saúde pública brasileira em meio à forma política capitalista

Kleiton Wagner Alves da Silva Nogueira
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Diante dessa premissa, o presente trabalho tem por objetivo refletir a respeito dos limites do SUS, especialmente seu subfinanciamento crônico e desfinanciamento a partir do campo teórico da derivação do Estado. Trata-se de uma reflexão inicial que busca entender de que forma podemos pensar tais limites a partir de uma lente teórica genuína e que compreende o Estado de modo dinâmico e complexo a partir de sua interconexão com a sociabilidade capitalista. Nesse sentido, para o alcance de nosso objetivo, lançamos mão de um levantamento bibliográfico sobre o tema, mais precisamente a respeito da presença do debate sobre o Estado dentro da leitura marxista de modo a entendermos, a partir dessa lente, os limites para a compreensão dos gargalos existentes no SUS, com destaque para aqueles ligados à Economia Política da Saúde: o seu subfinanciamento crônico e desfinanciamento. A esse modo, ao contrapormos as diferentes leituras com o debate derivacionista do Estado, entendemos que este busca superar uma visão reducionista do Estado como um instrumento das classes dominantes a partir dos escritos de Marx e Engels, promovendo um nexo entre as categorias econômicas abordadas por esses autores, e a função estrutural/estruturante do Estado para o modo de produção capitalista. Ao levar em consideração uma construção epistemológica que procura superar o Estado como simples superestrutura do campo econômico, ou como vulgarmente se coloca como um reflexo mecânico da Economia sob dominância das classes dominantes, esse debate também procura dialogar com as proposições de autores como Nicos Poulantzas e Ralph Miliband, que ficaram conhecidos na década de 1970 pelas investigações acerca de uma teoria marxista e política do Estado, bem como, com o debate sobre a autonomia relativa do Estado frente às frações de classe que compõem o bloco no poder num determinado período histórico e em determinada formação econômico-social. Desse modo, os autores localizados no debate da derivação compreendem que a sociabilidade capitalista e as formas sociais são derivadas a partir da forma mercadoria, categoria explicada por Marx em “O capital”. Em que pese o fato de que, dentro do próprio debate existam considerações heterogêneas a respeito das especificidades nas análises, a exemplo de autores como: Wolfgang Müller, Christel Neusüß, Elmar Altvater, Joachim Hirsch, Bernhard Blanke, Ulrich Jürgens, Freerk Huisken, Margareth Wirth, Claudia Von Braunmühl, Heide Gerstenberger etc., e as primeiras sistematizações do debate realizadas fora da Alemanha, especialmente no Reino Unido por intelectuais como John Holloway, Sol Picciotto, Bob Jessop, Werner Bonefeld e Simon Clarke e no Brasil com a exposição realizada pelos trabalhos de Alysson Mascaro, Márcio Bilharinho Naves e Camilo Caldas, entendemos que uma das principais características desse debate seria a designação da forma política estatal derivada das relações sociais capitalistas. A forma política social, que pode ser distinta a partir da forma como o capitalismo foi se conformando em cada formação social, se constrói mediante as contradições das próprias relações sociais de exploração vinculadas à acumulação de capital. Ao trazermos essa conotação para o estudo do SUS e de seus gargalos, a exemplo do sub/desfinanciamento, é preciso localizar essa política dentro de um limite inerente ao Estado brasileiro, que numa formação social dependente, não conseguiu desde 1988, prover centralidade da saúde para além da forma mercadoria, abrindo espaço para a acumulação capitalista mediante o setor privado, além da própria ausência de posições concretas acerca das fontes de financiamento do SUS. Esse debate também se enquadra na delimitação resultante da atuação política entre o movimento sanitário brasileiro e a necessidade de colocar a saúde num campo estratégico que supere o dilema reformista, uma vez que a forma política do Estado brasileiro, blindado às necessidades das classe trabalhadoras e grupos subalternos relega ao SUS um espaço cada vez mais periférico mediante a contradição inerente à valorização do valor, a exemplo do Programa Previne Brasil na Atenção Básica à Saúde, e pela gestão da crise sanitária de Covid-19 realizada pelo Governo Bolsonaro. A partir da leitura crítica e reflexão acerca dos principais pontos de destaque nesse debate, observamos a necessidade de aprofundarmos as leituras em tornos de questões como: a) investigar a contradição entre implantar uma política como o SUS em meio à ausência de um debate sobre a economia política da saúde que leve a reboque a forma política do Estado brasileiro; b) alçar o debate da saúde pública de modo a entendê-la para além do campo institucional, como um elemento estratégico para o avanço de mudanças estruturais que superem a forma mercadoria com que a saúde tem sido tratada; c) retomar o debate da reforma sanitária brasileira, de modo crítico, na tentativa de buscar embasamento teórico a partir de uma experiência concreta e avançar em direcionamentos que conjuguem a reflexão sobre reforma-revolução, entendendo a saúde como um elemento integralizado num marco total por relações sociais de produção derivadas, no capitalismo, de sua forma mercadoria e da valorização do valor.","PeriodicalId":299004,"journal":{"name":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","volume":"9 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-08-25","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"JMPHC | Journal of Management & Primary Health Care | ISSN 2179-6750","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.14295/jmphc.v14.1199","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract

