{"title":"A exigência de direitos humanos em tempos-limite","authors":"Clodoaldo Meneguello Cardoso","doi":"10.5016/ridh.v9i2.93","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Há uma sensação no ar de que vivemos tempos-limite. \n A educação liberal, mesmo a de alto padrão científico e tecnológico, não eliminou a exclusão e a barbárie social, pelo contrário, alimentou-a. A voracidade insaciável da economia-política neoliberal corroeu a própria democracia social e mantém-nos presos à ciência moderna baconiana que vê a natureza como fonte de exploração a qualquer custo. Daí, a amplificação dos problemas sociais estruturais – o racismo, o patriarcalismo a pobreza, a fome, a violência – vem apontando, tempos-limite com a crise global sanitária, climática e hídrica. \n Nesse quadro, impossível não lembrar Eric Hobsbawm em Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991, lançado em 1994. Lá, o historiador britânico não só sintetizou as catástrofes e crises daquele período, como já visualizava, no final do século, uma porta aberta para um futuro incerto. O futuro continua incerto; porém, hoje temos uma consciência maior das causas históricas dos grandes problemas socioambientais e indícios mais claros que, no tempo presente, vivemos uma crise paradigmática do modelo de civilização estruturado na modernidade ocidental do norte-global e hoje mundialmente hegemônico.\n Aceitar a existência de crise paradigmática hoje é reconhecer a interdependência e a complexidade dos grandes problemas sociais, econômicos, políticos e culturais que ameaçam a humanidade. São de tal magnitude que não se pode resolvê-los separadamente e nem enfrentá-los com modelos culturais e tecnológicos da modernidade que criamos, pois são eles as causas desses grandes problemas.\n Mas nem todos pensam assim. Para os ‘obrigatoriamente’ otimistas, encastelados no poder econômico, supera-se a crise da modernidade com mais modernidade. Ou seja, a modernidade pode resolver os problemas gerados por ela, com mais ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico. É preciso apenas um ajuste de rumo civilizatório. Se não puder salvar todos, salvam-se os que tiverem mérito para isso, mas tenta-se evitar o caos do ‘salve-se-quem-puder’.\n Há também os ‘profetas do passado’ que veem a solução da crise da civilização moderna, na negação da própria modernidade em nome de valores pré-modernos sejam epistemológicos, sejam morais. Eles tentam manter, a todo custo, seu status quo, defendendo estruturas sociais já ultrapassadas pela modernidade. Foi assim, por exemplo, a ação do Santo Ofício que, em pleno Renascimento, impunha a visão teocêntrica a ferro-e-fogo, para manter o poder medieval da Igreja, abalado pelos novos tempos.\n A história não para e, muito menos, volta ao passado; mesmo que a curto e médio prazo isso pareça possível. O tempo de crise paradigmática em que vivemos é para ser respeitado e refletido profundamente. É tempo de grandes aprendizagens, pois as mudanças históricas de paradigmas civilizatórios são muito abrangentes do que as ‘revoluções’ que ocorrem dentro de um mesmo paradigma, como apontou Thomas Kuhn em A estrutura das revoluções científicas (1962). Assim foram as transformações científicas no interior da modernidade, com Newton, Darwin e Freud.\n Enfim, nesses tempos-limite, há ainda aqueles ‘realisticamente esperançosos’. Para eles – que acreditamos e lutamos por um outro mundo possível – os desafios são enormes, pois nestes tempos perdem-se muitos referenciais. Não temos mais o GPS do curso da história como tinham Marx e Comte, no século XIX. O século XX abalou todas nossas belas certezas modernas. Sabemos hoje muito mais do que não podemos continuar valorizando, do que do perfil da sociedade que precisamos construir. \n A transição entre o paradigma medieval e o paradigma moderno demorou pelo menos trezentos anos. Todavia, talvez agora não tenhamos mais tanto o tempo como os modernos tiveram para construir um novo olhar sobre o universo, a natureza e a sociedade em nome de uma nova retórica de poder. Trata-se agora de sobrevivência urgente da humanidade. É isso que crise sanitária, climática e hídrica está gritando em nossos surdos ouvidos. \n Essa é a luz que brilha no final do túnel de transição paradigmática: a vida e vida digna para todos sem exceção. E mais, a crise do paradigma da modernidade também nos mostra que a vida humana é parte ínfima e profundamente dependente da vida planetária. E depois que ela tiver passado, nada terá acontecido, já disse Nietzsche lá no século XIX. \n Viver em tempo de transição paradigmática, acreditando na luta por uma outra sociedade, exige colocar, como primeiro valor, o direito humano à vida e essa, em equilíbrio com a vida planetária. A partir dessa certeza pode-se reconfigurar os valores da educação em direitos humanos. Assim, educar as novas gerações, cuja responsabilidade é construir a ponte para uma nova sociedade, exige cultivar certos valores, hoje fundamentais.