{"title":"Guerra pela eternidade: o retorno do Tradicionalismo e a ascensão da direita populista, de B.R. Teitelbaum","authors":"M. G. Paula","doi":"10.11606/issn.1517-0128.v42i1p70-75","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"O livro de Teitelbaum, agora traduzido em português e no Brasil, certamente merece elogios por chegar num momento tão apropriado. O autor – etnomusicólogo de formação, envolve-se aqui numa espécie de empreitada jornalística, com o objetivo de investigar mais detidamente no que se constitui o Tradicionalismo. Para tanto, faz entrevistas e pesquisas junto aos principais nomes de tal movimento, a saber, Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin. A obra divide-se em vinte e dois capítulos com farta narrativa investigativa. Contudo, mais do que meras entrevistas com estes autores, o intuito do pesquisador é perguntar-se, a partir dos dados que consegue colher nas entrevistas, em que consiste o Tradicionalismo, quais são os seus pontos principais e quais seriam os seus mentores intelectuais. Desse modo, o trabalho alcança, logo de início, nomes importantes do movimento, como o francês René Guénon (1886-1951) e o italiano Giulio Cesare Andrea Evola, conhecido por Julius Evola (1898-1974). Ambos, se assim podemos dizer, são inspiradores do Tradicionalismo e da atual direita populista mundial. Vale a pena atentar para a parábola do leste asiático que Teitelbaum escolhe para abrir o seu livro: “Um homem encontrou um tigre na floresta. Sem modo de escapar ou dominar o animal pela força, ele escolheu a terceira opção e pulou nas costas do tigre. O homem sabia que, se fosse cuidadoso e paciente, ele poderia montá-lo até que o tigre ficasse velho e fraco. Daí ele agarraria o seu pescoço e começaria a apertá-lo”. A parábola é cheia de significado. O Tradicionalismo parece ser exatamente este homem que, pacientemente, espera o desgaste e a derrocada de várias instituições para, então, dar o golpe final. Alguns pontos devem ser obrigatoriamente elencados quando falamos de Tradicionalismo. O primeiro deles é perceber que por Tradicionalismo podemos tomar algo que ocorre em oposição aquilo que é moderno e, portanto, posterior a movimentos como os da Revolução francesa e também a alguns aspectos do século XIX como, por exemplo, as ideias de progresso, racionalidade na história, imanência. Assim, logo no primeiro capítulo, quando fala dos chamados pilares da tradição, alerta-nos o autor: “Os Tradicionalistas aspiram a ser tudo o que a modernidade não é – comungar com o que eles acreditam serem verdades e estilos de vida transcendentes e atemporais, em vez de buscar o ‘progresso’”. Aqui, entra, talvez, o “eterno” presente no próprio título do livro, isto é, o Tradicionalismo comporta uma espécie de guerra pela eternidade, tal como nos sugere o autor da obra. Assim,","PeriodicalId":175674,"journal":{"name":"Cadernos de Ética e Filosofia Política","volume":"10 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-07-25","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"6","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Cadernos de Ética e Filosofia Política","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v42i1p70-75","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
O livro de Teitelbaum, agora traduzido em português e no Brasil, certamente merece elogios por chegar num momento tão apropriado. O autor – etnomusicólogo de formação, envolve-se aqui numa espécie de empreitada jornalística, com o objetivo de investigar mais detidamente no que se constitui o Tradicionalismo. Para tanto, faz entrevistas e pesquisas junto aos principais nomes de tal movimento, a saber, Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin. A obra divide-se em vinte e dois capítulos com farta narrativa investigativa. Contudo, mais do que meras entrevistas com estes autores, o intuito do pesquisador é perguntar-se, a partir dos dados que consegue colher nas entrevistas, em que consiste o Tradicionalismo, quais são os seus pontos principais e quais seriam os seus mentores intelectuais. Desse modo, o trabalho alcança, logo de início, nomes importantes do movimento, como o francês René Guénon (1886-1951) e o italiano Giulio Cesare Andrea Evola, conhecido por Julius Evola (1898-1974). Ambos, se assim podemos dizer, são inspiradores do Tradicionalismo e da atual direita populista mundial. Vale a pena atentar para a parábola do leste asiático que Teitelbaum escolhe para abrir o seu livro: “Um homem encontrou um tigre na floresta. Sem modo de escapar ou dominar o animal pela força, ele escolheu a terceira opção e pulou nas costas do tigre. O homem sabia que, se fosse cuidadoso e paciente, ele poderia montá-lo até que o tigre ficasse velho e fraco. Daí ele agarraria o seu pescoço e começaria a apertá-lo”. A parábola é cheia de significado. O Tradicionalismo parece ser exatamente este homem que, pacientemente, espera o desgaste e a derrocada de várias instituições para, então, dar o golpe final. Alguns pontos devem ser obrigatoriamente elencados quando falamos de Tradicionalismo. O primeiro deles é perceber que por Tradicionalismo podemos tomar algo que ocorre em oposição aquilo que é moderno e, portanto, posterior a movimentos como os da Revolução francesa e também a alguns aspectos do século XIX como, por exemplo, as ideias de progresso, racionalidade na história, imanência. Assim, logo no primeiro capítulo, quando fala dos chamados pilares da tradição, alerta-nos o autor: “Os Tradicionalistas aspiram a ser tudo o que a modernidade não é – comungar com o que eles acreditam serem verdades e estilos de vida transcendentes e atemporais, em vez de buscar o ‘progresso’”. Aqui, entra, talvez, o “eterno” presente no próprio título do livro, isto é, o Tradicionalismo comporta uma espécie de guerra pela eternidade, tal como nos sugere o autor da obra. Assim,