Imobilidade do acento em não verbos em português: uma abordagem diacrônica baseada no uso / Non-mobile stress in non-verbs in portuguese: a usage-based diachronic approach
{"title":"Imobilidade do acento em não verbos em português: uma abordagem diacrônica baseada no uso / Non-mobile stress in non-verbs in portuguese: a usage-based diachronic approach","authors":"Paulo Chagas de Souza","doi":"10.17851/2237-2083.31.1.103-145","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Resumo : À semelhança do que fez Cantoni (2013) para o sistema de acento do português como um todo, proponho neste trabalho uma explicação diacrônica para o fato de os verbos terem acento móvel e os não verbos terem acento fixo em português. Adoto uma perspectiva diacrônica, considerando, como proposto nas abordagens de sistemas dinâmicos, que o conhecimento do estado inicial de um sistema nos ajuda a entender seu estado atual. Nesse sentido, examino os paradigmas flexionais de substantivos latinos e as mudanças que ocorreram desde o latim até o português com o intuito de verificar em que medida essas mudanças morfológicas acabaram determinando características do sistema acentual do português. Em sua grande maioria, os substantivos apresentavam deslocamento do acento em seu paradigma em latim. Como é demonstrado neste trabalho, no entanto, o acusativo era o único caso em que praticamente não havia deslocamento de acento em latim do singular para o plural. O fato de o acusativo ter sido o caso lexicogênico do português, isto é, o caso cujas formas deram origem aos substantivos e adjetivos correspondentes do português, acabou tendo como resultado a imobilidade do acento nos não verbos. Ele era o caso de realização mais frequente e, como seria de se esperar numa perspectiva baseada no uso, foi o único caso que sobreviveu. A seção final do texto discute ainda o fato de que as mesmas mudanças diacrônicas fizeram com que as vogais temáticas nominais e adjetivais nunca sejam acentuadas em português. Palavras-Chave: acento; português; diacronia. Abstract : As did Cantoni (2013) for the Portuguese stress system as a whole, I propose in the present paper a diachronic explanation for a difference between verbs and non-verbs in Portuguese: the fact that verbs have mobile stress, whereas non-verbs do not. I adopt a diachronic perspective, considering, as proposed in dynamic systems approaches, that the knowledge of the initial state of a system helps us understand its current state. Based on that, I examine inflectional paradigms of Latin nouns and the changes that have taken place from Latin to Portuguese with the purpose of assessing to what extent those morphological changes have determined characteristics of the Portuguese stress system. The vast majority of nouns showed a stress shift in their paradigms in Latin. As is shown in the present paper, however, the accusative was the only case in which there was practically no change in stress between singular and plural. The fact that the accusative was the lexicogenic case in Portuguese, i.e., the fact that nouns and adjectives in Portuguese have their forms derived from the accusative of corresponding Latin words eventually produced fixed stress in Portuguese non-verbs. The accusative was the most frequent case in Latin and, as would be expected from a usage-based perspective, it was the only surviving case. The final section of the paper additionally discusses the fact that the same diachronic changes have kept noun and adjective theme vowels from ever being stressed in Portuguese. Keywords : stress; Portuguese; diachrony.","PeriodicalId":42188,"journal":{"name":"Revista de Estudos da Linguagem","volume":null,"pages":null},"PeriodicalIF":0.2000,"publicationDate":"2023-02-05","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista de Estudos da Linguagem","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.1.103-145","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"0","JCRName":"LANGUAGE & LINGUISTICS","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Resumo : À semelhança do que fez Cantoni (2013) para o sistema de acento do português como um todo, proponho neste trabalho uma explicação diacrônica para o fato de os verbos terem acento móvel e os não verbos terem acento fixo em português. Adoto uma perspectiva diacrônica, considerando, como proposto nas abordagens de sistemas dinâmicos, que o conhecimento do estado inicial de um sistema nos ajuda a entender seu estado atual. Nesse sentido, examino os paradigmas flexionais de substantivos latinos e as mudanças que ocorreram desde o latim até o português com o intuito de verificar em que medida essas mudanças morfológicas acabaram determinando características do sistema acentual do português. Em sua grande maioria, os substantivos apresentavam deslocamento do acento em seu paradigma em latim. Como é demonstrado neste trabalho, no entanto, o acusativo era o único caso em que praticamente não havia deslocamento de acento em latim do singular para o plural. O fato de o acusativo ter sido o caso lexicogênico do português, isto é, o caso cujas formas deram origem aos substantivos e adjetivos correspondentes do português, acabou tendo como resultado a imobilidade do acento nos não verbos. Ele era o caso de realização mais frequente e, como seria de se esperar numa perspectiva baseada no uso, foi o único caso que sobreviveu. A seção final do texto discute ainda o fato de que as mesmas mudanças diacrônicas fizeram com que as vogais temáticas nominais e adjetivais nunca sejam acentuadas em português. Palavras-Chave: acento; português; diacronia. Abstract : As did Cantoni (2013) for the Portuguese stress system as a whole, I propose in the present paper a diachronic explanation for a difference between verbs and non-verbs in Portuguese: the fact that verbs have mobile stress, whereas non-verbs do not. I adopt a diachronic perspective, considering, as proposed in dynamic systems approaches, that the knowledge of the initial state of a system helps us understand its current state. Based on that, I examine inflectional paradigms of Latin nouns and the changes that have taken place from Latin to Portuguese with the purpose of assessing to what extent those morphological changes have determined characteristics of the Portuguese stress system. The vast majority of nouns showed a stress shift in their paradigms in Latin. As is shown in the present paper, however, the accusative was the only case in which there was practically no change in stress between singular and plural. The fact that the accusative was the lexicogenic case in Portuguese, i.e., the fact that nouns and adjectives in Portuguese have their forms derived from the accusative of corresponding Latin words eventually produced fixed stress in Portuguese non-verbs. The accusative was the most frequent case in Latin and, as would be expected from a usage-based perspective, it was the only surviving case. The final section of the paper additionally discusses the fact that the same diachronic changes have kept noun and adjective theme vowels from ever being stressed in Portuguese. Keywords : stress; Portuguese; diachrony.