Giulia de Souza Bianco, Wallace Mendes da Silva, Nina Feital Montezzi, Isabella Vilhena Cerviño, Bianca de Avila Lima
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Abstract
Introdução: A doença renal crônica (DRC) durante a gestação não é muito frequente, pois as alterações metabólicas da DRC podem afetar a função reprodutiva. A concepção no contexto da DRC aumenta a chance de progressão da doença, pré-eclâmpsia (PE), piora da hipertensão pré-gestacional, anemia, aumento do índice de cesariana e perda gestacional, além do risco de complicações fetais, tais como crescimento intrauterino restrito (CIUR), prematuridade e necessidade de internação em unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN). Relato de caso: Paciente de 37 anos, solteira, parda, G5P1 (natimorto) A3 (precoces), portadora de DRC desde os 18 anos, em hemodiálise, hipertensão arterial sistêmica crônica (HAC), cardiopatia reumática com estenose mitral leve/moderada, iniciou o pré-natal no 1° trimestre e estava em uso de metoprolol, diltiazem, hidralazina, clonidina, sulfato ferroso, eritropoietina, ácido fólico, AAS e enoxaparina. Internou com 13 semanas e 4 dias de gestação por descompensação da HAC e da anemia crônica, recebeu alta hospitalar após hemotransfusão e estabilização clínica. Reinternou com 18 semanas e 3 dias de gestação com sangramento vaginal intermitente e descontrole pressórico. Em avaliação ultrassonográfica, foi identificada imagem sugestiva de implantação marginal da placenta e a gestante foi liberada para acompanhamento ambulatorial após estabilização da pressão arterial e interrupção do sangramento. Reinternou pela terceira vez com 24 semanas de gestação por perda vaginal de líquido escuro, em grande quantidade, com o diagnóstico clínico de rotura prematura das membranas ovulares (RPMO), iniciou antibioticoterapia de latência, feito rastreio infeccioso, administração de betametasona para aceleração da maturidade fetal, além de orientação quanto à gravidade do quadro e risco de prematuridade. Permaneceu internada e, com 25 semanas e 5 dias de gestação, iniciou trabalho de parto espontâneo com evolução rápida para o período expulsivo, dando à luz nativivo do sexo feminino por via vaginal, pesando 595 g, Apgar 0/3/5. A recém-nascida foi acompanhada na UTIN devido à prematuridade e suas complicações, recebendo alta após 6 meses. A paciente não apresentou complicações no puerpério e recebeu alta para seguimento ambulatorial. Comentários: Trata-se de uma gestante com DRC terminal, história de quatro perdas gestacionais e que, na quinta gestação, foi acompanhada em um serviço especializado em alto risco inserido em um hospital geral com diversas especialidades médicas e equipe multidisciplinar. No contexto da gravidade do caso, a paciente conseguiu completar 25 semanas, dando à luz RN nativivo. O acompanhamento durante o pré-natal de casos de tal complexidade deve visar o controle clínico da doença de base, das comorbidades e dos fatores de risco para complicações (hipertensão arterial, anemia, proteinúria, cardiopatia, dislipidemia, diabetes), além do adequado monitoramento do bem-estar fetal, a fim de reduzir a morbimortalidade materno-infantil associada à DRC.