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Abstract
Desde o período da Ditadura Civil-Militar no Brasil, quando as condições de cerceamento da liberdade de usar a palavra foram institucionalizadas, não se fala tanto em censura como nos últimos anos. Este é o objeto de análise deste texto – a censura -, que pode ser compreendida como um mecanismo político e ideológico que intervém na ordem do discurso, visando o controle de sentidos, seja pelo silenciamento, seja pelo evidenciamento (Moreira, 2007). A partir dessa noção e à luz da Análise do Discurso de vertente francesa e seus desdobramentos no Brasil (Pêcheux, 1988[1975]; Orlandi, 2004[1996]), a censura foi analisada em sua materialidade digital, admitindo-se as implicações que as relações entre sujeito, conhecimento e tecnologia trazem para a compreensão dos processos de significação e para a memória. Desse modo, as políticas que produzem (novas/outras) técnicas e saberes censórios no espaço digital foram analisadas enquanto condições de produção do discurso no Facebook. Essas condições de produção, em sentido estrito, e as condições de produção históricas e sociais – que apontam implicações para a relação linguagem e tecnologia – permitem-nos compreender um processo de constituição do sujeito - referido pelo Facebook por “você”, “usuário” e “pessoa” - e efeitos de sentido para censura. Assim, a análise do que vem sendo compreendido como censura no/pelo Facebook confirmou novos gestos materializados por discursividades como “remover”, “desabilitação”, nas condições de produção dispostas nos Termos e princípios do Facebook, e marcas como “bloquear”, “suspender”, “tirar do ar”, “exilar”, “impedir”, “calar”, um “conteúdo”, um “perfil”, “página”, “marca X”, “ele”. O resultado desta análise sobre a censura indica, ainda, um campo aberto de investigação acerca das práticas censórias reconfiguradas para/na materialidade digital em decorrência das mudanças nas relações sociais.