{"title":"Carta à cultura","authors":"Daniele Cristina Santos Leite, Dayane Jeniffer Silva Carvalho","doi":"10.51359/2763-7425.2022.255767","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Olá! Me chamo Dayane, sou natural de Caruaru, Pernambuco, um pedacinho de terra no agreste pernambucano conhecido como “A Capital do Forró” e que tem seu ápice cultural durante o mês de junho. Como cidadã caruaruense, o São João sempre foi uma data importante. Fazia questão de participar das quadrilhas juninas do meu colégio. Alugar vestido, sapato, tiara, faixa e preparar todos os detalhes para o momento da minha apresentação fazia parte dos gastos anuais da minha mãe. Desde do ensino médio, não dancei mais em quadrilhas e aquela paixão foi esfriando e se fixou como um marco de uma infância e adolescência. Após esse período, a dança continuou muito ligada a mim. Meu interesse nunca foi me profissionalizar nessa área. Mas, sempre foi deixar meu físico me guiar em uma zona que eu descobria a cada dia. E em 2022, eu buscava por um desafio físico e social. Em abril deste mesmo ano resolvi começar os ensaios e não esperava que uma mera vontade fosse se transformar em um dever. Os meus fins de semana foram tomados, meu dinheiro destinado à comprar maquiagens, figurino e pagar passagem entre uma cidade e outra. Foram incontáveis as vezes que eu tremia de tristeza e raiva, pensando no sufoco que eu estava me metendo. Porém, eu não conseguia sair. Nas apresentações há uma completa entrega, um envolvimento e um propósito que só quem compartilha do amor por uma quadrilha junina pode enxergar. A luta para manter essa tradição era diária, e coletiva. Conto hoje minhas agonias, mas ela não foi a única. Com mais de 50 pessoas envolvidas (entre dançarinos e apoio técnico), os problemas econômicos e pessoais também apareceram para elas. Uma vontade superior de fazer a cultura acontecer e ser expandida para outros locais podia ser enxergada no olhar de cada um. Incluindo no meu. Mais do que nunca, hoje sei o peso que é manter uma tradição cultural, sem apoio do governo e dependendo de um fio forte, porém estreito, chamado amor. E agora faço parte dessa Flor. Ela brotou e se enraizou no meu peito, mostrando que fazer arte é principalmente se deixar levar.","PeriodicalId":129493,"journal":{"name":"Revista Crises","volume":"10 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-10-27","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Crises","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.51359/2763-7425.2022.255767","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Olá! Me chamo Dayane, sou natural de Caruaru, Pernambuco, um pedacinho de terra no agreste pernambucano conhecido como “A Capital do Forró” e que tem seu ápice cultural durante o mês de junho. Como cidadã caruaruense, o São João sempre foi uma data importante. Fazia questão de participar das quadrilhas juninas do meu colégio. Alugar vestido, sapato, tiara, faixa e preparar todos os detalhes para o momento da minha apresentação fazia parte dos gastos anuais da minha mãe. Desde do ensino médio, não dancei mais em quadrilhas e aquela paixão foi esfriando e se fixou como um marco de uma infância e adolescência. Após esse período, a dança continuou muito ligada a mim. Meu interesse nunca foi me profissionalizar nessa área. Mas, sempre foi deixar meu físico me guiar em uma zona que eu descobria a cada dia. E em 2022, eu buscava por um desafio físico e social. Em abril deste mesmo ano resolvi começar os ensaios e não esperava que uma mera vontade fosse se transformar em um dever. Os meus fins de semana foram tomados, meu dinheiro destinado à comprar maquiagens, figurino e pagar passagem entre uma cidade e outra. Foram incontáveis as vezes que eu tremia de tristeza e raiva, pensando no sufoco que eu estava me metendo. Porém, eu não conseguia sair. Nas apresentações há uma completa entrega, um envolvimento e um propósito que só quem compartilha do amor por uma quadrilha junina pode enxergar. A luta para manter essa tradição era diária, e coletiva. Conto hoje minhas agonias, mas ela não foi a única. Com mais de 50 pessoas envolvidas (entre dançarinos e apoio técnico), os problemas econômicos e pessoais também apareceram para elas. Uma vontade superior de fazer a cultura acontecer e ser expandida para outros locais podia ser enxergada no olhar de cada um. Incluindo no meu. Mais do que nunca, hoje sei o peso que é manter uma tradição cultural, sem apoio do governo e dependendo de um fio forte, porém estreito, chamado amor. E agora faço parte dessa Flor. Ela brotou e se enraizou no meu peito, mostrando que fazer arte é principalmente se deixar levar.