\n Um deles é a postura diante daquilo que chamamos de ‘verdade’. Aceitar a verdade científica moderna não mais como absoluta, não é negá-la ou falseá-la, mas colocá-la em diálogo com outros saberes para ampliar percepção da diversidade e complexidade da realidade socioambiental. Educar hoje exige a humildade da escuta e do aprender juntos na vivência e na reflexão, em lugar do discurso prepotente de quem crê ter a verdade única e absoluta, seja ela científica, política, ou religiosa. Estar aberto às novas possibilidades e aos novos olhares e nossa atual condição humana.\n Há outras exigências nesses tempos-limite como: – ressignificar os conceitos de desenvolvimento, de consumo do necessário e do bem viver para todos, que na modernidade visavam especialmente o lucro, o supérfluo e o individualismo; – estimular a cidadania autônoma, ativa, crítica e coletiva; – desenvolver a sensibilidade e a empatia para a convivência nas diferenças sem os padrões culturais cristalizados; e – cultivar a indignação e a luta individual e coletiva contra as desigualdades sociais e todo tipo de opressão e autoritarismo.\n Numa palavra, a moralidade humana tem como princípio ético a inclusão e não a seleção natural, que na modernidade ideologicamente chama-se de meritocracia. No novo paradigma a humanidade será para todos ou não será humanidade. \n \n* * *\n \nTrilhando esse caminho a Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos apresenta nesta edição o dossiê Educação em direitos humanos: resistência e transformação. Na seção de ‘artigos diversos’, mantemos o foco editorial de ‘interdisciplinaridade’, trazendo contribuições para pensar os direitos humanos como tema transversal em diferentes áreas do conhecimento acadêmico. \n Filosofia. O texto de Ana Santana e Antônio Basílio traz “as reflexões político-filosóficas de Hannah Arendt, volvendo o olhar para a sua teia conceitual sobre a educação e os direitos humanos, a fim de detectar os fios constituintes, capazes de fundamentar os pilares universais”.\nDireito. No ensaio A escravidão contemporânea no Brasil e a perda da propriedade privada, Pedro Greco e Ricardo Resende debruçam-se “sobre uma discussão do papel da legislação na erradicação da escravidão contemporânea”. O estudo nos mostra o “efeito emancipatório dos direitos hu¬manos na luta antiescravista com o objetivo de melhor vislumbrarmos alguns dos motivos pelo qual pouco prospera a pauta que prevê a perda da pro¬priedade privada em casos de escravidão contemporânea no Brasil”.\n Educação. André Luiz, em Educação em direitos humanos: uma pauta premente na docência e na gestão escolar, relata e analisa uma experiência de formação continuada de docentes e coordenadores pedagógicos, suscitando “novos saberes na prática educativa em direitos humanos”.\n Educomunicação. Educação em direitos humanos e letramento digital e o artigo de Mara Juliane e Matheus. Nele os autores apresentam as ações e análise dos resultados de uma proposta pedagógica desenvolvida “com discentes das três turmas de primeiros anos do ensino técnico integrado ao ensino médio”.\n Comunicação: Nesta área temos duas contribuições. Na primeira, as autoras Fabiana de Melo e Maria Dalvi retomam a polêmica ocorrida nas redes sociais, em 2017, “atinente ao recolhimento, pelo Ministério da Educação do Brasil, em 2017, do livro Enquanto o sono não vem”. No artigo Polêmicas nas redes sociais, censura literária e silenciamentos sobre abuso sexual: um debate sobre direitos das crianças, “[...] a análise centra-se na questão dos direitos da infância, à luz do tensiona¬mento sobre a responsabilidade do Estado e da educação pública”. \n Na segunda contribuição, João da Cruz apresenta um ensaio criativo e crítico para demonstrar, com detalhes, A pedagogia conservadora do cinema de animação. O filme Os Incríveis (Pixar, 2004) é o objeto do estudo.\n Engenharia. Com A inserção dos direitos humanos nos cursos de engenharia, os autores Marcos Silvério, Gustavo dos Santos e Márcia de Oliveira fecham esta edição da RIDH, comentando, com dados quantitativos, uma experiência positiva de educação em direitos humanos pelas disciplinas ‘Tecnologia Social’ e ‘Eco¬nomia Solidária’ de um curso de Engenharia.\n \nBoa leitura!\n \nProf. Clodoaldo Meneguello Cardoso\nDezembro de 2021. 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Abstract
Há uma sensação no ar de que vivemos tempos-limite.
