DOSSIÊ: A literatura infantil na educação em direitos humanos: fundamentos e ideologia

Clodoaldo Meneguello Cardoso
{"title":"DOSSIÊ: A literatura infantil na educação em direitos humanos: fundamentos e ideologia","authors":"Clodoaldo Meneguello Cardoso","doi":"10.5016/ridh.v9i1.34","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Já se vão 40 anos que Maria de Lourdes Chagas Nosella publicou, pela Editora Moraes (1981), sua dissertação de mestrado com o título: As belas mentiras: a ideologia subjacente aos textos didáticos. \nDando continuidade à tarefa, que Umberto Eco e Marisa Bonazzi realizaram em livros didáticos na Europa, com tradução aqui como: Mentiras que parecem verdades (Summus, 1980), Nosella trouxe essa crítica ideológica para a realidade brasileira. Com o avanço e fortalecimento das lutas de resistência à ditadura militar e a visão da escola como aparelho ideológico do Estado (Althusser), o livro As Belas Mentiras era leitura obrigatória para o movimento de crítica e reformulação dos livros didáticos no Brasil. \n Passou-se a discutir amplamente sobre os textos e ilustrações dos livros didáticos que transmitiam mensagens subliminares (algumas nem tanto) de autoritarismo, individualismo, preconceito, machismo, racismo e naturalização das desigualdades sociais. Assim, mais um movimento social de resistência anunciava novos tempos de liberdade na educação, com a alvorada da democracia que ressurgia tênue, mas insistente, no horizonte. \nOs estudos críticos à ideologia conservadora dos livros didáticos, na década de 1980, fizeram contraponto aos propósitos das disciplinas: Educação Moral e Cívica, Estudos de Problemas Brasileiros e Organização Social e Política Brasileira, introduzidas pelo governo militar para preencher o vazio deixado pela supressão das disciplinas de Sociologia e Filosofia. \n Dessa forma, com a retomada paulatina da democracia, fortaleceu-se a concepção de uma educação libertadora de todas as formas de opressão, fundamentada nos ensinamentos de Paulo Freire. A partir daí iniciou-se um novo ciclo de produção de livros didáticos e de literatura infantil, fazendo com que a criança e o adolescente vivenciassem também na escola aquilo que era sua vida no dia-a-dia da realidade brasileira. Surgiram histórias infantis não mais doutrinantes com a moral da história, mas sim estimuladoras – além da fantasia das narrativas e do prazer estético e lúdico da linguagem poética – de interrogações sobre as desigualdades sociais, os preconceitos, os problemas urbanos e o descaso com natureza. Tudo em nome da formação de uma cidadania crítica, participativa, autônoma e democrática.    \n  Avançou-se muito, todavia, quarenta anos depois, os valores conservadores ainda encontram eco em boa parte da sociedade brasileira, que neles vê um acolhimento psicológico pessoal e a solução mágica de problemas estruturais como a violência, o desemprego, a pobreza e a corrupção. E com a pandemia essa postura amplificou-se mais ainda. \nNeste contexto, chegam novamente às escolas projetos educacionais conservadores; entre eles retomam-se os clássicos da literatura infantil sem o devido tratamento crítico axiológico que todo material paradidático deve ter, principalmente enquanto produtos de outros tempos e espaços culturais. \n Numa visão conservadora, são privilegiadas as fábulas tradicionais, para alfabetização, que transmitem pela moral da história valores de “harmonia com a identidade social” e não de “convivência na diversidade”; de “mérito individual” e não de “conquista coletiva”; de “ordem hierárquica” e não de “relações democráticas”; “de respeito aos mais velhos” e não de “respeito ao outro”; de privilégios de reis e rainhas e não de “direitos de todos”; enfim “de perpetuação da subserviência ao adulto” e não de “construção da autonomia”. Isso