A questão da saúde pública no Brasil, e especificamente do Sistema Único de Saúde - SUS, só pode ser compreendida dentro dos marcos da formação econômico-social brasileira e pela identificação das particularidades do Estado. Em meio à essa perspectiva, entender os limites da formatação dessa política de saúde, para além das concepções reducionistas da gestão, que não deixam de ser importantes, mas que limitam o debate ao aspecto institucionalista, se faz importante para que se possa avançar em proposições que considerem os limites concretos da plena materialização do SUS, indo à raiz das questões de modo a problematizá-las. Diante dessa premissa, o presente trabalho tem por objetivo refletir a respeito dos limites do SUS, especialmente seu subfinanciamento crônico e desfinanciamento a partir do campo teórico da derivação do Estado. Trata-se de uma reflexão inicial que busca entender de que forma podemos pensar tais limites a partir de uma lente teórica genuína e que compreende o Estado de modo dinâmico e complexo a partir de sua interconexão com a sociabilidade capitalista. Nesse sentido, para o alcance de nosso objetivo, lançamos mão de um levantamento bibliográfico sobre o tema, mais precisamente a respeito da presença do debate sobre o Estado dentro da leitura marxista de modo a entendermos, a partir dessa lente, os limites para a compreensão dos gargalos existentes no SUS, com destaque para aqueles ligados à Economia Política da Saúde: o seu subfinanciamento crônico e desfinanciamento. A esse modo, ao contrapormos as diferentes leituras com o debate derivacionista do Estado, entendemos que este busca superar uma visão reducionista do Estado como um instrumento das classes dominantes a partir dos escritos de Marx e Engels, promovendo um nexo entre as categorias econômicas abordadas por esses autores, e a função estrutural/estruturante do Estado para o modo de produção capitalista. Ao levar em consideração uma construção epistemológica que procura superar o Estado como simples superestrutura do campo econômico, ou como vulgarmente se coloca como um reflexo mecânico da Economia sob dominância das classes dominantes, esse debate também procura dialogar com as proposições de autores como Nicos Poulantzas e Ralph Miliband, que ficaram conhecidos na década de 1970 pelas investigações acerca de uma teoria marxista e política do Estado, bem como, com o debate sobre a autonomia relativa do Estado frente às frações de classe que compõem o bloco no poder num determinado período histórico e em determinada formação econômico-social. Desse modo, os autores localizados no debate da derivação compreendem que a sociabilidade capitalista e as formas sociais são derivadas a partir da forma mercadoria, categoria explicada por Marx em “O capital”. Em que pese o fato de que, dentro do próprio debate existam considerações heterogêneas a respeito das especificidades nas análises, a exemplo de autores como: Wolfgang Müller, Christel Neusüß, Elmar Altvater, Joachim Hirsch, Bernhard Blanke, Ulrich Jürgens, Freerk Huisken, Margareth Wirth, Claudia Von Braunmühl, Heide Gerstenberger etc., e as primeiras sistematizações do debate realizadas fora da Alemanha, especialmente no Reino Unido por intelectuais como John Holloway, Sol Picciotto, Bob Jessop, Werner Bonefeld e Simon Clarke e no Brasil com a exposição realizada pelos trabalhos de Alysson Mascaro, Márcio Bilharinho Naves e Camilo Caldas, entendemos que uma das principais características desse debate seria a designação da forma política estatal derivada das relações sociais capitalistas. A forma política social, que pode ser distinta a partir da forma como o capitalismo foi se conformando em cada formação social, se constrói mediante as contradições das próprias relações sociais de exploração vinculadas à acumulação de capital. Ao trazermos essa conotação para o estudo do SUS e de seus gargalos, a exemplo do sub/desfinanciamento, é preciso localizar essa política dentro de um limite inerente ao Estado brasileiro, que numa formação social dependente, não conseguiu desde 1988, prover centralidade da saúde para além da forma mercadoria, abrindo espaço para a acumulação capitalista mediante o setor privado, além da própria ausência de posições concretas acerca das fontes de financiamento do SUS. Esse debate também se enquadra na delimitação resultante da atuação política entre o movimento sanitário brasileiro e a necessidade de colocar a saúde num campo estratégico que supere o dilema reformista, uma vez que a forma política do Estado brasileiro, blindado às necessidades das classe trabalhadoras e grupos subalternos relega ao SUS um espaço cada vez mais periférico mediante a contradição inerente à valorização do valor, a exemplo do Programa Previne Brasil na Atenção Básica à Saúde, e pela gestão da crise sanitária de Covid-19 realizada pelo Governo Bolsonaro. A partir da leitura crítica e reflexão acerca dos principais pontos de destaque nesse debate, observamos a necessidade de aprofundarmos as leituras em tornos de questões como: a) investigar a contradição entre implantar uma política como o SUS em meio à ausência de um debate sobre a economia política da saúde que leve a reboque a forma política do Estado brasileiro; b) alçar o debate da saúde pública de modo a entendê-la para além do campo institucional, como um elemento estratégico para o avanço de mudanças estruturais que superem a forma mercadoria com que a saúde tem sido tratada; c) retomar o debate da reforma sanitária brasileira, de modo crítico, na tentativa de buscar embasamento teórico a partir de uma experiência concreta e avançar em direcionamentos que conjuguem a reflexão sobre reforma-revolução, entendendo a saúde como um elemento integralizado num marco total por relações sociais de produção derivadas, no capitalismo, de sua forma mercadoria e da valorização do valor.
