Partilha de risco (risk sharing) e o acesso a novos medicamentos oncológicos

M. Sales, Rodrigo Silveira Tosta Figueiredo, Jaqueline Vilela Bulgareli
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Na tentativa de enfrentar o desafio de garantir o acesso a esses novos medicamentos, novos instrumentos que dividem o financiamento do tratamento entre o sistema de saúde e fabricante vêm sendo experimentados e discutidos no mundo, tais como a partilha ou compartilhamento de risco (risk sharing). A Health Technology Assessement International – HTAi, conceitua a partilha de risco como “um acordo entre o produtor/fabricante e o pagador/prestador que permite o acesso (cobertura/coparticipação) a uma tecnologia em saúde mediante determinadas condições. Estes acordos poderão usar uma variedade de mecanismos para endereçar a incerteza sobre a performance de tecnologias ou para gerir a adoção de tecnologias de forma a maximizar o seu uso efetivo ou a limitar o seu impacto orçamental”. Este estudo teve como objetivo entender os acordos de risk sharing para medicamentos oncológicos de alto custo em Sistemas de Saúde públicos e privados no mundo. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura com a seguinte pergunta de pesquisa: “O que a literatura científica apresenta sobre acordos de compartilhamento de risco entre a indústria farmacêutica de medicamentos oncológicos e os sistemas de saúde?”. As bases de dados escolhidas foram PubMed, disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/ e Biblioteca Virtual em Saúde – BVS, disponível em http://red.bvsalud.org/, com filtro dos últimos dez anos. Os descritores utilizados para compor o polo contexto (sistemas públicos e privados de saúde no mundo), população (pacientes que fazem uso de medicamento oncológico de alto custo) e fenômeno (acordos de partilha de risco/risk sharing agreements) foram escolhidos no MESH e DECs. Os resultados da busca inicial foram de 863 artigos pelo BVS e 1.635 pelo Pubmed, totalizando 2.498 artigos, em busca realizada em fevereiro de 2022. Considerando os critérios de inclusão, exclusão e o objetivo da revisão, após a leitura do título foram excluídos 1756 artigos, permanecendo 718 artigos para análise. Após a leitura do resumo, mais 671 artigos foram excluídos, restando 47 artigos. Procedendo a leitura completa do texto, mais 36 artigos foram excluídos, restando 11 artigos que responderam à pergunta da revisão. Os artigos mostram-se consensuais em apontar o desafio do financiamento para os novos tratamentos para o câncer, cada vez mais onerosos, que raramente levam à cura, mas prolongam a sobrevida e tempo de uso dos medicamentos. Os acordos de compartilhamento de risco têm sido apontados como uma das soluções mais promissoras para enfrentar essa questão. Há relativa unanimidade entre os artigos na descrição das vantagens dos acordos de risk sharing, sendo elas a ampliação do acesso ao medicamento, teórica aceleração do processo de incorporação que beneficiariam diretamente os pacientes e prescritores. Em relação aos sistemas de saúde, esse tipo de acordo diminui o risco de o pagador arcar com o custo de um medicamento que não atinge os resultados prometidos. Para as indústrias farmacêuticas, esses acordos podem acelerar a comercialização do medicamento, mediante o cumprimento das premissas estabelecidas. Apesar dessa aparente panaceia, os artigos avaliados também apresentam inúmeras críticas, a começar pela dificuldade em estabelecer os desfechos clínicos adequados. Os fabricantes tendem a querer utilizar os desfechos comprovados pelos estudos de desenvolvimento do medicamento, que são realizados em ambientes controlados, em populações previamente selecionados e, os bons resultados obtidos podem não se repetir em sua totalidade na população real. Outro ponto discutido são os inúmeros desfechos existentes em oncologia, por exemplo, sobrevida global, tempo de progressão livre de doença, desfechos de qualidade de vida, toxicidade. Essa falta de uniformidade dos desfechos leva a dificuldade de padronização e definição do que seria realmente significativo para justificar alto custo de tratamento. Tem-se um desafio ético decidir se aumento de sobrevida global de dois meses é significativo, ou se um medicamento que não aumenta a sobrevida, mas aumenta a qualidade de vida nos meses restantes é significativo e pode ter um preço maior. Como colocar um preço em dias de vida? Outra crítica, é a grande necessidade logística de acompanhamento dos pacientes recebendo determinado medicamento. O modelo italiano apresentou solução interessante, colocando todos os pacientes que recebem medicamentos