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Demonstramos como a existencia de conflitos ambientais – ou seja, conflitos relacionados ao acesso, ao uso e a apropriacao material e simbolica do ambiente –, decorrentes da instalacao de grandes projetos, gera, por um lado, um processo de expropriacao de territorios e de alteracao negativa de modos de vida de quilombolas, comunidades tradicionais, agricultores e povos indigenas e, por outro, implicacoes diferenciadas para as mulheres. A sobrecarga de trabalhos domesticos e de cuidados com as familias em decorrencia do agravamento da saude, por causa dos projetos de desenvolvimento, a violacao e a exploracao dos corpos de mulheres e meninas, a negacao das mulheres como sujeitos politicos descortinada pelo fato de terem que lutar pelo direito de serem reconhecidas como “atingidas” e a apropriacao da tematica de genero pelas empresas envolvidas em tais projetos demonstram como as desigualdades de genero sao reforcadas por estes tipos de investimentos, bem como impoem a perspectiva universalizante, eurocentrica e individualista de “genero” nas comunidades. 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Mulheres atingidas por megaprojetos em tempos de pandemia: conflitos e resistências
O objetivo deste artigo e refletir sobre a logica de instalacao dos megaprojetos de desenvolvimento em diversas localidades brasileiras e os impactos que causam na vida de mulheres, levando em consideracao o que elas vem anunciando em diversas midias: “tudo isso ja existia. A pandemia da Covid-19 intensificou aquilo que ja sofriamos”. Essa reflexao e fundamentada nas experiencias “das mulheres”, observadas em pesquisas de campo realizadas nos territorios atingidos por megaprojetos e por meio de entrevistas semiestruturadas presenciais e virtuais com mulheres atingidas e mulheres que assessoram as populacoes atingidas, complementada pela participacao em lives sobre o tema na quarentena. Demonstramos como a existencia de conflitos ambientais – ou seja, conflitos relacionados ao acesso, ao uso e a apropriacao material e simbolica do ambiente –, decorrentes da instalacao de grandes projetos, gera, por um lado, um processo de expropriacao de territorios e de alteracao negativa de modos de vida de quilombolas, comunidades tradicionais, agricultores e povos indigenas e, por outro, implicacoes diferenciadas para as mulheres. A sobrecarga de trabalhos domesticos e de cuidados com as familias em decorrencia do agravamento da saude, por causa dos projetos de desenvolvimento, a violacao e a exploracao dos corpos de mulheres e meninas, a negacao das mulheres como sujeitos politicos descortinada pelo fato de terem que lutar pelo direito de serem reconhecidas como “atingidas” e a apropriacao da tematica de genero pelas empresas envolvidas em tais projetos demonstram como as desigualdades de genero sao reforcadas por estes tipos de investimentos, bem como impoem a perspectiva universalizante, eurocentrica e individualista de “genero” nas comunidades. Sao efeitos que, em decorrencia da pandemia, vem sendo intensificados e explicitados, ao mesmo tempo que combatidos por essas mulheres.