Ana Clara Miranda Geraldo, Renata Morato Santos, Mario Vicente Giordano, Gustavo Mourão Rodrigues, Andréia Luiz Montenegro da Costa
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Abstract
Introdução: A arterite de Takayasu (TAK) é uma doença vascular inflamatória crônica de origem desconhecida que frequentemente afeta o arco aórtico e seus principais ramos, além de poder afetar outras partes da aorta, artérias pulmonares e artérias renais. Relato de caso: Uma paciente gestante, 27 anos, G5 P4 A0, foi atendida na 19ª semana de gravidez com queixa de cefaleia temporal esquerda intensa, fotofobia, dor lombar e claudicação intermitente que duravam dois anos. A paciente tinha histórico de hipertensão gestacional anterior não tratada. O exame clínico revelou pressão arterial (PA) diferente nos membros: MSD 120 × 80 mmHg, MSE 130 × 90 mmHg, MMII 140 × 100 mmHg. O ritmo cardíaco estava regular, em dois tempos, com bulhas hiperfonéticas e sem sopros. O exame obstétrico mostrou um fundo uterino de 21 cm e tônus normal. A ultrassonografia abdominal revelou irregularidades parietais na artéria aorta e dilatação máxima de 2,2 cm. A angiotomografia computadorizada da artéria aorta e artérias ilíacas mostrou espessamento parietal ao longo da aorta abdominal e porção proximal das artérias ilíacas, com uma lesão estenosante de 4,8 cm no segmento infrarrenal e redução do calibre arterial. A fundoscopia não apresentou anormalidades. Na 29ª semana de gestação, a paciente apresentou sinais de insuficiência venosa nos membros inferiores com dor. O diagnóstico de TAK foi confirmado pela Reumatologia e optou-se por não iniciar terapia imunossupressora. Não foram fornecidos dados sobre o parto, mas a paciente evoluiu satisfatoriamente até o termo. Comentários: A prevalência da TAK em gestantes não está bem estabelecida, o que indica a necessidade de mais estudos. O estreitamento das artérias pode levar à hipertensão gestacional e resultar em crescimento intrauterino restrito (CIUR), óbito fetal ou óbito materno, mas felizmente essas complicações não ocorreram no caso descrito. A paciente apresentou apenas uma medição de PA em membro superior compatível com hipertensão, mas nas consultas subsequentes a PA estava normal, e não foi prescrito AAS para a profilaxia da pré-eclâmpsia (PE) devido à idade gestacional avançada. A atenção primária identificou adequadamente a necessidade de encaminhamento. A disfunção placentária devido à hipertensão durante a gestação é uma das causas de CIUR e é uma complicação da TAK. No tratamento da TAK, é importante considerar as particularidades das gestantes. O Colégio Americano de Reumatologia recomenda o uso de corticoides orais em casos de doença ativa e sintomática. Não há evidências de que a pulsoterapia ofereça melhores resultados obstétricos. O tratamento com corticoides deve ser mantido até a remissão da doença (6 a 12 meses) e, em seguida, deve ser retirado gradualmente. A boa resposta aos corticoides sugere uma origem autoimune da doença. Se a estenose arterial progredir e a isquemia de algum órgão se intensificar, a intervenção cirúrgica deve ser considerada. Em gestantes, recomenda-se monitorar a pressão arterial e, se necessário, utilizar bloqueadores de canal de cálcio ou metildopa.