{"title":"Corporeidade e estéticas indígenas na Festa da Menina-Moça: territorialidade, cosmopolítica e alteridade entre os Tenetehar-Tembé","authors":"Benedito Emílio Ribeiro","doi":"10.7440/antipoda53.2023.05","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Nas últimas décadas, os povos indígenas vêm articulando processos que fortalecem e/ou revivem rituais, cosmologias, estéticas e uma diversidade de saberes enquanto estratégia política de resistência. Um fenômeno ligado às formas de afirmação da identidade e manutenção de direitos territoriais, e que tem sido uma lente de análise antropológica da realidade indígena. Diante disso, o artigo foca num conjunto de experiências estéticas e saberes cosmológicos agenciados durante a Festa da Menina-Moça, um importante processo ritual e evento cosmopolítico do povo Tenetehar-Tembé, localizado no nordeste do Pará, Brasil. O objetivo deste estudo é compreender as relações entre a fabricação social do corpo Tembé e o papel e a “força” (agência) das mulheres a partir da produção e do uso estético na festa, traduzindo importantes aspectos da territorialidade, da cosmopolítica e da alteridade desse povo Tupi-Guarani da Amazônia oriental. A partir de revisões da literatura antropológica e de uma teorização etnográfica, embasada em minhas experiências de campo nas aldeias do Guamá e na observação participante da festa em meados de 2018, observam-se aqui os percursos (fases) da Festa da Menina-Moça e a eficácia das estéticas Tembé na fabricação dos corpos-territórios dessas moças e rapazes em liminaridade — e sua transformação relacional em “gente verdadeira”. Neste artigo, propõe-se uma leitura original da realidade Tembé e de seus processos a partir das expressões estéticas agenciadas na festa, as quais são um eixo revelador das dinâmicas socioculturais e das relações cosmopolíticas de diferentes grupos indígenas. Conclui-se que as formas de organização social e as práticas políticas do povo Tenetehar-Tembé são fortemente atravessadas por desdobramentos da festa. Aqui, saberes cosmológicos e estéticas potenciais constroem “gente verdadeira” ao mesmo tempo que (re)produzem socialidades e memória ritual, sendo mobilizadas e atualizadas em outros contextos da vida Tembé, sobretudo nas lutas políticas pelo seu território.","PeriodicalId":225715,"journal":{"name":"Antípoda: Revista de Antropología y Arqueología","volume":"10 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-10-02","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Antípoda: Revista de Antropología y Arqueología","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.7440/antipoda53.2023.05","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Nas últimas décadas, os povos indígenas vêm articulando processos que fortalecem e/ou revivem rituais, cosmologias, estéticas e uma diversidade de saberes enquanto estratégia política de resistência. Um fenômeno ligado às formas de afirmação da identidade e manutenção de direitos territoriais, e que tem sido uma lente de análise antropológica da realidade indígena. Diante disso, o artigo foca num conjunto de experiências estéticas e saberes cosmológicos agenciados durante a Festa da Menina-Moça, um importante processo ritual e evento cosmopolítico do povo Tenetehar-Tembé, localizado no nordeste do Pará, Brasil. O objetivo deste estudo é compreender as relações entre a fabricação social do corpo Tembé e o papel e a “força” (agência) das mulheres a partir da produção e do uso estético na festa, traduzindo importantes aspectos da territorialidade, da cosmopolítica e da alteridade desse povo Tupi-Guarani da Amazônia oriental. A partir de revisões da literatura antropológica e de uma teorização etnográfica, embasada em minhas experiências de campo nas aldeias do Guamá e na observação participante da festa em meados de 2018, observam-se aqui os percursos (fases) da Festa da Menina-Moça e a eficácia das estéticas Tembé na fabricação dos corpos-territórios dessas moças e rapazes em liminaridade — e sua transformação relacional em “gente verdadeira”. Neste artigo, propõe-se uma leitura original da realidade Tembé e de seus processos a partir das expressões estéticas agenciadas na festa, as quais são um eixo revelador das dinâmicas socioculturais e das relações cosmopolíticas de diferentes grupos indígenas. Conclui-se que as formas de organização social e as práticas políticas do povo Tenetehar-Tembé são fortemente atravessadas por desdobramentos da festa. Aqui, saberes cosmológicos e estéticas potenciais constroem “gente verdadeira” ao mesmo tempo que (re)produzem socialidades e memória ritual, sendo mobilizadas e atualizadas em outros contextos da vida Tembé, sobretudo nas lutas políticas pelo seu território.