Janaine Voltolini de Oliveira, Maria João Leote de Carvalho
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Abstract
Nos últimos anos o Brasil registrou um aumento das mortes violentas intencionais por arma de fogo, tendo os jovens representado mais de metade destes óbitos. Ao mesmo tempo, o país dobrou o número de registros de armas de fogo e as importações de armas longas. A crescente vitimização do público infantojuvenil após 32 anos da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente mostra que garantir os direitos fundamentais, em especial à vida, ainda se apresenta como um enorme desafio para as políticas públicas, sobretudo quando combinado a um cenário de exclusão escolar e outros fatores como a ausência de oportunidades de lazer e inserção no mercado formal de trabalho, que, somados a outros, são determinantes da situação de vulnerabilidade social e contribuem para potencializar a violência. O objetivo deste artigo é discutir a cobertura da imprensa online sobre a violência letal contra crianças e adolescentes vítimas de balas perdidas no Brasil. Trata-se de um estudo exploratório, com enfoque qualitativo, elaborado a partir da coleta e análise de dados de 20 casos, publicados em 19 matérias jornalísticas disponíveis online sobre a mortandade do público infantojuvenil de 0 a 18 anos. Na análise de conteúdo dos fatos, constatou-se, que a cobertura da mídia sobre estes casos se concentra em divulgar, superficialmente, alguns dados dos crimes e outros fatos violentos relativos às ocorrências. Percebe-se que não há intenção em aprofundar a discussão do fenômeno social da violência, de compreender os problemas gerados pela insegurança pública ou mesmo aderir ao debate sobre políticas públicas. Este privilégio da ocorrência fortalece o sensacionalismo da notícia como estratégia de mercado, já que não se observa narrativas aprofundadas ou alguma preocupação direcionada a revelar os desfechos ou mesmo dar continuidade ao acompanhamento dos casos.