A educação liberal, mesmo a de alto padrão científico e tecnológico, não eliminou a exclusão e a barbárie social, pelo contrário, alimentou-a. A voracidade insaciável da economia-política neoliberal corroeu a própria democracia social e mantém-nos presos à ciência moderna baconiana que vê a natureza como fonte de exploração a qualquer custo. Daí, a amplificação dos problemas sociais estruturais – o racismo, o patriarcalismo a pobreza, a fome, a violência – vem apontando, tempos-limite com a crise global sanitária, climática e hídrica.
Nesse quadro, impossível não lembrar Eric Hobsbawm em Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991, lançado em 1994. Lá, o historiador britânico não só sintetizou as catástrofes e crises daquele período, como já visualizava, no final do século, uma porta aberta para um futuro incerto. O futuro continua incerto; porém, hoje temos uma consciência maior das causas históricas dos grandes problemas socioambientais e indícios mais claros que, no tempo presente, vivemos uma crise paradigmática do modelo de civilização estruturado na modernidade ocidental do norte-global e hoje mundialmente hegemônico.
Aceitar a existência de crise paradigmática hoje é reconhecer a interdependência e a complexidade dos grandes problemas sociais, econômicos, políticos e culturais que ameaçam a humanidade. São de tal magnitude que não se pode resolvê-los separadamente e nem enfrentá-los com modelos culturais e tecnológicos da modernidade que criamos, pois são eles as causas desses grandes problemas.
Mas nem todos pensam assim. Para os ‘obrigatoriamente’ otimistas, encastelados no poder econômico, supera-se a crise da modernidade com mais modernidade. Ou seja, a modernidade pode resolver os problemas gerados por ela, com mais ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico. É preciso apenas um ajuste de rumo civilizatório. Se não puder salvar todos, salvam-se os que tiverem mérito para isso, mas tenta-se evitar o caos do ‘salve-se-quem-puder’.
Há também os ‘profetas do passado’ que veem a solução da crise da civilização moderna, na negação da própria modernidade em nome de valores pré-modernos sejam epistemológicos, sejam morais. Eles tentam manter, a todo custo, seu status quo, defendendo estruturas sociais já ultrapassadas pela modernidade. Foi assim, por exemplo, a ação do Santo Ofício que, em pleno Renascimento, impunha a visão teocêntrica a ferro-e-fogo, para manter o poder medieval da Igreja, abalado pelos novos tempos.
A história não para e, muito menos, volta ao passado; mesmo que a curto e médio prazo isso pareça possível. O tempo de crise paradigmática em que vivemos é para ser respeitado e refletido profundamente. É tempo de grandes aprendizagens, pois as mudanças históricas de paradigmas civilizatórios são muito abrangentes do que as ‘revoluções’ que ocorrem dentro de um mesmo paradigma, como apontou Thomas Kuhn em A estrutura das revoluções científicas (1962). Assim foram as transformações científicas no interior da modernidade, com Newton, Darwin e Freud.
Enfim, nesses tempos-limite, há ainda aqueles ‘realisticamente esperançosos’. Para eles – que acreditamos e lutamos por um outro mundo possível – os desafios são enormes, pois nestes tempos perdem-se muitos referenciais. Não temos mais o GPS do curso da história como tinham Marx e Comte, no século XIX. O século XX abalou todas nossas belas certezas modernas. Sabemos hoje muito mais do que não podemos continuar valorizando, do que do perfil da sociedade que precisamos construir.
A transição entre o paradigma medieval e o paradigma moderno demorou pelo menos trezentos anos. Todavia, talvez agora não tenhamos mais tanto o tempo como os modernos tiveram para construir um novo olhar sobre o universo, a natureza e a sociedade em nome de uma nova retórica de poder. Trata-se agora de sobrevivência urgente da humanidade. É isso que crise sanitária, climática e hídrica está gritando em nossos surdos ouvidos.
