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Abstract
De um dia para outro, transportei-me do calor de 40 oC da cidade de, ironicamente, Queimados, para os -20oC da gelada São Petersburgo. A primeira visão da Rússia que tive da janela do avião: as simbólicas bétulas na neve. “Como eu vim parar aqui?” se repetia na minha cabeça o tempo todo. Parecia que o espírito fugaz do poema de Fiódor Tiútchev – Olhava eu, de pé sobre o Nievá2 – havia feito o caminho contrário de seus versos e me levado do quente Sul para o Norte feiticeiro e frio. Na antiga Leningrado, a neve derrete e recongela, formando verdadeiras armadilhas glaciais pelas calçadas. Depois de mais de dez tombos em menos de uma semana, comecei a entender a obsessão de alguns escritores russos, como Daniil Kharms, em escrever sobre pessoas que caem. Também comecei a entender melhor a fala de Svidrigáilov, de Crime e Castigo, sobre as influências estranhas e climáticas que abatem a alma em São Petersburgo, tornando-a uma cidade de semiloucos3. Em uma semana, sem o sol que de repente me pareceu tão saudoso, já me encontrava em profunda tristeza e estranhamento, falando sozinha e andando sem saber por onde. Quase como Raskólnikov, com a diferença que o sol ardia sobre a cabeça deste. Mas, como saudavam o Sonhador de Noites Brancas4, os prédios da