sem falar de quão distantes ficam nossas crianças das narrativas brasileiras produzidas pelos indígenas, negros, camponeses,  quilombolas, ribeirinhos e favelados. \n Daí por que se vê hoje a necessidade de reafirmar a importância de um amplo debate sobre a literatura infantil e sobre formação crítica dos professores para uso dos textos clássicos e tradicionais nos primeiros anos da educação básica. Com este propósito, a RIDH oferece nesta edição um dossiê de artigos sobre A literatura infantil na educação em direitos humanos: fundamentos e ideologia. \nÉ na primeira infância que se constroem os alicerces das habilidades de raciocínio e da linguagem. E lá também que ocorre a gestação do desenvolvimento socioemocional, parte intrínseca e indispensável na formação da criança desde a primeira infância. Esse desenvolvimento pleno só é possível se a criança realizar as vivências coletivas que envolvam imaginação, sentimentos e valores em suas relações com o outro. Nesse campo, o recurso de contar e de ler histórias é um instrumento metodológico importante para formação de bases éticas nas relações intersubjetivas, além do desenvolvimento intelectual, linguístico e de sensibilidade estética. \n Em sua origem, a contação de histórias infantis nos remete às práticas de transmissão oral primitiva de acontecimentos e de ensinamentos. Esse forte caráter educacional moral está claramente presente nas histórias infantis clássicas medievais, povoadas de castelos, reis, princesas e bruxas. \nHoje a literatura infantil, na educação escolar, ainda é uma fonte importante na construção de valores que podem moldar a primeira visão de si, do outro e do mundo em que vive. Pensar a literatura infantil na educação em direitos humanos, não é reduzi-la a “moral da história”, mas analisar as bases axiológicas das relações de dominação e de reconhecimento do outro. \n Para isso o presente dossiê traz, com pesquisas e ensaios, reflexões sobre: - a pedagogia comprometida com a promoção da dignidade humana que vê na literatura infantil “material inestimável para a educação em direitos humanos”; - “a arte literária como fenômeno estético capaz de desenvolver o psiquismo infantil”; - “a fecundidade da literatura infantil para a garantia de um atendimento pleno dos direitos humanos envolvidos em situações de refúgio e migração”; “a reprodução histórica da dominação sobre o gênero feminino”, nas histórias tradicionais de bruxas; e também sobre a opressão de gênero na literatura infantil, com a “reprodução da ideologia da supremacia masculina na divisão sexual do trabalho”. \n Em resumo, há uma literatura infantil com função ideológica de domesticação do outro e há uma literatura infantil literatura infantil que proporciona uma educação em direitos humanos, ou seja, vivências e reflexões de respeito à criança como sujeito construtor de valores emancipatórios de liberdade, solidariedade e igualdade entre diferentes. \n  \nARTIGOS DIVERSOS \n  \n Nessa seção, a RIDH 16 traz 10 artigos de diferentes áreas, perpassando os direitos humanos como temática interdisciplinar e transversal. \nDe leituras da Filosofia temos: uma reflexão sobre a trajetória histórica do humanismo ético que deságua nos direitos humanos; e um estudo sobre as relações entre o Estado ditatorial e as violações dos direitos humanos na pandemia. \n Do Direito vem um convite para a reflexão sobre os fundamentos da educação em direitos humanos a partir das teorias universalistas, relativistas e confluentes; e uma investigação sobre “as possibilidades de acesso à justiça e promoção dos direitos humanos no Sistema Interamericano a partir da criação de uma Defensoria Pública Interamericana”. \n A Educação contribui com estudos que vão desde revisitações história da educação em direitos humanos no Brasil e na América Latina, passando