Essa é a luz que brilha no final do túnel de transição paradigmática: a vida e vida digna para todos sem exceção. E mais, a crise do paradigma da modernidade também nos mostra que a vida humana é parte ínfima e profundamente dependente da vida planetária. E depois que ela tiver passado, nada terá acontecido, já disse Nietzsche lá no século XIX.
Viver em tempo de transição paradigmática, acreditando na luta por uma outra sociedade, exige colocar, como primeiro valor, o direito humano à vida e essa, em equilíbrio com a vida planetária. A partir dessa certeza pode-se reconfigurar os valores da educação em direitos humanos. Assim, educar as novas gerações, cuja responsabilidade é construir a ponte para uma nova sociedade, exige cultivar certos valores, hoje fundamentais.
Um deles é a postura diante daquilo que chamamos de ‘verdade’. Aceitar a verdade científica moderna não mais como absoluta, não é negá-la ou falseá-la, mas colocá-la em diálogo com outros saberes para ampliar percepção da diversidade e complexidade da realidade socioambiental. Educar hoje exige a humildade da escuta e do aprender juntos na vivência e na reflexão, em lugar do discurso prepotente de quem crê ter a verdade única e absoluta, seja ela científica, política, ou religiosa. Estar aberto às novas possibilidades e aos novos olhares e nossa atual condição humana.
Há outras exigências nesses tempos-limite como: – ressignificar os conceitos de desenvolvimento, de consumo do necessário e do bem viver para todos, que na modernidade visavam especialmente o lucro, o supérfluo e o individualismo; – estimular a cidadania autônoma, ativa, crítica e coletiva; – desenvolver a sensibilidade e a empatia para a convivência nas diferenças sem os padrões culturais cristalizados; e – cultivar a indignação e a luta individual e coletiva contra as desigualdades sociais e todo tipo de opressão e autoritarismo.
Numa palavra, a moralidade humana tem como princípio ético a inclusão e não a seleção natural, que na modernidade ideologicamente chama-se de meritocracia. No novo paradigma a humanidade será para todos ou não será humanidade.
* * *
Trilhando esse caminho a Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos apresenta nesta edição o dossiê Educação em direitos humanos: resistência e transformação. Na seção de ‘artigos diversos’, mantemos o foco editorial de ‘interdisciplinaridade’, trazendo contribuições para pensar os direitos humanos como tema transversal em diferentes áreas do conhecimento acadêmico.
Filosofia. O texto de Ana Santana e Antônio Basílio traz “as reflexões político-filosóficas de Hannah Arendt, volvendo o olhar para a sua teia conceitual sobre a educação e os direitos humanos, a fim de detectar os fios constituintes, capazes de fundamentar os pilares universais”.
Direito. No ensaio A escravidão contemporânea no Brasil e a perda da propriedade privada, Pedro Greco e Ricardo Resende debruçam-se “sobre uma discussão do papel da legislação na erradicação da escravidão contemporânea”. O estudo nos mostra o “efeito emancipatório dos direitos hu¬manos na luta antiescravista com o objetivo de melhor vislumbrarmos alguns dos motivos pelo qual pouco prospera a pauta que prevê a perda da pro¬priedade privada em casos de escravidão contemporânea no Brasil”.
Educação. André Luiz, em Educação em direitos humanos: uma pauta premente na docência e na gestão escolar, relata e analisa uma experiência de formação continuada de docentes e coordenadores pedagógicos, suscitando “novos saberes na prática educativa em direitos humanos”.
Educomunicação. Educação em direitos humanos e letramento digital e o artigo de Mara Juliane e Matheus. Nele os autores apresentam as ações e análise dos resultados de uma proposta pedagógica desenvolvida “com discentes das três turmas de primeiros anos do ensino técnico integrado ao ensino médio”.
Comunicação: Nesta área temos duas contribuições. Na primeira, as autoras Fabiana de Melo e Maria Dalvi retomam a polêmica ocorrida nas redes sociais, em 2017, “atinente ao recolhimento, pelo Ministério da Educação do Brasil, em 2017, do livro Enquanto o sono não vem”. No artigo Polêmicas nas redes sociais, censura literária e silenciamentos sobre abuso sexual: um debate sobre direitos das crianças, “[...] a análise centra-se na questão dos direitos da infância, à luz do tensiona¬mento sobre a responsabilidade do Estado e da educação pública”.
Na segunda contribuição, João da Cruz apresenta um ensaio criativo e crítico para demonstrar, com detalhes, A pedagogia conservadora do cinema de animação. O filme Os Incríveis (Pixar, 2004) é o objeto do estudo.
