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A proposta do artigo é construir uma breve análise arqueológica da noção da antropofagia modernista brasileira, baseada na metodologia de Michel Foucault. Parte-se da publicação do manifesto de Oswald de Andrade, em 1928, considerando sua ressignificação no tropicalismo no final dos anos 1960 até chegar ao contemporâneo. O percurso arqueológico do pensamento antropofágico no campo cultural brasileiro demonstra diferentes apropriações, por vezes servindo aos interesses do capital, na forma de uma subjetividade flexível acrítica, tal como apontada por Suely Rolnik. A crise contemporânea do antropoceno, agravada pela pandemia da covid 19, criou, entretanto, novas condições de escuta e visibilidade para o discurso indígena, fazendo ressignificar a figura do bárbaro tecnizado aludida por Oswald em seu manifesto. O espaço para as ontologias de matriz indígena ressoa uma brasilidade popular mestiça dos núcleos quilombolas, de formas de existência não domesticadas, que se colocam como resistência política, ainda que isso se dê sobre o recrudescimento da violência contra essas populações. Procuramos pensar a presença interdiscursiva da antropofagia nessas práticas e discursos de resistência, inclusive a partir dos erros passados.