por um estudo sobre “as estratégias internacionais de inclusão no sistema educativo em Moçambique”, até análises dos ODS da ONU e sua relação a educação em direitos humanos, e em especial com os direitos e empoderamento das mulheres, numa experiência local-global, na região Nordeste do Brasil. \n A edição finaliza com a área da Comunicação que apresenta um “estudo qualitativo das representações sociais de imigrantes venezuelanas na América do Sul no período de 2016 a 2019, a partir de manchetes de notícias divulgadas em jornais digitais brasileiros”. \n  \nBoa leitura! \n  \n*   *   * \n  \nOs posicionamentos, contidos nos artigos publicados, são de responsabilidade dos/as autores/as. \n  \n  \nJunho de 2021. \n  \nClodoaldo Meneguello Cardoso \nEditor da RIDH-Unesp","PeriodicalId":228504,"journal":{"name":"Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos","volume":"78 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-06-25","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5016/ridh.v9i1.34","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract

Já se vão 40 anos que Maria de Lourdes Chagas Nosella publicou, pela Editora Moraes (1981), sua dissertação de mestrado com o título: As belas mentiras: a ideologia subjacente aos textos didáticos. Dando continuidade à tarefa, que Umberto Eco e Marisa Bonazzi realizaram em livros didáticos na Europa, com tradução aqui como: Mentiras que parecem verdades (Summus, 1980), Nosella trouxe essa crítica ideológica para a realidade brasileira. Com o avanço e fortalecimento das lutas de resistência à ditadura militar e a visão da escola como aparelho ideológico do Estado (Althusser), o livro As Belas Mentiras era leitura obrigatória para o movimento de crítica e reformulação dos livros didáticos no Brasil. Passou-se a discutir amplamente sobre os textos e ilustrações dos livros didáticos que transmitiam mensagens subliminares (algumas nem tanto) de autoritarismo, individualismo, preconceito, machismo, racismo e naturalização das desigualdades sociais. Assim, mais um movimento social de resistência anunciava novos tempos de liberdade na educação, com a alvorada da democracia que ressurgia tênue, mas insistente, no horizonte. Os estudos críticos à ideologia conservadora dos livros didáticos, na década de 1980, fizeram contraponto aos propósitos das disciplinas: Educação Moral e Cívica, Estudos de Problemas Brasileiros e Organização Social e Política Brasileira, introduzidas pelo governo militar para preencher o vazio deixado pela supressão das disciplinas de Sociologia e Filosofia. Dessa forma, com a retomada paulatina da democracia, fortaleceu-se a concepção de uma educação libertadora de todas as formas de opressão, fundamentada nos ensinamentos de Paulo Freire. A partir daí iniciou-se um novo ciclo de produção de livros didáticos e de literatura infantil, fazendo com que a criança e o adolescente vivenciassem também na escola aquilo que era sua vida no dia-a-dia da realidade brasileira. Surgiram histórias infantis não mais doutrinantes com a moral da história, mas sim estimuladoras – além da fantasia das narrativas e do prazer estético e lúdico da linguagem poética – de interrogações sobre as desigualdades sociais, os preconceitos, os problemas urbanos e o descaso com natureza. Tudo em nome da formação de uma cidadania crítica, participativa, autônoma e democrática.      