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Dialética, subjetividades e história, ou uma leitura de A lata de lixo da história de Roberto Schwarz
Escrita no fim dos anos 1960, a peça A lata de lixo da história se insere num momento da maior importância da vida social brasileira e, igualmente, da de seu autor, Roberto Schwarz. Seu contexto de produção foi, do ponto de vista nacional, de acirramento repressivo da ditadura civil-militar brasileira e, do ponto de vista pessoal de Schwarz, de sedimentação de uma virada crítica bastante significativa. Nesse sentido, é interesse deste trabalho analisar a peça à luz das transformações pelas quais passava o país em articulação com uma certa sedimentação de derrota histórica da ideia de formação nacional que ia se afigurando ao jovem Roberto Schwarz. No centro de nossa análise está a noção de dialética, tão central ao ponto de vista materialista de Schwarz. A despeito de variados estudos que têm sido feitos a respeito de sua obra, pouco tem se discutido, a não ser em chave celebratória, sobre o modo como a dialética se opera em seu trabalho. Refiro-me, sobretudo, ao modo como a luta de classes em sua acepção brasileira é figurada pelo crítico, levando em conta, sobretudo, sua visão sobre a margem de arbítrio praticamente absoluto das elites brasileiras e uma noção algo estática das relações escravistas. A escolha pela peça se deu justamente porque ela cristaliza uma convivência de temporalidades contraditórias que revela um certo sentimento de época diante do que significava a ascensão dos militares ao poder em 1964, bem como elucida aspectos contraditórios da produção schwarziana pouco comentados em sua fortuna crítica.