de alto custo para tratamento do câncer em um sistema on-line, onde oncologistas e farmacêuticos preenchem os dados de evolução daquele paciente. Porém, o investimento necessário para esse sistema foi enorme o que pode ser impeditivo para países mais pobres. Outro ponto unânime é que outras soluções de enfrentamento do desafio de sustentabilidade do sistema devem ser discutidas, bem como discussões sobre preços dos medicamentos devem continuar, na busca por redução ou desaceleração desse aumento de preços. Acordos de risk sharing podem ser uma solução de enfrentamento para os crescentes custos em saúde, principalmente relacionados aos novos medicamentos oncológicos. Apesar da possibilidade de redução dos preços nesse tipo de acordos firmados entre indústria e pagador, não há consenso de melhores modelos. Discussão sobre desfechos que cada medicamento promete, seu custo, melhor tratamento para cada paciente e possíveis modelos aplicáveis de acordos de compartilhamento de risco deve ser amplamente explorada por médicos, farmacêuticos, pagadores, indústrias farmacêuticas, associações de pacientes. A transparência na divulgação destes acordos deve ser estimulada para que diretrizes com sugestões de melhores modelos sejam criadas.","PeriodicalId":299004,"journal":{"name":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","volume":"45 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-11-04","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.14295/jmphc.v14.1232","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract

No mundo, são estimados 19,3 milhões de novos casos de câncer e quase 10 milhões de mortes em decorrência dessa doença em 2021. A partir de 2040, é esperado que a cada ano sejam 29,5 milhões de novos casos de câncer. O câncer é importante problema de saúde pública no mundo. A incidência e a mortalidade vêm crescendo em parte pelo envelhecimento da população, pelo crescimento populacional, além da mudança na distribuição e prevalência dos fatores de risco (sedentarismo, alimentação inadequada, entre outros). Novos medicamentos, especialmente para o tratamento do câncer, estão se tornando cada vez mais caros. Na tentativa de enfrentar o desafio de garantir o acesso a esses novos medicamentos, novos instrumentos que dividem o financiamento do tratamento entre o sistema de saúde e fabricante vêm sendo experimentados e discutidos no mundo, tais como a partilha ou compartilhamento de risco (risk sharing). A Health Technology Assessement International – HTAi, conceitua a partilha de risco como “um acordo entre o produtor/fabricante e o pagador/prestador que permite o acesso (cobertura/coparticipação) a uma tecnologia em saúde mediante determinadas condições. Estes acordos poderão usar uma variedade de mecanismos para endereçar a incerteza sobre a performance de tecnologias ou para gerir a adoção de tecnologias de forma a maximizar o seu uso efetivo ou a limitar o seu impacto orçamental”. Este estudo teve como objetivo entender os acordos de risk sharing para medicamentos oncológicos de alto custo em Sistemas de Saúde públicos e privados no mundo. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura com a seguinte pergunta de pesquisa: “O que a literatura científica apresenta sobre acordos de compartilhamento de risco entre a indústria farmacêutica de medicamentos oncológicos e os sistemas de saúde?”. As bases de dados escolhidas foram PubMed, disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/ e Biblioteca Virtual em Saúde – BVS, disponível em http://red.bvsalud.org/, com filtro dos últimos dez anos. Os descritores utilizados para compor o polo contexto (sistemas públicos e privados de saúde no mundo), população (pacientes que fazem uso de medicamento oncológico de alto custo) e fenômeno (acordos de partilha de risco/risk sharing agreements) foram escolhidos no MESH e DECs. Os resultados da busca inicial foram de 863 artigos pelo BVS e 1.635 pelo Pubmed, totalizando 2.498 artigos, em busca realizada em fevereiro de 2022. Considerando os critérios de inclusão, exclusão e o objetivo da revisão, após a leitura do título foram excluídos 1756 artigos, permanecendo 718 artigos para análise. Após a leitura do resumo, mais 671 artigos foram excluídos, restando 47 artigos. Procedendo a leitura completa do texto, mais 36 artigos foram excluídos, restando 11 artigos que responderam à pergunta da revisão. Os artigos mostram-se consensuais em apontar o desafio do financiamento para os novos tratamentos para o câncer, cada vez mais onerosos, que raramente levam à cura, mas prolongam a sobrevida e tempo de uso dos medicamentos. Os acordos de