Avançou-se muito, todavia, quarenta anos depois, os valores conservadores ainda encontram eco em boa parte da sociedade brasileira, que neles vê um acolhimento psicológico pessoal e a solução mágica de problemas estruturais como a violência, o desemprego, a pobreza e a corrupção. E com a pandemia essa postura amplificou-se mais ainda. Neste contexto, chegam novamente às escolas projetos educacionais conservadores; entre eles retomam-se os clássicos da literatura infantil sem o devido tratamento crítico axiológico que todo material paradidático deve ter, principalmente enquanto produtos de outros tempos e espaços culturais. Numa visão conservadora, são privilegiadas as fábulas tradicionais, para alfabetização, que transmitem pela moral da história valores de “harmonia com a identidade social” e não de “convivência na diversidade”; de “mérito individual” e não de “conquista coletiva”; de “ordem hierárquica” e não de “relações democráticas”; “de respeito aos mais velhos” e não de “respeito ao outro”; de privilégios de reis e rainhas e não de “direitos de todos”; enfim “de perpetuação da subserviência ao adulto” e não de “construção da autonomia”. Isso sem falar de quão distantes ficam nossas crianças das narrativas brasileiras produzidas pelos indígenas, negros, camponeses,  quilombolas, ribeirinhos e favelados. Daí por que se vê hoje a necessidade de reafirmar a importância de um amplo debate sobre a literatura infantil e sobre formação crítica dos professores para uso dos textos clássicos e tradicionais nos primeiros anos da educação básica. Com este propósito, a RIDH oferece nesta edição um dossiê de artigos sobre A literatura infantil na educação em direitos humanos: fundamentos e ideologia. É na primeira infância que se constroem os alicerces das habilidades de raciocínio e da linguagem. E lá também que ocorre a gestação do desenvolvimento socioemocional, parte intrínseca e indispensável na formação da criança desde a primeira infância. Esse desenvolvimento pleno só é possível se a criança realizar as vivências coletivas que envolvam imaginação, sentimentos e valores em suas relações com o outro. Nesse campo, o recurso de contar e de ler histórias é um instrumento metodológico importante para formação de bases éticas nas relações intersubjetivas, além do desenvolvimento intelectual, linguístico e de sensibilidade estética. Em sua origem, a contação de histórias infantis nos remete às práticas de transmissão oral primitiva de acontecimentos e de ensinamentos. Esse forte caráter educacional moral está claramente presente nas histórias infantis clássicas medievais, povoadas de castelos, reis, princesas e bruxas. Hoje a literatura infantil, na educação escolar, ainda é uma fonte importante na construção de valores que podem moldar a primeira visão de si, do outro e do mundo em que vive. Pensar a literatura infantil na educação em direitos humanos, não é reduzi-la a “moral da história”, mas analisar as bases axiológicas das relações de dominação e de reconhecimento do outro. Para isso o presente dossiê traz, com pesquisas e ensaios, reflexões sobre: - a pedagogia comprometida com a promoção da dignidade humana que vê na literatura infantil “material inestimável para a educação em direitos humanos”; - “a arte literária como fenômeno estético capaz de desenvolver o psiquismo infantil”; - “a fecundidade da literatura infantil para a garantia de um atendimento pleno dos direitos humanos envolvidos em situações de refúgio e migração”; “a reprodução histórica da dominação sobre o gênero feminino”, nas histórias tradicionais de bruxas; e também sobre a opressão de gênero na literatura infantil, com a “reprodução da ideologia da supremacia masculina na divisão sexual do trabalho”. Em resumo, há uma literatura infantil com função ideológica de domesticação do outro e há uma literatura infantil literatura infantil que proporciona uma educação em direitos humanos, ou seja, vivências e reflexões de respeito à criança como sujeito construtor de valores emancipatórios de liberdade, solidariedade e igualdade entre diferentes.   