{"title":"Reinventando o antigo: John Ruskin e o ornamento assírio","authors":"Alice de Oliveira Viana, Marina Bianchi Guaragni","doi":"10.20396/eha.vi14.3369","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"John Ruskin, um dos maiores críticos de arte da era vitoriana, é autor de vasta obra literária que, além de ilustrar seu pensamento sobre teoria da arte, ao fazê-lo, delineia ao mesmo tempo seu posicionamento sobre a história, sobre o passado da arte. Em muitos de seus escritos, nota-se claramente um uso do passado como estratégia discursiva para legitimar seu pensamento teórico sobre as artes. Isto é notadamente percebido quando se observa sua teorização sobre o ornamento, um dos principais temas de suas reflexões. A mobilização teórica do autor em torno da questão do ornato envolve uma preocupação central à época vitoriana, a da qualidade expressiva da arquitetura e dos artefatos, que Ruskin aborda a partir das relações entre arte e trabalho, centrais em todo seu pensamento. Em The Stones of Venice, particularmente nos capítulos The material of ornament e The treatment of ornament, ambos do primeiro volume, é onde o tema do ornamento é tratado diretamente. No primeiro, abordam-se quais seriam os assuntos mais nobres para servirem como ornamentação e, no segundo, o modo mais adequado de tratar e apresentar tais assuntos. Subjacente a isso, observase, de um modo geral, nestes dois capítulos, um empenho do autor em circunscrever o domínio do ornamento, em distinção às outras artes, sobretudo à escultura – diferenciação também encontrada no discurso de outros críticos e teóricos da época e que se fazia necessária, tendo em vista os abusos da ornamentação vitoriana, que parecia não se fundamentar em quaisquer princípios. Segundo Ruskin, o ornamento, além de embelezar, deve ser adequado ao local para o qual foi feito. Assim ele diz: “a condição especial do verdadeiro ornamento é que seja bonito em seu lugar e mais em lugar algum, e que auxilie o efeito de cada porção do edifício sobre o qual ele tem influência; que, por sua riqueza, ele não torne outras partes calvas, ou, por sua delicadeza, outras partes grosseiras [...]”3. Nestes termos, nota-se que a condição do ornamento é uma condição de subordinação, a qual encontra um contraponto na maior autonomia da escultura, à qual o primeiro","PeriodicalId":305074,"journal":{"name":"Atas do 14º...","volume":"18 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2019-12-30","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Atas do 14º...","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.20396/eha.vi14.3369","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
John Ruskin, um dos maiores críticos de arte da era vitoriana, é autor de vasta obra literária que, além de ilustrar seu pensamento sobre teoria da arte, ao fazê-lo, delineia ao mesmo tempo seu posicionamento sobre a história, sobre o passado da arte. Em muitos de seus escritos, nota-se claramente um uso do passado como estratégia discursiva para legitimar seu pensamento teórico sobre as artes. Isto é notadamente percebido quando se observa sua teorização sobre o ornamento, um dos principais temas de suas reflexões. A mobilização teórica do autor em torno da questão do ornato envolve uma preocupação central à época vitoriana, a da qualidade expressiva da arquitetura e dos artefatos, que Ruskin aborda a partir das relações entre arte e trabalho, centrais em todo seu pensamento. Em The Stones of Venice, particularmente nos capítulos The material of ornament e The treatment of ornament, ambos do primeiro volume, é onde o tema do ornamento é tratado diretamente. No primeiro, abordam-se quais seriam os assuntos mais nobres para servirem como ornamentação e, no segundo, o modo mais adequado de tratar e apresentar tais assuntos. Subjacente a isso, observase, de um modo geral, nestes dois capítulos, um empenho do autor em circunscrever o domínio do ornamento, em distinção às outras artes, sobretudo à escultura – diferenciação também encontrada no discurso de outros críticos e teóricos da época e que se fazia necessária, tendo em vista os abusos da ornamentação vitoriana, que parecia não se fundamentar em quaisquer princípios. Segundo Ruskin, o ornamento, além de embelezar, deve ser adequado ao local para o qual foi feito. Assim ele diz: “a condição especial do verdadeiro ornamento é que seja bonito em seu lugar e mais em lugar algum, e que auxilie o efeito de cada porção do edifício sobre o qual ele tem influência; que, por sua riqueza, ele não torne outras partes calvas, ou, por sua delicadeza, outras partes grosseiras [...]”3. Nestes termos, nota-se que a condição do ornamento é uma condição de subordinação, a qual encontra um contraponto na maior autonomia da escultura, à qual o primeiro