Engenharia. Com A inserção dos direitos humanos nos cursos de engenharia, os autores Marcos Silvério, Gustavo dos Santos e Márcia de Oliveira fecham esta edição da RIDH, comentando, com dados quantitativos, uma experiência positiva de educação em direitos humanos pelas disciplinas ‘Tecnologia Social’ e ‘Eco¬nomia Solidária’ de um curso de Engenharia.
Boa leitura!
Prof. Clodoaldo Meneguello Cardoso
Dezembro de 2021.
空气中有一种感觉,我们生活在限时。自由教育,即使是高科学技术标准的教育,也没有消除排斥和社会野蛮,反而助长了排斥和社会野蛮。新自由主义经济政治的贪得无厌的贪婪腐蚀了社会民主本身,使我们陷入了现代培根式的科学中,这种科学将自然视为不惜一切代价的剥削来源。因此,结构性社会问题——种族主义、父权主义、贫穷、饥饿、暴力——的放大,与全球健康、气候和水危机的时间相一致。在这幅画中,我们不可能不记得埃里克·霍布斯鲍姆(Eric Hobsbawm) 1994年出版的《极端时代:短暂的二十世纪,1914-1991》(Era dos Extremos: the short century XX, 1914-1991)。在那里,这位英国历史学家不仅总结了那个时期的灾难和危机,而且在本世纪末,他已经看到了一扇通向不确定未来的大门。未来仍然不确定;然而,今天,我们对主要社会环境问题的历史原因有了更大的认识,并有更明确的迹象表明,我们目前正在经历一场文明模式的范式危机,这种模式是建立在西方现代性的全球北方和今天的全球霸权之上的。接受今天存在的范式危机,就是承认威胁人类的主要社会、经济、政治和文化问题的相互依存和复杂性。它们是如此之大,以至于我们不能单独解决它们,也不能用我们创造的现代文化和技术模式来解决它们,因为它们是这些重大问题的根源。但并不是每个人都这么认为。对于那些固守经济实力的乐观主义者来说,现代性的危机正在被更多的现代性所克服。也就是说,现代化可以通过更多的科学、技术和经济发展来解决它所产生的问题。我们只需要调整文明的方向。如果你不能拯救所有人,你会拯救那些有价值的人,但你会试图避免“谁能拯救谁就拯救谁”的混乱。也有“过去的先知”,他们看到了现代文明危机的解决方案,以前现代价值的名义否定现代性本身,无论是认识论的还是道德的。他们试图不惜一切代价维持现状,捍卫已经被现代性超越的社会结构。例如,神圣办公室的行动,在文艺复兴的鼎盛时期,强加了以神为中心的愿景,以维持被新时代动摇的中世纪教会的力量。历史不会停止,更不用说回到过去了;即使在短期和中期,这似乎是可能的。我们所处的范式危机时代必须得到尊重和深刻反思。正如托马斯·库恩在《科学革命的结构》(1962)中指出的那样,这是一个伟大学习的时代,因为文明范式的历史变化比发生在同一范式内的“革命”要广泛得多。这就是牛顿、达尔文和弗洛伊德在现代性内部的科学转变。最后,在这些时间限制中,仍然有“现实的希望”。对于我们这些相信并为另一个可能的世界而奋斗的人来说,挑战是巨大的,因为在这些时代,许多基准已经消失了。我们不再像19世纪的马克思和孔德那样对历史进程有GPS。20世纪动摇了我们所有美丽的现代确定性。今天,我们知道的比我们不能继续重视的东西多得多,比我们需要建立的社会形象多得多。从中世纪范式到现代范式的转变至少花了300年时间。然而,也许现在我们没有像现代人那样有那么多时间以一种新的权力修辞的名义,对宇宙、自然和社会建立一种新的看法。现在人类的生存岌岌可危。这就是健康、气候和水危机在我们耳边呼喊的。这是在范式过渡隧道的尽头闪耀的光:所有人的生命和有尊严的生命,没有例外。此外,现代性范式的危机也向我们表明,人类生命是地球生命的一个微小而深刻的依赖部分。在它过去之后,什么都不会发生,尼采在19世纪说过。生活在一个范式转变的时代,相信为另一个社会而斗争,要求把生命权作为第一价值,并与地球上的生命保持平衡。有了这种确定性,就有可能重新配置人权教育的价值。因此,教育有责任建立通往新社会的桥梁的新一代需要培养某些今天至关重要的价值观。其中之一是对我们所说的“真理”的态度。