ARTIGOS DIVERSOS   Nessa seção, a RIDH 16 traz 10 artigos de diferentes áreas, perpassando os direitos humanos como temática interdisciplinar e transversal. De leituras da Filosofia temos: uma reflexão sobre a trajetória histórica do humanismo ético que deságua nos direitos humanos; e um estudo sobre as relações entre o Estado ditatorial e as violações dos direitos humanos na pandemia. Do Direito vem um convite para a reflexão sobre os fundamentos da educação em direitos humanos a partir das teorias universalistas, relativistas e confluentes; e uma investigação sobre “as possibilidades de acesso à justiça e promoção dos direitos humanos no Sistema Interamericano a partir da criação de uma Defensoria Pública Interamericana”. A Educação contribui com estudos que vão desde revisitações história da educação em direitos humanos no Brasil e na América Latina, passando por um estudo sobre “as estratégias internacionais de inclusão no sistema educativo em Moçambique”, até análises dos ODS da ONU e sua relação a educação em direitos humanos, e em especial com os direitos e empoderamento das mulheres, numa experiência local-global, na região Nordeste do Brasil. A edição finaliza com a área da Comunicação que apresenta um “estudo qualitativo das representações sociais de imigrantes venezuelanas na América do Sul no período de 2016 a 2019, a partir de manchetes de notícias divulgadas em jornais digitais brasileiros”.   Boa leitura!   *   *   *   Os posicionamentos, contidos nos artigos publicados, são de responsabilidade dos/as autores/as.     Junho de 2021.   Clodoaldo Meneguello Cardoso Editor da RIDH-Unesp
人权教育中的儿童文学:基础与意识形态
40年前,玛丽亚·德·卢尔德·查加斯·诺塞拉(Maria de Lourdes Chagas Nosella)出版了她的硕士论文《美丽的谎言:教学文本背后的意识形态》(the beautiful lies: the ideology of the didastics),由莫拉埃斯出版社(Editora Moraes, 1981)出版。为了继续翁贝托·艾柯和玛丽莎·博纳齐在欧洲教科书中完成的任务,在这里翻译为:似乎是真理的谎言(Summus, 1980),诺塞拉将这种意识形态批判带入了巴西的现实。随着对军事独裁的抵抗斗争的推进和加强,以及学校作为国家意识形态机器的愿景(阿尔都塞),《美丽的谎言》这本书成为巴西教科书批评和改革运动的必读读物。人们开始广泛讨论教科书中的文本和插图,这些文本和插图传达了威权主义、个人主义、偏见、大男子主义、种族主义和社会不平等归化的潜意识信息(有些不那么强烈)。因此,另一场社会抵抗运动预示着教育自由的新时代,民主的曙光在地平线上微弱而持久地出现。20世纪80年代,对教科书中保守意识形态的批判性研究与这些学科的目的形成了对比:道德和公民教育、巴西问题研究以及巴西社会和政治组织,这些学科是由军政府引入的,以填补社会学和哲学学科被压制所留下的空白。因此,随着民主的逐渐恢复,以弗莱雷的教导为基础,从各种形式的压迫中解放教育的概念得到了加强。从那时起,教科书和儿童文学的生产开始了一个新的周期,使儿童和青少年也在学校体验他们在巴西现实中的日常生活。儿童故事的出现不再是对历史道德的灌输,而是激发了对社会不平等、偏见、城市问题和对自然的忽视的质疑——超越了叙事的幻想和诗意语言的审美和好玩的乐趣。所有这一切都是以形成批判性、参与性、自治和民主公民的名义进行的。然而,40年过去了,保守的价值观仍然在巴西社会的大部分地区得到了回应,他们认为保守的价值观是个人的心理接受,是解决暴力、失业、贫困和腐败等结构性问题的神奇方法。随着疫情的爆发,这种态度进一步扩大。在这种情况下,保守的教育项目再次进入学校;在这些作品中,儿童文学的经典作品被恢复,而没有像所有paradididal材料所应有的那样进行适当的价值论批判处理,特别是作为其他时代和文化空间的产物。在保守的观点中,传统的识字寓言是特权的,它们通过历史的道德传递“与社会身份和谐”的价值观,而不是“在多样性中共存”;“个人功绩”,而不是“集体成就”;“等级秩序”而不是“民主关系”;“尊重长辈”而不是“尊重他人”;国王和王后的特权,而不是“所有人的权利”;简而言之,“对成年人的永久从属”,而不是“自主的构建”。更不用说我们的孩子与土著、黑人、农民、歌伦波拉人、河边居民和贫民窟居民的巴西叙事有多远了。这就是为什么我们今天看到有必要重申就儿童文学和教师在基础教育早期使用经典和传统文本的批判性培训进行广泛辩论的重要性。为此目的,RIDH在这个版本中提供了一份关于儿童文学在人权教育中的文章档案:基础和意识形态。推理和语言技能的基础是在儿童早期建立起来的。社会情感发展的孕育也发生在那里,这是儿童早期形成的内在和不可缺少的部分。只有当孩子在与他人的关系中实现涉及想象力、情感和价值的集体体验时,这种全面的发展才有可能。在这一领域,除了智力、语言和审美敏感性的发展外,讲故事和阅读故事的资源是形成主体间关系伦理基础的重要方法论工具。在它的起源上,讲儿童故事让我们回到了事件和教导的原始口头传播实践。这种强烈的道德教育特征在中世纪的经典儿童故事中清晰地体现出来,这些故事中有城堡、国王、公主和女巫。 今天,在学校教育中,儿童文学仍然是构建价值观的重要来源,这些价值观可以塑造对自己、他人和他们生活的世界的第一个愿景。思考儿童文学在人权教育中的作用,不是要把它归结为“故事的道德”,而是要分析统治关系和对他人的承认的价值论基础。为此,本档案通过研究和文章,对以下方面进行了反思:致力于促进人的尊严的教育学,将儿童文学视为“人权教育的宝贵材料”;-“文学艺术是一种能够发展儿童心理的审美现象”;-“儿童文学的丰富性,以确保在难民和移徙情况下充分尊重人权”;传统女巫故事中的“女性统治的历史再生产”;以及儿童文学中的性别压迫,“在性别分工中男性至上意识形态的再生产”。简而言之,有一种儿童文学具有驯化他人的意识形态功能,也有一种儿童文学提供人权教育,即对儿童作为自由、团结和平等解放价值主体的建设者的尊重的经验和反思。在本节中,第16条提出了来自不同领域的10条条款,将人权作为一个跨学科和交叉的主题。通过对哲学的解读,我们有:对伦理人文主义流入人权的历史轨迹的反思;以及对流行病期间独裁国家与侵犯人权行为之间关系的研究。从法律的角度,从普遍主义、相对主义和融合主义理论出发,对人权教育的基础进行反思;以及一项关于“通过设立美洲公共辩护人办公室在美洲体系中获得司法公正和促进人权的可能性”的调查。教育贡献的研究从revisitações在人权教育的历史和拉丁美洲的巴西,通过研究“国际战略纳入教育系统在莫桑比克”,到联合国成员国关系的分析在人权,特别是教育和妇女的权利和权力,在本地经验-global巴西东北部地区。该版本以传播领域结束,该领域提出了“2016年至2019年委内瑞拉移民在南美的社会表现的定性研究,基于巴西数字报纸的新闻标题”。良好的阅读。* * *发表文章中的位置由作者负责。2021年6月。Clodoaldo Meneguello Cardoso RIDH-Unesp编辑
本文章由计算机程序翻译,如有差异,请以英文原文为准。
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