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Averiguaremos, neste artigo, que os imaginários da tradição não só não desapareceram por completo no período primevo das navegações ultramarinas, como foram, em parte, responsáveis por novas projeções imaginárias e novos mitos gerados a partir de um olhar itinerante que se quer aparentemente racional, empírico e desmistificador. Para tanto, não abordaremos aqui nenhum registro de viagem em especial, apesar de utilizarmos alguns breves exemplos para fundamentar tal investigação, como os registros de viagem de Cristóvão Colombo e Álvaro Velho. O que se pretende mais precisamente neste artigo é, na esteira de Serge Gruzinski, Sérgio Buarque de Holanda, Janice Theodoro da Silva, entre outros intelectuais, explorar e compreender melhor a historiografia cultural recente que aborda o problema da transição do maravilhoso medieval para o momento prático-descritivo intensificado pelas navegações modernas, transição que deixa transparecer não só a busca de um sentido experiencial das viagens, mas também a relação do narrador viajante com o seu tempo e espaço, evidenciando as limitações empíricas do seu olhar. Por fim, analisaremos o olhar viajante do período ultramarino inicial como um olhar correspondente ao realismo complexo apresentado nos próprios registros de viagem, nos quais gradualmente se congregam as modalidades da retórica, da quantificação e da geografia aos imaginários da tradição.