{"title":"手语、手势和颜色","authors":"Gustavo de Godoy e Silva","doi":"10.20396/liames.v22i00.8667939","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"A língua de sinais ka'apor não tem nenhuma palavra que denote uma cor específica. Somando-se a esse fato, aparentemente curioso, há outro ainda mais revelador e ao que parece contraditório: há um sinal que designa a ideia genérica de cor. Isso não é tudo. O sinal cor é também usado na gesticulação que acompanha a língua ka'apor falada, a qual não apresenta um item lexical que designe o conceito de cor. Portanto, o ka'apor falado apresenta um gesto para a ideia genérica de cor e itens lexicais da fala que são termos para cores específicas. Partindo desses dados, retomo uma discussão geral sobre a semântica das cores específicas, argumentando que esse não é um domínio fundamental das línguas humanas (Wierzbicka 2008). Além disso, argumento que a modalidade gestual, embora seja um canal visual, é rebelde à referência de cores: as línguas de sinais, por isso, não se adequam à ideia de termos básicos para cores, tal como formulada por Berlin e Kay (1969). Cito aqui o caso da Libras, da língua de sinais do povo yolŋu e da língua de sinais de Top Hill. Por fim, observo que se a língua de sinais ka'apor ignora os termos específicos para cores, o pensamento mítico ka'apor, conhecido por surdos e ouvintes, conceptualiza o excesso de cores como algo maléfico – fato este já demonstrado pela análise comparativa de mitos (Lévi-Strauss 1964). O presente artigo é uma revisão e continuação do trabalho de Ferreira e Siqueira (1985) que compararam a língua de sinais do povo ka’apor com a Libras.","PeriodicalId":52952,"journal":{"name":"Liames","volume":"25 1","pages":""},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-08-30","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":"{\"title\":\"Língua de sinais, gestos e cores\",\"authors\":\"Gustavo de Godoy e Silva\",\"doi\":\"10.20396/liames.v22i00.8667939\",\"DOIUrl\":null,\"url\":null,\"abstract\":\"A língua de sinais ka'apor não tem nenhuma palavra que denote uma cor específica. Somando-se a esse fato, aparentemente curioso, há outro ainda mais revelador e ao que parece contraditório: há um sinal que designa a ideia genérica de cor. Isso não é tudo. O sinal cor é também usado na gesticulação que acompanha a língua ka'apor falada, a qual não apresenta um item lexical que designe o conceito de cor. Portanto, o ka'apor falado apresenta um gesto para a ideia genérica de cor e itens lexicais da fala que são termos para cores específicas. Partindo desses dados, retomo uma discussão geral sobre a semântica das cores específicas, argumentando que esse não é um domínio fundamental das línguas humanas (Wierzbicka 2008). Além disso, argumento que a modalidade gestual, embora seja um canal visual, é rebelde à referência de cores: as línguas de sinais, por isso, não se adequam à ideia de termos básicos para cores, tal como formulada por Berlin e Kay (1969). Cito aqui o caso da Libras, da língua de sinais do povo yolŋu e da língua de sinais de Top Hill. Por fim, observo que se a língua de sinais ka'apor ignora os termos específicos para cores, o pensamento mítico ka'apor, conhecido por surdos e ouvintes, conceptualiza o excesso de cores como algo maléfico – fato este já demonstrado pela análise comparativa de mitos (Lévi-Strauss 1964). O presente artigo é uma revisão e continuação do trabalho de Ferreira e Siqueira (1985) que compararam a língua de sinais do povo ka’apor com a Libras.\",\"PeriodicalId\":52952,\"journal\":{\"name\":\"Liames\",\"volume\":\"25 1\",\"pages\":\"\"},\"PeriodicalIF\":0.0000,\"publicationDate\":\"2022-08-30\",\"publicationTypes\":\"Journal Article\",\"fieldsOfStudy\":null,\"isOpenAccess\":false,\"openAccessPdf\":\"\",\"citationCount\":\"0\",\"resultStr\":null,\"platform\":\"Semanticscholar\",\"paperid\":null,\"PeriodicalName\":\"Liames\",\"FirstCategoryId\":\"1085\",\"ListUrlMain\":\"https://doi.org/10.20396/liames.v22i00.8667939\",\"RegionNum\":0,\"RegionCategory\":null,\"ArticlePicture\":[],\"TitleCN\":null,\"AbstractTextCN\":null,\"PMCID\":null,\"EPubDate\":\"\",\"PubModel\":\"\",\"JCR\":\"\",\"JCRName\":\"\",\"Score\":null,\"Total\":0}","platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Liames","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.20396/liames.v22i00.8667939","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
A língua de sinais ka'apor não tem nenhuma palavra que denote uma cor específica. Somando-se a esse fato, aparentemente curioso, há outro ainda mais revelador e ao que parece contraditório: há um sinal que designa a ideia genérica de cor. Isso não é tudo. O sinal cor é também usado na gesticulação que acompanha a língua ka'apor falada, a qual não apresenta um item lexical que designe o conceito de cor. Portanto, o ka'apor falado apresenta um gesto para a ideia genérica de cor e itens lexicais da fala que são termos para cores específicas. Partindo desses dados, retomo uma discussão geral sobre a semântica das cores específicas, argumentando que esse não é um domínio fundamental das línguas humanas (Wierzbicka 2008). Além disso, argumento que a modalidade gestual, embora seja um canal visual, é rebelde à referência de cores: as línguas de sinais, por isso, não se adequam à ideia de termos básicos para cores, tal como formulada por Berlin e Kay (1969). Cito aqui o caso da Libras, da língua de sinais do povo yolŋu e da língua de sinais de Top Hill. Por fim, observo que se a língua de sinais ka'apor ignora os termos específicos para cores, o pensamento mítico ka'apor, conhecido por surdos e ouvintes, conceptualiza o excesso de cores como algo maléfico – fato este já demonstrado pela análise comparativa de mitos (Lévi-Strauss 1964). O presente artigo é uma revisão e continuação do trabalho de Ferreira e Siqueira (1985) que compararam a língua de sinais do povo ka’apor com a Libras.