compartilhamento de risco têm sido apontados como uma das soluções mais promissoras para enfrentar essa questão. Há relativa unanimidade entre os artigos na descrição das vantagens dos acordos de risk sharing, sendo elas a ampliação do acesso ao medicamento, teórica aceleração do processo de incorporação que beneficiariam diretamente os pacientes e prescritores. Em relação aos sistemas de saúde, esse tipo de acordo diminui o risco de o pagador arcar com o custo de um medicamento que não atinge os resultados prometidos. Para as indústrias farmacêuticas, esses acordos podem acelerar a comercialização do medicamento, mediante o cumprimento das premissas estabelecidas. Apesar dessa aparente panaceia, os artigos avaliados também apresentam inúmeras críticas, a começar pela dificuldade em estabelecer os desfechos clínicos adequados. Os fabricantes tendem a querer utilizar os desfechos comprovados pelos estudos de desenvolvimento do medicamento, que são realizados em ambientes controlados, em populações previamente selecionados e, os bons resultados obtidos podem não se repetir em sua totalidade na população real. Outro ponto discutido são os inúmeros desfechos existentes em oncologia, por exemplo, sobrevida global, tempo de progressão livre de doença, desfechos de qualidade de vida, toxicidade. Essa falta de uniformidade dos desfechos leva a dificuldade de padronização e definição do que seria realmente significativo para justificar alto custo de tratamento. Tem-se um desafio ético decidir se aumento de sobrevida global de dois meses é significativo, ou se um medicamento que não aumenta a sobrevida, mas aumenta a qualidade de vida nos meses restantes é significativo e pode ter um preço maior. Como colocar um preço em dias de vida? Outra crítica, é a grande necessidade logística de acompanhamento dos pacientes recebendo determinado medicamento. O modelo italiano apresentou solução interessante, colocando todos os pacientes que recebem medicamentos de alto custo para tratamento do câncer em um sistema on-line, onde oncologistas e farmacêuticos preenchem os dados de evolução daquele paciente. Porém, o investimento necessário para esse sistema foi enorme o que pode ser impeditivo para países mais pobres. Outro ponto unânime é que outras soluções de enfrentamento do desafio de sustentabilidade do sistema devem ser discutidas, bem como discussões sobre preços dos medicamentos devem continuar, na busca por redução ou desaceleração desse aumento de preços. Acordos de risk sharing podem ser uma solução de enfrentamento para os crescentes custos em saúde, principalmente relacionados aos novos medicamentos oncológicos. Apesar da possibilidade de redução dos preços nesse tipo de acordos firmados entre indústria e pagador, não há consenso de melhores modelos. Discussão sobre desfechos que cada medicamento promete, seu custo, melhor tratamento para cada paciente e possíveis modelos aplicáveis de acordos de compartilhamento de risco deve ser amplamente explorada por médicos, farmacêuticos, pagadores, indústrias farmacêuticas, associações de pacientes. A transparência na divulgação destes acordos deve ser estimulada para que diretrizes com sugestões de melhores modelos sejam criadas.
风险分担和获得新的癌症药物
据估计,2021年全世界有1930万新的癌症病例和近1000万人死于这种疾病。从2040年开始,预计每年将有2950万新的癌症病例。癌症是世界上一个重要的公共卫生问题。发病率和死亡率一直在增长,部分原因是人口老龄化、人口增长以及危险因素(久坐的生活方式、营养不良等)分布和流行程度的变化。新药,尤其是治疗癌症的新药,正变得越来越贵。为了应对确保获得这些新药的挑战,世界各地正在试验和讨论在卫生系统和制造商之间分配治疗资金的新工具,如风险分担。国际卫生技术评估(HTAi)将风险分担定义为"生产者/制造商和付款人/供应商之间的一项协议,允许在某些条件下获得(覆盖/共同参与)卫生技术。这些协议可以使用各种机制来解决技术性能的不确定性,或管理技术的采用,以最大限度地有效利用或限制其预算影响。”本研究旨在了解全球公共和私人卫生系统中高成本肿瘤药物的风险分担协议。对以下研究问题进行了综合文献综述:“关于肿瘤药物制药行业和卫生系统之间的风险分担协议,科学文献提出了什么?”选择的数据库是PubMed,可在https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/和虚拟健康图书馆- vhl,可在http://red.bvsalud.org/,过滤过去十年。在MESH和DECs中选择了用于组成背景极(世界上的公共和私人卫生系统)、人口(使用高成本肿瘤药物的患者)和现象(风险分担协议)的描述符。在2022年2月进行的搜索中,BVS的初步搜索结果为863篇,Pubmed的初步搜索结果为1635篇,共计2498篇。考虑纳入标准、排除标准和综述目的,阅读标题后排除1756篇文章,其余718篇文章进行分析。阅读摘要后,又有671篇文章被排除在外,剩下47篇文章。在全文阅读过程中,有36篇文章被排除在外,剩下11篇文章回答了审查问题。这些文章一致指出了为新的癌症治疗提供资金的挑战,这些治疗越来越昂贵,很少能治愈,但却延长了生存率和药物使用时间。风险分担协议被认为是解决这一问题最有希望的解决方案之一。在描述风险分担协议的好处方面,文章之间有相对一致的意见,包括扩大药物获取,理论上加速合并过程,这将直接使患者和医生受益。对于卫生系统来说,这样的协议降低了支付方承担无法达到预期效果的药物成本的风险。对于制药公司来说,这些协议可以在满足既定前提的情况下加速药品的销售。尽管有这种明显的灵丹妙药,评估的文章也有许多批评,首先是难以建立适当的临床结果。制造商倾向于使用药物开发研究证实的结果,这些研究是在受控环境中进行的,在之前选定的人群中,获得的良好结果可能不会在真实人群中完全重复。讨论的另一点是肿瘤学中存在的许多结果,例如总生存期、无疾病进展时间、生活质量结果、毒性。这种结果缺乏一致性,导致标准化和定义什么是真正重要的,以证明高治疗成本。这是一个伦理上的挑战,决定两个月的总生存率增加是否显著,或者一种药物是否显著,但在剩下的几个月里提高了生活质量,并可能有更高的价格。如何为生命的日子定价?另一个批评是,对接受某种药物的患者进行监测的巨大后勤需求。
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
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