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O devir como criação: cronotopo em Cecília Meireles
A concepcao do tempo e a forma como este e instrumentalizado nao apenas corresponde a uma dada ordem social, como tambem paradoxalmente redefine a caminhada cultural de determinado periodo historico. De sorte que cada cultura (em cada periodo da historia) forjou sua concepcao acerca do tempo, e por esta foi reciprocamente influenciada. Em todo caso, a transitoriedade humana encontra no transcorrer do tempo sua fonte perene de perturbadora inadequacao. A consciencia da temporalidade (fabricada ou nao) arregimenta paradoxos indeleveis como vida e morte, imanencia e transcendencia. Na rede dialogica de sentidos da cultura humana, a esfera da arte tornou-se a testemunha e a inquiridora mais proficua das crises advindas da temporalidade. Neste artigo, esse tempo sempre em devir e identificado nao apenas como tematica literaria, mas tambem como a propria plataforma da criacao artistica. Essa proficua dinâmica do devir como criacao e exercida plena e visceralmente na obra da poeta Cecilia Meireles. Para trazer a lume essa realidade de temporalidades em devir na criacao ceciliana, elegeu-se a teoria dialogica de Bakhtin e do Circulo como esteira analitica, em especial o conceito bakhtiniano que cuida da relacao entre espaco-tempo: o cronotopo.