资本主义政治形式下的巴西公共卫生
巴西的公共卫生问题,特别是统一卫生系统(SUS),只能在巴西经济和社会形成的框架内理解,并通过确定国家的特殊性。在这个角度,理解极限的格式卫生政策的概念,简化管理,不再是重要的,但限制国际关系方面的辩论,能让我们在重要的命题可以充分体现的特殊限制,去根的问题所以problematizá她们。在此前提下,本研究旨在从国家推导的理论领域反思单一卫生系统的局限性,特别是其长期资金不足和资金不足。这是一个初步的反思,试图理解我们如何从一个真正的理论视角来思考这些限制,并从它与资本主义社交的相互联系来理解动态和复杂的状态。从这个意义上说,它为我们的目标,我们的文献调查的主题,更准确的的争论一直在阅读马克思主义的了解,从这个角度,理解中存在的性能瓶颈的限制在可疑行为,尤其是那些与政治经济学:资金短缺的慢性健康和desfinanciamento。contrapormos的这种方式,不同的读数和derivacionista辩论的状态,我们认为这个搜索超越还原论的国家作为一个统治阶级的工具,从马克思、恩格斯的著作,引发经济分类之间的联系接洽这些作者和结构功能/结构对资本主义生产方式的情况。寻找克服的认识论在考虑建筑经济领域的简单的国家作为上层建筑,机械或者像人们通常是反映经济被统治阶级的统治地位,这场争论也找作者和命题谈判Nicos Poulantzas和拉尔夫·米利班德,在1970年代中期调查是关于马克思主义理论和国家政策,在特定的历史时期和特定的经济和社会形态中,关于国家相对自治的争论,面对构成权力集团的阶级部分。因此,处于衍生争论中的作者们明白,资本主义的社交性和社会形式是从马克思在《资本论》中解释的商品形式范畴中衍生出来的。尽管事实是,在辩论本身,对分析的特殊性有不同的考虑,例如作者,如:沃尔夫冈•穆勒- Neusüß,艾玛•Altvater勒夫赫希,伯恩哈德的,乌尔里希看,Freerk Huisken,玛格丽特。沃思,克劳迪娅·冯·Braunmühl海德盖斯坦伯格等等,和争论的第一sistematizações等同于德国以外地区,尤其是在英国就象约翰和太阳皮乔托,鲍勃•瑟普维尔纳Bonefeld和西蒙•克拉克和巴西的展览工作的阿廖沙万圣节,马斯Bilharinho船只和卡米洛农药,我们认为,这场辩论的主要特征之一将是对源自资本主义社会关系的国家政治形式的指定。社会政治形式可能不同于资本主义在每个社会形态中的形成方式,它是通过与资本积累相联系的社会剥削关系本身的矛盾而建立起来的。挖出来,研究的内涵和其性能瓶颈的例子/ desfinanciamento需要追踪这一政策在巴西的一个固有的限制,在社会形成依赖,他自1988年以来,获得的健康中心的货,打开空间的积累,资本主义通过私营部门缺乏详细位置,除了自己学校的资金来源。由此产生的争论,也适合在类似巴西健康运动之间的政治行动,把田野里的健康战略的需求所作的困境的政策的改革,一次在装甲,工人阶级和集团下属的需求很多的SUS外围空间越来越本身存在的价值,对于巴西项目关注的例子基本健康,以及博尔索纳罗政府对Covid-19卫生危机的管理。 从批判性阅读和思考主要突出了在点,我们再需要深化在车床的读数之间的矛盾等问题:调查建立的SUS半缺乏政策的辩论关于政治经济学的健康带拖车的巴西政府政策;b)提高关于公共卫生的辩论,以便将其理解为超越体制领域的一项战略因素,以推进结构改革,克服处理卫生的商品形式;(c)继续辩论巴西卫生改革的关键,在寻求理论支持从一个实际经验和在direcionamentos结合改革的反思——当时,健康作为一种integralizado全部社会关系的一个里程碑,源,资本主义生产方式的商品和的值。
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