“SOU-ME”: FORMAS DO EU NA ENUNCIAÇÃO LITERÁRIA DO LIVRO DO DESASSOSSEGO

Este artigo pretende analisar a maneira como o enunciador do Livro do Desassossego mobiliza as formas de primeira pessoa em alguns dos fragmentos que compõem essa obra, escrita em prosa por Fernando Pessoa ao longo de duas décadas e atribuída ao semi-heterônimo Bernardo Soares. A base para a análise é a teoria da enunciação de Émile Benveniste e a leitura que o filósofo Dany-Robert Dufour faz dessa teoria, em suas reflexões sobre o dispositivo trinitário inerente às línguas naturais. Entre os resultados, pretende-se mostrar que, na obra analisada, a subjetividade deixa de ser somente uma condição subjacente à enunciação, para ser trazida à tona como objeto, passível de ser manejado na/pela enunciação literária.