemanha para os Estados Unidos, inicia seu périplo de estrangeiro num país hostil, como uma espécie de não herói, figura que viria se sobrepor, na contemporaneidade, ao herói romântico e ao anti-herói modernista, como acontece na obra de João Gilberto Noll, em especial no romance O quieto animal da esquina (1991). O artigo parte da ideia do não herói como protagonista tanto da obra de Kafka quanto de Noll, buscando ver como a sensação de estranheza vai se construindo, nos romances citados, a partir das andanças dos personagens numa busca guiada mais pelo instinto do que pela razão, empreendendo ambos uma viagem interminável, que de certa forma dialoga com a própria escrita dos dois autores – nestas e em outras obras –, em aberto, deixando sempre a impressão de um proposital inacabamento.